Por: Affonso Nunes

A guitarra chora sem Lanny Gordin

Gordin em cena do documentário 'Inaudito', que aborda o ostracisno vivido pelo músico nas últimas décadas | Foto: Divulgação

Alexander Gordin, conhecido como Lanny Gordin, considerado um dos mais influentes guitarristas brasileiros, morreu nesta terça-feira (28) após um mês de internação devido a uma pneumonia. A morte foi confirmada pela esposa do artista, Cristina Gordin. Por ironia do destino, Lanny deixa a vida nos mesmo dia em que completaria 72 anos de idade

Assumidamente inspirado no lendário guitarrista Jimi Hendrix (1942-1970), Lanny foi um participante ativo e dweterminante para o Tropicalismo e, em 1969, participou dos álbuns de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa, além do "Brazilian Octopus" (1969), com Hermeto Pascoal.

Filho de um russo com uma polonesa, Gordin nasceu em Xangai, na China, e mudou-se com a família para o Brasil aos seis anos.

No álbum branco de Caetano Veloso, lançado em 1969, Gordin recebeu "carta-branca" do maestro e arranjador Rogério Duprat, referência musical da Tropicália, para compor, após receber uma fita apenas com a voz-guia. "Fique à vontade, Lanny. Faça como quiser", disse ao músico.

Com Gal Costa, participou dos álbuns "Tropicália ou Panis et Circencis", de 1968, "Gal", de 1969, "Legal" em 1070 e de uma gravação ao vivo do espetáculo "Fa-Tal", que se tornaria um marco de transgressão na trajetória da cantora baiana.

"A presença da guitarra do Lanny era fundamental, importantíssima. Ele era um grande guitarrista, maravilhoso", chegou a dizer Gal Costa, que citou Gordin entre suas admirações em depoimento a Rogério Menezes no livro "Meu Nome é Gal".

A partir daquele momento, Gordin passou a colecionar marcos em sua discografia. Dono de timbres rápidos e distorcidos, à moda de seu ídoo Hendrix, Gordin foi o responsável pela guitarra de "Build Up", de Rita Lee, em 1970; do compacto "Irene" (1970), de Tom Zé; e "Carlos, Erasmo", de 1971, além dos reencontros com Caetano em "Transa" (1972)" e "Araçá Azul" (1973) e Gil em "Expresso 2222" (1972) — mesmo ano em que também participou do clássico "Jards Macalé". Com Tim Maia, o guitarrista fez o hit "Chocolate".

O músico nutria uma grande admiração por Gilberto Gil. "Gil é muito inteligente. Ele dizia umas coisas sobre como viver bem, a concepção dele sobre Deus. Um lance espiritual. A nossa convivência foi perfeita", disse Lanny em entrevista concedida em 2021.

Com sintomas de esquizofrenia, Lanny foi deixando as turnês e estúdios de lado. O ostracismo veio no final da década de 70, associado ao desenvolvimento da doença. Aos 65 anos, foi tema do documentário "Inaudito" (2020), de Gregorio Gananian. No filme, Lanny relata sua chegada ao país e revela seus pensamentos sobre a vida e sua relação com a música.

"O próprio título do filme é uma referência a este ostracismo, vigente desde a década de 1970, após a participação do músico em vários discos e shows de ícones da MPB. Mais do que propriamente resgatá-lo, o grande mérito de 'Inaudito' está na habilidosa condução narrativa que não só reconhece as curiosas peculiaridades do homenageado como, também, o fato dele ser absolutamente desconhecido nos dias atuais", destaca o crítico Francisco Russo.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.