Dos palcos para o estúdio, um Tom Zé revisitado

Jovens músicos paulistas Luan Carbonari e Gabriel Rojas gravam álbum dedicado ao repertório atemporal do compositor baiano, um dos pilares da Tropicália

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Luan Carbonari e Gabriel Rojas com Ana Beatriz nos bastidores da gravação do álbum no estúdio da Biscoito Fino

Por Affonso Nunes

Baiano de Irará, o cantor e compositor Tom Zé pode ser considerado o último dos tropicalistas. Surgiu para a cena musical brasileira ao lado dos conterrâneos Caetano Veloso, Gal Costa (1945-2022), Gilberto Gil e Wally Salomão (1943-2003); do letrista piauense Torquato Neto (1944-1972) e dos paulistas do trio Mutantes. Do alto de seus 88 anos e de uma extensa discografia, o artista é conhecido por estar em constante renovação. Por isso mesmo não lhe faltam homenagens das novas gerações. Em "Uma Canção para Tom Zé", pérolas do repertório do compositor são revisitadas pela dupla formada por Gabriel Rojas (voz e piano) e Luan Carbonari (voz e violão), dois jovens e virtuosos multi-instrumentistas de São Paulo.

Idealizado, produzido, roteirizado e dirigido pela atriz Ana Beatriz Nogueira, o espetáculo que ilumina o cancioneiro de Tom Zé estreou em março de 2023, no Rio, e chega às plataformas de música no formato de álbum digital via Biscoito Fino.

O álbum reproduz o repertório do show, nas mesmas versões acústicas, cheias de personalidade e nada óbvias, como planejava Ana Beatriz Nogueira. "Há anos eu tenho vontade de fazer algo para o Tom Zé. Uma expressão artística para demonstrar a minha imensa admiração por ele, pelo compositor que ele é. Eu sou atriz, não sou compositora: fiz 'Uma canção para o Tom Zé' mesmo sem ser esse o meu ofício. Sendo atriz, a música está no meu trabalho, amo música. Dirigi "Pelo Sabor do Gesto", da Zélia Duncan, "Extravios", de Leila Pinheiro, que eu também roteirizei e produzi. Já dirigi jovens, adoro conhecer jovens músicos, jovens atores, jovens artistas. Adoro unir as pontas desse barbante, todo o caminho que une uma coisa à outra", conta a atriz.

E Ana Beatriz Nogueira conheceu Gabriel Rojas e Luan Carbonari assistindo a vários vídeos: "Vi os meninos na internet e imaginei que seria muito bonito os dois cantarem para gerações que talvez não tenham tanto contato com o tesouro que é a existência do Tom Zé. Algo mais acústico, onde melodia e letra pudessem ser escutadas com calma, para quem não conhece, através de dois jovens", pontua.

Já Gabriel e Luan se conheceram ainda crianças, no conservatório de música da família de Luan, em Botucatu, interior de São Paulo. "Publicamos vídeos individuais e também alguns juntos: Luan tocando guitarra e cantando, eu tocando piano e cantando. Por conta disso, a Ana Beatriz acabou nos conhecendo e gostou do meu trabalho e do trabalho do Luan", reforça Gabriel Rojas.

O próximo passo para Ana Beatriz foi trazer Luan e Gabriel ao Rio para vários ensaios do show que estrearia no Clube Manouche. A atriz já tinha uma seleção de canções para o espetáculo, como lembra Luan Carbonari: "Com base na lista que ela nos trouxe, a gente fez também o nosso trabalho de pesquisa. A Ana super aceitou as ideias que a gente trouxe, então, fomos decidindo em conjunto quais entrariam e quais ficariam de fora do repertório. Foi nesse trabalho de pesquisa para o show que a gente realmente mergulhou na obra e na cabeça do Tom Zé. E foi um processo muito prazeroso, muito enriquecedor para a gente".

A estreia, em março do ano passado, contou com a presença do homenageado: "Trouxe o Tom Zé e a Neuza Martins para assistirem, porque "Uma canção para o Tom Zé" sem ele, perderia toda a graça.", conta Ana Beatriz. Na plateia daquela noite especial, a produtora e empresária Ana Basbaum gostou tanto do que ouviu, que sugeriu à gravadora Biscoito Fino fazer um registro em estúdio do projeto.

O álbum foi gravado em apenas 2 dias, com o mesmo repertório do show e direção artística de Ana Beatriz Nogueira. A capa do álbum, assinada por Alexandre Castro, se inspira nas capas icônicas criadas pelo designer e ilustrador César Villela para os discos da gravadora Elenco, nos anos 1960. No repertório, 12 canções do compositor baiano, entre elas "Se", "Clarice", "Tô", "Morena" e "Silêncio de Nós Dois".

"Agora, eu estou fazendo uma outra 'Canção para o Tom Zé, através do álbum gravado pela Biscoito Fino, que, para mim, só faz coisas especialíssimas e de altíssima qualidade. É lindo tudo isso estar acontecendo. E é a realização de um sonho meu para Tom Zé, por Tom Zé, por causa do Tom Zé", destaca Ana Beatriz Nogueira.