Por: Affonso Nunes

Deezer promove faxina gigante em seu streaming

Jerônimo Folgueira: 'O conteúdo gerado por máquina é muito barato e fácil de fazer, então você pode criar muito conteúdo. O problema é que ninguém o encontra em um oceano de conteúdo' | Foto: Divulgação Deezer

A facilidade de criação de conteúdo musical por meio da inteligência artificial vem preocupando as principais plataformas de streaming que passaram a receber uma enxurrada de de material de baixa qualidade, o que pode gerar experiências negartivas para os assinantes desses serviços e acaba diluindo a partilha dos valores referentes a direitos autorais para artistas de carne e osso.

A Deezer confirmou a remoção de mais de 26 milhões de faixas (13% de um total de 200 milhões de músicas) desde que lançou pela primeira vez seu sistema de pagamento centrado no artista, aprovado pelo Universal Music Group, em setembro de 2023.

"Há muito conteúdo sendo carregado em nossa plataforma todas as semanas, e esse número continua crescendo, crescendo e crescendo. Há muito conteúdo duplicado, há muito conteúdo que nem é música… e, a certa altura, você obtém muito conteúdo que é inútil para os usuários. E começa a criar uma experiência ruim para o nosso público", denunciou Jerônimo Folgueira, CEO da plataforma, em teleconferência global de resultados da empresa em março do ano passado.

Com a chegada da música gerada por IA, o executivo temia que o problema pudesse piorar ainda mais. "Obviamente, precisamos lidar com a questão da IA como fonte de uma enorme quantidade de novas músicas ou de criação de novos conteúdos", disse em entrevista recente ao portal Music Business Worldwide. "Queremos oferecer aos nossos clientes uma experiência de alta qualidade e conteúdo relevante, então, obviamente, fazer com que a IA inunde nosso catálogo não é algo que nos interessa muito, e estamos trabalhando nisso", completou.

Reorganização

A intenção, explica o dirigente, é reorganizar a plataforma, focar em faixas que sejam valiosas para os ouvintes e aumentar a participação de mercado para todos os artistas que criam música. "As faixas que foram removidas incluem ruído, álbuns mono-track (álbuns feitos de cópias de uma única faixa), artistas falsos e faixas que não foram ouvidas nos últimos 12 meses".

Como parte dessa iniciativa, a Deezer está fazendo uma limpeza em seu catálogo. Apesar das preocupações do mercado sobre o conteúdo gerado por IA, a empresa informa que a quantidade de faixas carregadas na plataforma continua mantendo a média de mais de 100 mil conteúdos musicais por dia.

Líder mundial do segmento, o Spotify também parece caminhando para um modelo centrado no artista. A empresa confirmou em novembro passado que, a partir do primeiro trimestre deste ano, as faixas da plataforma deverão ter recebido um mínimo de 1 mil reproduções nos 12 meses anteriores para se qualificarem para pagamentos de royalties.

A plataforma estima que isso movimentará cerca de US$ 40 milhões em pagamentos de royalties de faixas com menos de 1 mil reproduções para aquelas com mais de 1 mil reproduções este ano.

Estatísticas

Dados publicados recentemente pelo monitor de mercado Luminate oferecem uma pista sobre por que as plataformas estão cada vez mais tentando desincentivar o upload de faixas que ganham pouca força. De acordo com o relatório 2023 da Luminate, 86,2% das músicas rastreadas em serviços de streaming tiveram 1 mil reproduções ou menos em 2023. E das 184 milhões de faixas monitoradas pelo Luminate em serviços de streaming, 45,6 milhões, ou 24,8%, não tiveram nenhuma reprodução.

Estatísticas deste tipo são provavelmente parte da razão pela qual os executivos da música estão cada vez mais expressando a opinião de que - em meio à enorme enxurrada de novos conteúdos que chegam às plataformas de streaming todos os dias - a única maneira de trazer à tona a música que as pessoas querem ouvir é mantendo "o humano". touch": músicas de artistas reais, transmitidas por ouvintes reais.

"O conteúdo gerado por máquina é muito barato e fácil de fazer, então você pode criar muito conteúdo. O problema é que ninguém o encontra em um oceano de conteúdo", comenta Folgueira, que deixará o comando da Deezer no fim do mês. Stu Bergen, ex-CEO das operações internacionais de música gravada da Warner, foi nomeado CEO interino da Deezer a partir de 1º de abril.

 

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