A lua não envelhece

Quarenta anos depois do lançamento do álbum 'Velô', Caetano Veloso e Ritchie regravam a bela 'Shy Moon'

Por Affonso Nunes

Ritchie e Caetano Veloso em estúdio durante a gravação da faixa

Belas canções não envelhecem. Que o digam Caetano Veloso e Ritchie que se reencontram para gravar uma nova versão de "Shy Moon", canção do baiano lançada originalmente no álbum "Velô" (1984). Gravado no Studio Garage, em São Paulo, o single revisita o dueto que Caetano e Ritchie gravaram há exatos 40 anos e ganhou videoclipe com imagens dos bastidores do reencontro.

A primeira gravação de "Shy Moon" aconteceu por iniciativa de Caetano, após um encontro casual entre os dois em um camarim de São Paulo. "Caetano inovou ao rodar o país com o show 'Velô' antes mesmo de gravar o disco. Fiquei encantado com a música que ele cantou em inglês e fui até lá dizer o quanto tinha adorado aquela canção misteriosa sobre a Lua. Ele respondeu que talvez não a incluísse no álbum, mencionando certa incerteza quanto à letra, escrita em inglês. Para mim, soava como uma canção de ninar e, ao mesmo tempo, uma espécie de invocação pagã. Brinquei que, se ele não gravasse, eu adoraria fazê-lo. Ele riu e a conversa ficou por isso mesmo", rebobina Ritchie.

Meses depois, o convite inesperado: no meio da madrugada, Caetano ligou do estúdio e perguntou: "Que tal gravarmos juntos aquela música que você gostou?". Ritchie não hesitou: "Vindo do meu ídolo, não é um convite, é uma ordem!".

A origem da canção remonta a Salvador, como o próprio Caetano relembra: "Compus em um bar no Rio Vermelho. Olhei para a Lua e me veio a expressão 'shy moon', lua tímida. Quando cheguei ao Rio para gravar, já queria chamar o Ritchie porque, sendo inglês, ele cantaria no seu idioma nativo. Ele veio, gravou comigo e foi espetacular!".

Quatro décadas depois, Caetano se surpreendeu ao ouvir Ritchie interpretar "Shy Moon" durante um evento em sua homenagem. "Foi a melhor coisa que vi naquela noite e em muitas outras. Muito profissional, muito lindo", elogia.

Agora, os papéis se inverteram. "Caetano elogiou minha performance e, como o arranjo vinha sendo bem recebido nos meus shows, tive coragem de convidá-lo para regravarmos o dueto em comemoração aos 40 anos da canção. Para minha felicidade, ele aceitou na hora. Estou nas nuvens com o resultado!", celebra Ritchie que, a exemplo da versão original, executa um tocante solo de flauta na faixa. Nesse céu de gentilezas, Caetano devolve: "Cantar com Ritchie de novo, depois de ouvi-lo interpretar 'Shy Moon', é uma emoção intensa e bonita".