Por: André Barcinski (Folhapress)

Ian Astbury: 'Somos só quatro caras no palco, destruindo tudo'

Ian Astbury, vocalista do The Cult: banda britânica tem três apresentações no Brasil na turnê de 40 anos | Foto: Reprodução

"Somos só quatro caras no palco, destruindo tudo. Não há efeitos ou grandes produções, só nós e a nossa música", diz o cantor Ian Astbury, líder do The Cult, a banda britânica que vem ao Brasil para shows no Rio neste sábado (22), São Paulo (23) e Curitiba (25). A turnê se chama "85-25", mas Astbury rechaça qualquer tentativa de fazer dela uma celebração nostálgica: "Não estamos revisitando o passado, mas mostrando como estamos hoje. Lançamos um disco em 2022. Nossos shows refletem toda a trajetória de 40 anos da banda".

The Cult tem uma história curiosa. A banda surge em Bradford, na Inglaterra, em 1983, com o nome de Death Cult - Astbury teve uma banda anterior, chamada Southern Death Cult -, no meio da onda pós-punk de nomes como Echo and the Bunnymen, Siouxsie and the Banshees e Gang of Four. À época, a Death Cult tinha uma pegada gótica e dividiu palcos com bandas como Bauhaus e Birthday Party.

Astbury é inglês, mas mudou com a família aos 11 anos para o Canadá, onde ficou por cinco anos. A família morava a 50 quilômetros da fronteira com os Estados Unidos, e o jovem Ian foi impactado por programas de rádio e TV americanos que o apresentaram à então nascente onda do punk rock: "Lembro ligar a TV e ver o New York Dolls tocando, aquilo foi um choque".

Em 1977, aos 15 anos, Astbury foi passar férias com familiares em Londres e caiu de cabeça na cena punk britânica: "Aquilo era uma loucura, havia shows todo dia de bandas como Stranglers e The Damned. Eu vi o Clash ao vivo e foi muito marcante", lembra. A família Astbury voltou definitivamente ao Reino Unido por volta de 1979, quando a mãe de Ian, então sofrendo com um câncer, pediu para morrer em sua terra natal, a Escócia.

Em Glasgow, Ian tornou-se figura carimbada na cena local de rock alternativo. "Eu ia a shows todo dia. Era muito barato para entrar, coisa de uma libra, e a quantidade de grandes bandas era impressionante", recorda o músico.

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'A mudança em nosso som não foi planejada, mas resultado de diferentes influências musicais e artísticas'

A turnê de 40 anos do The Cult está passando por vários países. No Brasil, a banda visitará três capitais: Rio, São Paulo e Curitiba | Foto: Divulgação

Já com o nome The Cult e contando com o guitarrista Billy Duffy, Astbury lançou "Dreamtime", disco de estreia do The Cult, em 1984. Mas foi o LP seguinte, "Love", de 1985, que estourou a banda, com hits como "She Sells Sanctuary", "Rain" e "Revolution". O disco marcou uma guinada no som da banda, incorporando elementos de hard rock e psicodelia. O som do Cult agradou em cheio às rádios de rock nos Estados Unidos, colaborando para a popularidade da banda no país.

"Havia uma regra no punk de que você não deveria ouvir bandas dos anos 1960. Não se ouvia Led Zeppelin, Pink Floyd, Love ou Hendrix. A música da contracultura era desprezada. Por um bom tempo, eu me recusei a ouvir The Doors, e foi só quando assisti a 'Apocalypse Now' [o filme de Francis Ford Coppola de 1979, que tem na trilha sonora 'The End', do Doors] que passei a me interessar por Jim Morrison. Com ele eu comecei a pesquisar as influências do Doors, como o esoterismo, filosofias orientais, a literatura de Rimbaud e Baudelaire, e isso abriu minha cabeça".

Depois de "Love", The Cult concentrou esforços de divulgação nos Estados Unidos e trabalhoo com produtores locais ligados ao som pesado, como Rick Rubin, com quem a banda gravou "Electric", de 1987, dos hits "Love Removal Machine" e "Lil' Devil". Depois, usou o produtor Bob Rock nas gravações de "Sonic Temple", disco que rendeu grandes sucessos de rádio como "Fire Woman" e "Edie (Ciao Baby)".

"A mudança em nosso som não foi planejada, mas resultado de diferentes influências musicais e artísticas que passamos a ter. Sou uma pessoa curiosa e atenta. Gosto de arte, de música, de literatura, de moda, não vivo preso a nenhuma época ou convenção. Nossa música é quem somos naquele período".

Além das rádios rock, quem também caiu de amores pela banda foi a MTV, que não parava de passar os seus clipes. "Mas depois percebi o que eles estavam fazendo, uma espécie de apartheid musical, segmentando artistas por gênero. Venho de uma época em que boa música era boa música. Tudo era música e ouvíamos de tudo."

Sobre os shows no Brasil, Astbury se diz ansioso. "Podem se preparar, porque The Cult em 2025 está simplesmente arrasador", avisa.

SERVIÇO

THE CULT | 40TH ANNIVERSARY TOUR

Vivo Rio (av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo) | 22/2, às 21h

Ingressos entre R$ 600 a R$ 1 mil