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Um tributo soberano ao maestro

Integrante da banda de Paulinho da Viola, Adriano Souza mergulha com profundidade nas sutilezas da obra jobiniana em seu álbum solo | Foto: Nando Chagas/Divulgação

Inspiração para músicos e arranjadores no mundo todo, Tom Jobim (1927-1994) permanece vivo na produção musical dos dias de hoje. Em memória aos 30 anos de seu falecimento, o pianista Adriano Souza celebra a sua genialidade e importância em seu novo álbum "Adriano Souza plays Jobim", que chega às plataformas digitais no próximo dia 26, além de também ganhar formato físico em CD. O Correio ouviu o álbum com exclusividade.

Antecipado pelo lançamento de dois singles, "Lamento do Morro" e "Olha Maria", o trabalho foi produzido em parceria com a casa de espetáculos Soberano, em Itaipava, onde acontecerá o show de lançamento, no dia 11 de maio, com participação especial de Dori Caymmi.

Integrante da banda de Paulinho da Viola e do quarteto do saxofonista Mauro Senise, além de se apresentar regularmente com Roberto Menescal, com quem trabalha há 20 anos, Adriano Souza contou com a luxuosa participação, no novo álbum, do baterista Rafael Barata e do contrabaixista Guto Wirtti.

Em "Adriano Souza plays Jobim", o pianista reuniu oito músicas do maestro, tendo o piano como protagonista em meio a diferentes formações, desde a clássica formação jazzística de trio (piano, baixo e bateria) a outras como: piano solo, piano e percussão, piano e sopros, além da inserção de outros instrumentos de teclado como o órgão Hammond e o piano elétrico Fender Rhodes.

No repertório, alguns temas conhecidos e outros não tão explorados na música instrumental. Evidencia-se o encontro do Tom mais "clássico", presente em músicas como "Modinha", "Estrada Branca" e "Olha Maria" - dando ênfase à riqueza melódico-harmônica - com o Tom do samba e das harmonias mais simples, sobressaindo mais o aspecto rítmico, como em "Lamento no Morro" e "Captain Bacardi". "Suas melodias e harmonias são de uma riqueza imensurável e oferecem muitas possibilidades para arranjos e improvisos", destaca Souza.

O álbum se inicia com "Estrada Branca", uma parceria com Vinicius de Moraes, pouco tocada e gravada nas formações instrumentais. Mesmo no repertório de intérpretes vocais, não costuma estar muito presente - aliás, sua primeira gravação foi com Elizeth Cardoso, no antológico disco "Canção do amor demais", todo com músicas da dupla Tom e Vinicius. No novo álbum, Adriano Souza propõe um arranjo inspirado na clássica formação de trio (piano, baixo e bateria), mais especificamente nos trios do pianista americano Bill Evans, com a exposição do tema em andamento mais lento, sem bateria, porém com levada de jazz em andamento médio no improviso.

Em "Chora coração", uma das obras jobinianas originadas de trilhas de filmes (que mais tarde ganhou letra de Vinicius) e gravada por ele em seu último álbum, o novo arranjo é de piano solo, quase como se fosse uma grande introdução para a faixa seguinte, "Caminhos Cruzados". Composição em parceria com Newton Mendonça - único parceiro do Tom que também era pianista - a música, aqui, é gravada em trio piano, baixo e bateria, com influência do jazz europeu, uma mistura de balada jazz e bossa nova.

Parceria com Chico Buarque, "Piano na Mangueira" ganha uma versão de piano e percussão (surdo, tamborim, cuíca e pandeiro), instrumentos característicos do samba, numa homenagem a esse ritmo tão marcante da nossa cultura. Na bossa nova, tão associada a Jobim, não é comum o uso desses instrumentos de percussão. "O objetivo foi unir esses dois universos, a partir de uma canção que, originalmente, é uma homenagem à Escola de Samba Mangueira", afirma Adriano.

Gravada por Elis no icônico disco "Elis e Tom", "Modinha" ganha um novo arranjo, explorando texturas com influência da música erudita. Além do piano, a faixa traz um naipe de sopros (Clarone, flauta baixo, flauta e flugelhorn) com arranjo de Edu Neves. O início da parceria Tom e Vinícius é lembrado em "Lamento no Morro", agora com arranjo explorando o aspecto rítmico, com bateria, percussão (congas e frigideira) e um ostinato rítmico no grave feito por um órgão Hammond. Além do Hammond, foram usados mais dois instrumentos de teclado: o piano acústico e o piano elétrico Fender Rhodes.

Em versão de trio (piano, baixo e bateria), Adriano Souza resgata "Olha Maria", inserindo, no arranjo, uma citação a Chopin (Preludio Op.28 N.20), compositor que era inspiração para o maestro Tom Jobim. Inicialmente um tema instrumental chamado "Amparo", a música foi criada para a personagem de mesmo nome no filme The Adventurers, de Lewis Gilbert, 1969. Dessa mesma trilha também nasceu "Chovendo na roseira" que tinha o nome de Children's Games - as duas músicas apareceram no lendário álbum "Stone Flower" no ano seguinte e, depois, ganhou letra dividida entre Vinicius de Moraes e Chico Buarque, que gravou em 1971 em seu clássico álbum "Construção".

Homenagem de Tom ao seu cunhado Paulo "Bacardi", "Capitain Bacardi" é a única do álbum que, originalmente, é um tema instrumental. Aqui, ganhou um arranjo de metais de Edu Neves, evocando uma atmosfera de samba jazz, com órgão Hammond e o piano elétrico Fender Rhodes, além de baixo, bateria e percussão.

 

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