Por: Affonso Nunes

Pagodeando com a Mart'nália

Mart'nália durante a gravação de seu mais novo trabalho, o álbum 'Pagode da Mart'nália' | Foto: Sony Music Brasil/Divulgação

Com a chegada de 2025 as casas de shows cariocas abrem suas novas temporadas. No Circo Voador ela ganha o nome de Verão no Circo e nos últimos 14 anos foi aberta com shows de Mart'nália. Este ano será diferente? Nãããooo!!! A cantora e compositora chega na lona da Lapa com o show de lançamento de seu mais novo disco, "Pagode da Mart'nália", nesta sexta e sábado, às 22h.

O nome já entrega tudo. Ao revisitar clássicos dos anos 90 que fizeram (e fazem) todo mundo cantar e dançar até se acabar, a cantora homenageia toda uma geração que fez história antes da virada do século. "O pagode dos anos 1990 fez um sucesso enorme em todo o Brasil e ajudou muitos músicos a mudarem suas vidas, a se encontrarem pessoal e artisticamente. Foi bem importante ver esse crescimento nas festas, indo para todos os cantos e misturando gente de todas as idades", comenta Mart'nália.

"O que estou fazendo nesse novo trabalho é reverenciar esses grupos e compositores, pois eles ajudaram a criar uma conexão maior do público com o samba, que ainda era marginalizado naquele período. Fazer essa releitura e juntar a cadência do meu samba a essas canções contribui muito para minha própria liberdade no cantar. Esse repertório marcou muito a memória afetiva das pessoas no passado e agora pode conectar ainda mais as novas gerações ao universo do samba", explica.

A conexão parece mais do que garantida com um repertório que inclui sucessos como "Coração Radiante", "Cheia de Manias" e "Essa Tal Liberdade", só pra citar algumas. E deixar a noite ainda mais especial, sucessos na voz da cantora como "Cabide", "Pra Que Chorar"e "Água de Chuva no Mar" chegam junto.

Sonho que virou projeto

A ideia de se debruçar especificamente sobre esse repertório surgiu de um sonho. Empresária de Mart'nália há 25 anos, Marcia Alvarez acordou no meio da noite com a imagem e o som de sua artista cantando os versos de "Recado à minha Amada", do Katinguelê: "Lua vai / Iluminar os pensamentos dela / Fala pra ela que sem ela eu não vivo / Viver sem ela é o meu pior castigo". "Mas ela não conseguia deslanchar com a música. Aí eu dizia: 'Vamos para Vila Isabel, lá você vai achar o caminho'", lembra a empresária. "Chamei o Marcus Preto para me ajudar a focar o projeto nos anos 1990 mesmo, pesquisei um repertório que eu sabia que se encaixaria no tipo de discurso que Mart'nália gosta de cantar e fomos indo", recorda Márcia.

Produtor por trás de álbuns lançados por Gal Costa, Erasmo Carlos e Nando Reis, entre outros, Marcus Preto se entusiasmou com a possibilidade de ver esse repertório renovado pela voz e pela identidade tão marcantes de Mart'nália. "Quando Marcinha fez o convite, eu aceitei na hora. Tinha maratonado o 'Mano a Mano' [podcast de Mano Brown] e só ali eu me dei conta da real dimensão dessa geração do pagode para uma parcela gigante de artistas, muita gente começou a história na música ouvindo esses caras", diz Preto. "Visionária, Alcione cantou essa bola lá atrás, ainda nos anos 1990, e gravou um álbum com esses compositores no calor da hora. Mas nada mais foi feito nas dimensões que esse repertório merece. E Mart'nália seria a voz perfeita para isso".

O trabalho do pianista e produtor musical Luiz Otávio foi levar os arranjos para Vila Isabel, berço do samba de Noel Rosa, Martinho da Vila e, consequentemente, da própria Mart'nália. Com sua extensa bagagem de jazz, soul e black music - além do próprio samba - e conhecendo profundamente o universo de Mart'nália, o músico, que é o tecladista da banda da cantora, foi buscando o equilíbrio. "Foi desafiador e gratificante ao mesmo tempo repaginar algumas das canções que são verdadeiros clássicos do pagode e que marcaram a história de tanta gente, inclusive a minha", diz Luiz Otávio. "Mart'nália é uma artista com uma voz e uma sonoridade ímpar, por isso a ideia era trazer essas canções para o estilo dela de pensar a música, misturando ritmos e propondo novos caminhos sonoros".

E pra abrir essas duas noites que já nasceram clássicas, a cantora convidou uma turma de peso. Na sexta, a dupla carioca Yoún, formada por Shuna e GP, mostra no palco do Circo as músicas do ótimo disco "Unicórnio", em que une diferentes sonoridades, como R&B, jazz, soul, trap e ritmos urbanos brasileiros. No sábado é a vez de Bela Ciavatta mostrar sua música, que traz a energia da rua e a mistura de ritmos, como ijexás, afrobeats e jongos, trazendo uma poética marcada por suas vivências.

SERVIÇO

PAGODE DA MART'NÁLIA

Circo Voador (Rua dos Arcos, s/nº - Lapa)

3 e 4/1, a partir das 20h (abertura dos portões)

Ingressos entre R$ 70 e R$ 180