A mochila cheia de supresas do Mocofaia
Trio lança seu excelente álbum de estreia com apresentação nesta quarta no palco do Manouche
Formado por Luizinho do Jêje, Marcelo Galter e Sylvio Fraga, o trio Mocofaia lança seu primeiro álbum, homônimo, com um show no Manouche nesta quarta-feira (12). "Mocofaia é como uma mochila cheia de surpresas: sapato, computador, escova de dente, chave de fenda, tudo junto e misturado", define Fraga, traduzindo com bom humor a fusão de estilos e personalidades que marca o trio.
A proposta reúne dois músicos baianos de trajetória inventiva - Luizinho do Jêje, percussionista e líder do Aguidavi do Jêje, e Marcelo Galter, pianista, compositor e produtor musical - ao lado do carioca Sylvio Fraga, compositor, poeta e diretor artístico da gravadora Rocinante.
Diferente de outros projetos, o Mocofaia privilegia a criação coletiva em todas as etapas, dos arranjos às letras. Este trabalho de excelência mergulha em camadas do groove, explorando timbres variados de percussão, teclados, sintetizadores e violão, criando uma experiência sonora envolvente, com originalidade e profundidade melódica.
"Nossas composições nascem de todos nós, têm um pé na raiz e um tom muito próprio", explica Luizinho do Jêje. Essa essência se reflete na construção conjunta de cada faixa, onde as influências individuais se harmonizam em uma sonoridade vibrante e singular. O álbum de estreia, lançado pela Rocinante, equilibra tradição e modernidade.
O repertório do show inclui faixas como "Galo no Muro", "História do Quintal", "Mar de Pipoca" e "Ogum Mariô", compostas quando Jêje e Galter se hospedaram na casa de Fraga, no Rio. Outra faixa de destaque do trabalho é "Mestre Besouro Mangangá", que surge como uma "suíte" inspirada nos múltiplos significados da palavra "manga". Já "Vim pra Bahia" - lançada previamente como single - nasce da percussão de Luizinho, evocando as tradições da nação Jêje em diálogo com a clave híbrida do violão de Fraga e os teclados de Galter.
A nação Jêje é uma vertente do candomblé de origem africana, ligada aos povos Ewe-Fon, do Benim e Togo. Focada no culto aos Voduns, suas práticas incluem cânticos em língua ewe-fon e o uso de instrumentos percussivos como o atabaque. Presente principalmente na Bahia, a tradição Jêje se distingue por sua forte base rítmica e espiritualidade. No contexto musical do Mocofaia, ela influencia a percussão e o groove das composições.