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Na família Caymmi, talento é o nome do meio

Dori Caymmi: 'Esse disco começou influenciado pela cabeça do meu pai, pelas coisas que ele dizia pra gente e que ficaram na minha cabeça' | Foto: Nana Moraes/Divulgação

Bendito seja o mestre Dorival Caymmi que, fora sua genialidade, presenteou o Brasil com uma prole de raro talento. Nesta sexta-feira (12) seu primogênito Dori lança nas plataformas digitais "Prosa e Papo" (Biscoito Fino), seu mais novo álbum. Das 11 canções do álbum, oito são inéditas: além do poeta e compositor Paulo César Pinheiro, Roberto Didio divide com Dori a autoria de duas canções.

"Este disco começou influenciado pela cabeça do meu pai, pelas coisas que ele dizia pra gente e que ficaram na minha cabeça. Então, eu liguei pro Paulinho e disse que a gente precisava fazer uma música com a frase 'entre por onde saiu e faça de conta que nunca me viu': ele fez 'Chato'. Outra que nasceu de uma expressão de papai - 'carrapixo é mato, carrapato é bicho' -, é 'Prosa e Papo' ", pontua o compositor, cantor e exímio arranjador.

Acostumado a produzir ele próprio todos os seus álbuns, Dori Caymmi nunca havia trabalhado com um produtor, função que em "Prosa e Papo" coube ao músico, compositor e produtor Jorge Helder. "Como eu nunca tive um produtor, confesso que foi difícil aceitar palpites. Fico no meu pequeno estúdio e vou pensando o que cabe melhor aqui e ali, faço isso desde os 20 anos. Então, qualquer palpite eu já fico na ponta dos pés", confessa.

Aos 80 anos, Dori Caymmi reforça a sua admiração pelos compositores de sua geração e por todos os mestres que pavimentaram o sólido terreno da música brasileira, até aqui. "Nos meus 63 anos de carreira, o que predomina é o amor pelos compositores que fizeram a música do Brasil ser o que ela é. Meus heróis são Noel Rosa, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Braguinha, Ary Barroso, Pixinguinha, Newton Mendonça, Dolores Duran, Carlos Lyra...", enumera


 

Trabalho reúne convidados de peso

Dori e Miltinho, do MPB4, no estúdio durante as gravações de 'Prosa e Papo' | Foto: Divulgação

Otrabalho alinha convidados de peso ao longo das faixas: o MPB4 surge na música título e também em "Um Carioca Vive Morrendo de Amor", outra da safra recente de parcerias com Paulo César Pinheiro. "Todas as músicas do disco são letras que eu musiquei, à exceção desta. Comecei convidando o MPB4; depois achei que precisava de uma carioca meio CDF... então chamei a Joyce Moreno. E como eu queria mais uma voz masculina, convidei o Zé Renato, meu amigo há muito tempo".

Sobre a canção, Dori comenta: "Sempre olhamos pro Rio de Janeiro com pessimismo, por conta de episódios tristes que nos chocaram muito, mas agora achei que a gente precisava levantar um pouco a moral da cidade".

Falando em Joyce Moreno, a cantora e compositora brilha ainda em "Evoé, Nação!", faixa na qual divide os vocais com Mônica Salmaso. "Joyce e Mônica já haviam participado juntas de um disco meu chamado "Foru 4 Tiradente na Conjuração Baiana" (2015), formado por textos do Mário Lago que eu musiquei, a convite da Graça Lago".

Mônica Salmaso, que conheceu a música de Dori Caymmi quando o compositor morava em Los Angeles, nos anos 1990, havia gravado as canções "Água do Rio Doce" e "Raça Morena" no álbum "Canto Sedutor", que os dois dividiram em 2022. Agora, ambas surgem no novo disco, em novas versões de Dori.

O cantor Renato Braz dá voz a "Canto para Mercedes Sosa". "Eu trabalhei com Nana (Caymmi) e com Mercedes Sosa no Uruguai e na Argentina. Fiquei impressionadíssimo, a Mercedes era a maior cantora desse estilo, insuperável. O Roberto Gigio fez uma letra em homenagem à ela e eu musiquei. É uma canção que tem tudo a ver com o Renato, com esse lance meio latino, meio espanhol que ele tem", comenta Dori.

O mais jovem dos convidados é o cantor e compositor João Cavalcanti, na bem humorada "Chato": "Eu o vi cantando samba, ainda no Casuarina, e gostei muito". A gravação de "Canção Partida" conta com as participações dos "afilhados" Ana Rabello no cavaquinho e Julião Pinheiro no violão 7 cordas. "Tenho cabeça de produtor também, então, toda vez que eu convido alguém é porque eu sei, na minha cabeça, que vai dar certo. Penso sempre no que vai ficar bom pra música", comenta.

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