Por: Affonso Nunes

90 anos de mãos dadas com a arte (e resistindo)

Localizado no coração da Cinelândia, o Rival oferece uma gama variada de atrações | Foto: Thais Monteiro/Divulgação

Na fria letra dos dicionários, teatro é um lugar ou edifício destinado à apresentação de obras dramáticas, óperas ou outros espetáculos públicos. Faltou dizer que teatros são lugares onde entramos para sonhar, para refeltir e para ser feliz. Nesta sexta-feira (22), o Teatro Rival completa 90 anos de uma história de dedicação à arte e cultura brasileiras, plataforma de lançamento das novas tendências, baú onde se resgatam tesouros da nossa identidade como povo, espaço de festa, ponto de resistência. Em eterna renovação e transformação.

O Rival, que volta a receber o patrocínio da Petrobras, tem em sua história o compromisso com o humor, a irreverência e a ousadia, mira na diversidade, na tradição, na inovação e na qualidade artística.

Suas paredes apinhadas de retratos de gigantes da nossa cultura sempre nos fazem lembrar que a história do Brasil passa por esse palco desde a noite de 22 de março de 1934 quando ali foi encenada a peça "Amor", de Oduvaldo Vianna.

Sob o comando de seu precursor Américo Leal, o teatro foi um dos principais palcos do teatro de revista. Depois, a casa recebeu toda a geração do chamado teatro rebolado. Em meio à ditadura militar, o caráter alternativo da casa foi enfatizado com seus famosos shows de travestis.

Grande Otelo, Oscarito, Dercy Gonçalves, Rogéria, Jane di Castro e Divina Valéria fizeram do palco do Rival uma segunda casa. Numa fase posterior, sob o comando da atriz e produtora Angela Leal - filha de Américo -, o Rival tornou-se caixa de ressonância da música popular brasileira, franqueando seu generoso palco para artistas como Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Alcione, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, João Nogueira, Cauby Peixoto, Elza Soares, João Bosco, Emílio Santiago, Luiz Melodia, Ivan Lins, Cássia Eller, Lenine, Adriana Calcanhotto, Seu Jorge e tantos outros artistas lançados, valorizados ou resgatados.

"Em 90 anos, quantas pessoas entraram no teatro em busca de entretenimento? O Rival movimentou a economia criativa com arte e empregos. Quantos músicos passaram pelo teatro e quantos foram lançados lá? Incontáveis. O teatro cumpriu o papel dele, e eu tenho a honra de ter feito parte disso tudo diretamente durante 34 anos. Espero que ele sirva de exemplo para a sociedade. No mais é agradecer, porque tive a sorte de encontrar uma equipe que entendeu o conceito do teatro e que me ajudou chegar até aqui", agradece Angela Leal, diretora geral do teatro.


 

Beth e Zeca, os homenageados

Zeca Pagodinho e a sua madrinha Beth Carvalho num camarote do sambódromo no Carnaval de 2012 | Foto: Divulgação Ambev

Na sua festa desses 90 longos e merecidos anos, a casa presta nesta segunda-feira (25) homenagens especiais a Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, artistas que passarão a fazer parte de sua tradicional galeria de fotos. Afinal, ajudaram a escrever essa história.

Beth Carvalho apresentava-se com frequência no Rival. Já Zeca foi o artista que inaugurou a nova fase do teatro, na década de 1980, quando a programação passou a contar com espetáculos musicais. E lá estava o jovem sambista, em início de carreira, trazendo sua alegria e descontração, renovando a vocação do Rival como um símbolo de carioquice e resistência.

"Passado o Rival Petrobras já tem. E o futuro é escrito diariamente", repete Angela. E este futuro será representado pelo Quarteto de Cordas do Instituto Zeca Pagodinho, instiuição educacional que o artista mantém em Xerém. Sob direção pedagógica de Carla Rincón e formado por Carol Cardeira (violino I), Anna Luiza Cole (violino II), Isadora Amann (viola) e Gabriela de Brito (violoncelo), o quarteto apresentará um repertório de compositores brasileiros - como Heitor Villa-Lobos e Guerra-Peixe.

E, para reverenciar os homenageados, reuniu-se um timaço de amigos do Rival, entre músicos e cantoras. Subirão ao palco para cantar sucessos de Beth Carvalho e Zeca Pagodinho 14 grandes intérpretes: Ana Costa, Áurea Martins, Bia Aparecida, Cacá Nascimento, Dayse do Banjo, Dorina, Emanuelle Araújo, Iracema Monteiro, Luana Carvalho. Luiza Dionísio, Mariana Baltar, Nilze Carvalho, Roberta Sá e Teresa Cristina. Elas serão acompanhadas por Carlinhos 7 Cordas, Rodrigo Jesus, Bruno Barreto, Alessandro Cardozo, Dudu Oliveira, Hudson e Basílio.

SERVIÇO

TEATRO RIVAL PETROBRAS 90 ANOS*

Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 - Cinelândia)

25/3, às 20h

Ingressos: R$ 90 e R$ 45 (meia) | *Apenas 80 ingressos disponíveis para venda

 

Um teatro leal à arte

Por Ricardo Cravo Albin*

A continua e persistente falta de respeito aos teatros do Rio, sejam os históricos ou mesmo as dezenas de pequenos, cerca de 120 como certa vez Michalski chegou a levantar nos anos 1980, me faz erguer um urro de entusiasmo pelo aniversário do Teatro Rival.

Exclamo de imediato e proclamo Teatro Rival Leal. Sim, leal porque jamais proibiu qualquer obra de criação artística em seu solo sagrado, o palco.

Sim, leal porque administrado contra todas as crises que este país por vezes repetidas impõe a quem quer fazer coisas e ama o Brasil. Como esta leoa, minha amiga há décadas Angela Leal, que jamais desonrou o legado de seu pai, também Leal.

E quem puxa aos seu não degenera. O Teatro Rival Leal continua altaneiro nas mãos da terceira geracao dos Leal, a meu ver a mais bela atriz do país, nossa deslumbrante Leandra Leal. Além de linda, esplêndida atriz. Portanto, o Teatro Rival Leal continua sem qualquer rival. Será sempre único e sólido. Para sempre.

*Advogado, jornalista, historiador, crítico, radialista e musicólogo

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