João Fênix surgiu na cena musical brasileira com seu timbre de contralto capaz de alcançar tons masculino e femininos com enorme desenvoltura. Comparações com Ney Matogrosso tornaram-se inevitáveis, sobretudo a partir de "Minha Boca Não Tem Nome" (2018), seu terceiro álbum. Nesta quarta-feira (8), o artista pernambucano volta ao palco do Manouche com o show “Tempo Rei”, fruto de um disco de duetos com grandes intérpretes da MPB que vem gravando há dois anos com o repertório lançado gradualmente na forma de singles nas plataformas digitais. Um desses parceiros de gravação é justamente Ney que faz uma participação especial na apresentação de João.
O dueto com Ney Matogrosso em “Nada Mais” (“Lately”, de Stevie Wonder em versão de Ronaldo Dubas) foi lançado no ano passado e agora estará ao vivo e a cores pela primeira vez nas vozes dos dois cantores. Gal Costa já gravou e cantou essa canção e a ideia de homenageá-la partiu de Ney.
“O espetáculo é, digamos, a primeira coroação de um disco de duetos com expoentes da MPB que venho gravando há dois anos e cujo repertório eu tenho lançado na forma de singles em todas as plataformas de streaming”, explica Fênix. Ele já mostrou em março, quando estreou este show no Manouche, a música em que dividiu os vocais com a Filipe Catto, “O Vento”, única e lírica parceria entre Djavan e Ronaldo Bastos (e cuja gravação da dupla é o mais recente dueto lançado nas plataformas).
O título do show vem da canção homônima de Gilberto Gil, que estará no show, e, segundo Fênix, é a melhor síntese do que ele deseja dizer agora sobre si mesmo e sobre o mundo após a pausa que deu dos palcos. “Nada existe fora do tempo como o percebemos. E é este tempo que nos tira muita coisa essencial, mas também nos traz a cura para as perdas; o show todo é sobre isto”, comenta o cantor que lapidou sua rara voz em aulas de canto lírico no Conservatório Pernambucano de Música, no início de sua jornada artística.
“Tempo rei” tem roteiro e direção cênica assinados por Jean Wyllys, amigo de muitos anos de Fênix e que já o dirigiu em “Ciranda do Mundo”. “Jean é um intelectual de muitos talentos. Escreve. Desenha. Pinta. É ativista. Mas antes de tudo ele ama a MPB e gosta de meu trabalho. Não haveria outra pessoa com maior intimidade para me ajudar a dizer o que quero dizer com ‘Tempo rei’”, explica.
A direção musical é do maestro Jaime Além, arranjador e músico nos duetos já lançados nas plataformas, que estará acompanhando Fênix no palco, assim como na participação de Ney Matogrosso. “Meu casamento artístico com Jaime é antigo. O maestro sabe dar forma musical à minha criatividade e à minha dor”, conta Fênix. Almir França, outro parceiro antigo, assina seus figurinos marcantes. “Almir sabe traduzir em roupa e acessórios as histórias musicais que eu gosto de contar”, diz o cantor, conhecido por seu estilo andrógino.
Fênix já gravou singles desse projeto com Moreno Veloso, Zé Renato, Ney Matogrosso, Moysés Marques e Almério, além de Cida Moreira e Filipe Catto, e já programa o lançamento de mais três duetos que faltam para completar seu álbum. Os singles com Juliana Linhares e Gottsha já foram gravados e o com Geraldo Azevedo será registrado em breve.
SERVIÇO
JOÃO FÊNIX - TEMPO REI (com participação de Ney Matogrosso)
Manouche (Rua Jardim Botânico, 983, subsolo da Casa Camolese)
8/5, às 20h30
Ingressos esgotados