Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Fazer música é inventar', diz Ron Mael, do Sparks

Os irmãos Ron e Russe Mael formam o The Sparks | Foto: Divulgação

Selecionado para Cannes fora de concurso a ser exibido na 77ª edição do festival francês agendado para maio, "C'est pas moi", de Leos Carax, terá trechos em que o ensaísta das telas trabalhou com uma grife musical dos anos 1970: o duo Sparks cuja canção "So May We Start" viralizou na web.

O termo "a mais britânica das bandas da Califórnia" classifica os irmãos Ron (teclados) e Russell Mael (vocal). "Tivemos a sorte de fazer parceria com um tipo bem original de diretor que é capaz de pesquisar novos veios narrativos a partir de um mundo muito particular", disse Ron via Zoom numa conversa que coincidiu com a estreia do documentário "The Sparks Brothers", dirigido por Edgar Wright ("Em Ritmo de Fuga") na Netflix.

O filme se constrói a partir da trajetória da dupla em videoclipes lendários como "This Town Ain't Big Enough For Both Of Us" e "When Do I Get To Sing 'My Way'".

"Temos nosso estilo, nossos meios e nossa busca. Não vamos por modismos, vamos por inquietudes. A pergunta que a gente sempre fez desde que começamos, ali pelo fim dos anos 1960, é a mesma que artistas como Carax se fazem: como sobreviver seguindo a trilha que escolhemos? Nossa resposta está em nossas músicas", diz Rusell. "As novas mídias digitais nos deram novos veios de pesquisa, de criação".

Ele e seu mano embalam "Annette, uma história de amor cheia de som e de fúria entre a cantora de ópera Ann Defrasnoux (Marion Cotillard) e o dínamo da comédia stand-up Henry McHenry (Adam Driver), cuja paixão vai esbarrar em ciumeria profissional, na obsessão de um maestro (Simon Helberg) e na chegada de um exótico bebê que dá título ao filme. É possível ver o filme no menu da plataforma MUBI, no www.mubi.com.

"Leos ama música e faz dela algo essencial para as sequências que ele roda. Vocês, no Brasil, têm uma musicalidade incrível, que me faz lembrar nos solos de sax com que as pessoas tocam 'Garota de Ipanema', de Tom Jobim. Mas eu sinto que a base do nosso trabalho, assim como o de Carax, vem do desejo de nos mantermos provocativos, trepidantes", diz Russell, que mantém uma voz finíssima, capaz de agudos que encantaram os timbres do rock desde o sucesso de vendas de "Kimono My House" (1974).

Ali, ele e Ron improvisavam as notas mais inusitadas nas canções "Amateur Hour" e "Falling in Love with Myself Again". "Influenciamos pessoas a cantar, tocar e compor com liberdade", diz Ron. "Fazer música é inventar".