Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

David Cardoso: 'Fui o Sylvester Stallone de um cinemãoque acabou'

'Frontera' é um dos títulos mais recentes do astro | Foto: Divulgação

Ao se debruçar sobre a produção cinematográfica da Região Centro-Oeste do país, a mostra "Do Coração do Brasil", que abre suas atividades e projeções nesta terça-feira, às 16h30, na Caixa Cultural, faz sua arrancada com um "parabéns pra você" tardio aos 80 anos de um dos mais ousados campeões de bilheteria de nosso audiovisual: o mato-grossense-do-sul David Cardoso.

Não é todo dia que o Hamlet do Cinema Marginal - ele viveu Omeleto no cult "A Herança", de Ozualdo Candeias, sob inspiração do Príncipe da Dinamarca -, vem ao Rio, em especial para falar de sua obra anfíbia, de ator e diretor. Ponha a proficiência de produtor em sua filmografia, que já soma seis décadas. "Desejo Selvagem", produção de 1979 no qual ele peita um dono de terras no papel do piloto de avião Tigre, é o título inaugural da retrospectiva com 21 produções desenvolvidas nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e no Distrito Federal. Sua imagem de galã, associada ao filão erótico, transborda potência e carisma nesse filme escalado para a abertura do evento.

"Sou um Sylvester Stallone de um cinemão que acabou", diz o astro, que se lançou (também) como diretor em "Dezenove Mulheres e Um Homem", visto por 1 milhão de pagantes (em cifras oficiais), em 1977. "Nunca tive um processo trabalhista. Chegava sexta-feira, eu pagava todo mundo, sem atrasar, e não guardava dinheiro de ninguém. Pagamento era em dia. Quem investiu nos meus filmes, recebia de cara assim que a bilheteria saía. Meu único erro foi não ter seguido o conselho de um dos maiores artistas desse país, o Mazzaropi, que me sugeriu de eu ser o meu próprio distribuidor e não deixar meus filmes nas mãos dos outros".

Nos tempos em que a pornochanchada era a maior diversão, o nome de Cardoso nas arcadas das salas de exibição eram ímãs de plateias. Narrativas regadas de tesão associadas à sua figura de Apolo do Mato Grosso do Sul lotavam dia após dia. É o caso de "A Noite das Taras", codirigida por ele, em 1980, e prestigiada por 2 milhões de pagantes. "Cinema é uma indústria que precisa dar retorno e, no meu negócio, que é fazer filmes, havia sucesso. Tanto é que eu deixei um legado de 39 produções. Tinha um parceiro criativo, que era o Ody Fraga, um grande cineasta que escrevia os filmes pra mim. Como ecologista militante, filmei muito no Pantanal e dei oportunidade pra muita gente", diz o ator, que estrelou "A Moreninha", em 1970, ao lado de Sonia Braga. "Hoje eu sigo fazendo meus filmes. Rodei uns onze títulos nos últimos dez anos, como 'Frontera'. Não tenho a pretensão de ser melhor ator do que ninguém, mas pouca gente, na arte, trabalhou ou trabalha tanto como eu, e já com 80. Sei que o glamour da telona acabou. Ninguém vai mais às salas de projeção como iam no passado. Mas não significa que o sonho de fazer cinema independente no Brasil tenha acabado".

Neste sábado, a mostra "Do Coração do Brasil" exibe "A Cidade É Uma Só", do aclamado Adirley Queirós. Na terça, o destaque é o documentário "Chão", de Camila Freitas, que mostra a ocupação de uma usina em processo de falência pelo Movimento Sem Terra, entre outros.

 

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