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Arqueologia paralâmica

Barone, Bi e Herbert em imagem de 1983: o nascimento dos Paralamas; no alto à esquerda, a capa de 'Cinema Mudo', álbum de estreia da banda e gravado logo após o sucesso do compacto | Foto: Maurício Valadares/Divulgação

Em celebração aos 40 anos de carreira da banda Os Paralamas do Sucesso, completados em 2023, o grupo está lançando em vinil o compacto com as faixas "Vital e Sua Moto" e "Patrulha Noturna", com áudio remasterizado e edição limitada de 300 unidades para colecionadores. Além disso, também será lançado em formato vinil o álbum "Cinema Mudo", o primeiro projeto completo da discografia do trio, formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone.

Os dois projetos foram originalmente em 1983, ano em que o Brasil se apaixonou eternamente pelo talento da banda. O compacto já está disponível na loja virtual da Universal Music enquanto o álbum terá sua venda iniciada no próximo dia 8.

Item raro no mercado, o primeiro compacto dos Paralamas era o prenúncio de uma longa e bem sucedida carreira. Sobre os "Paralamas", pouco se sabia, mas o "Sucesso" foi logo escrito naquele ano com o compacto em vinil de duas faixas. A faixa-título dispensa apresentações. O ska rock foi enviado numa fita demo pela banda para a Rádio Fluminense FM, de Niterói, em 1982. A música logo conquistou a programação e os ouvintes da famosa rádio rock e a banda estourou entre os jovens da nova cena pop rock carioca, levando o trio a abrir o show de Lulu Santos, no Circo Voador, em 1983.

Com o sucesso da música, a gravadora EMI se interessou pelo grupo e sugeriu lançar o compacto para sentir a receptividade. O teste deu certo e "Vital e Sua Moto" rompeu as barreiras do Rio e estourou em todo o Brasil com sua levada rock reggae, diferente do clássico rock brasileiro de então, aliado a uma letra essencialmente jovem que expressava um sentimento tão comum à rapaziada: "Se sentir total". O Vital da canção era o primeiro baterista da banda, substituído por João Barone antes de o grupo entrar em estúdio.

Após passarem no "teste", Os Paralamas do Sucesso foram definitivamente efetivados na EMI para entrar em estúdio e gravar o LP "Cinema Mudo", lançado no mesmo ano, reunindo canções que se tornariam clássicas como "Cinema Mudo", "Vital e sua Moto" e "Química".

Ao revisitar os tapes originais, a banda tinha como principal objetivo o esmero técnico: melhorar a qualidade e a experiência sonora com a tecnologia digital sem mexer nos detalhes da gravação original para não descaracterizar o som. Para isso, ouviram e reouviram equalizando as gravações da mesa de som, que na época tinha apenas 16 canais, o que não permitia captar todos os instrumentos ao mesmo tempo. Para a bateria, por exemplo, era necessário escolher que parte gravar, e priorizaram bumbo e a caixa.

No ouvido apurado da banda, algumas músicas apresentavam sonoridades diferentes entre elas, uma vez que o trio precisava montar e desmontar os instrumentos todas as vezes que iam gravar, já que usavam o tempo vago dos estúdios da EMI entre as sessões das então estrelas da casa. Para este relançamento, fizeram um trabalho técnico bastante minucioso, a fim de superar as limitações técnicas da época. Nenhum novo som foi acrescentado.

"Cinema Mudo" abre com o mega hit "Vital e Sua Moto", sucesso no compacto. Histórias à parte, a tracklist do álbum segue com o rock reggae "Foi o Mordomo", já apresentando um estilo que a banda desenvolveria mais pra frente. A clássica "Cinema Mudo", sucesso nos shows até hoje, foi outro hit na época, com a levada ska mais marcante e o primeiro (de muitos) temas românticos de Herbert como letrista.

A levada acelera em "Patrulha Noturna", que falava sobre as "duras" que a rapaziada levava da polícia, e segue na instrumental "Shopstake", uma marca que também se tornaria recorrente nos futuros álbuns da banda. O disco segue com o rock blues "Vovó Ondina é Gente Fina", dedicada à avó de Bi Ribeiro, que recebia o trio em sua casa para os primeiros ensaios.

A faixa seguinte, "O Que Eu Não Disse", parceria de Herbert e Barone com o amigo de Brasília Renato Russo, é um dos belos encontros daquela época no rock nacional: poesia, romantismo e guitarra no ponto certo. Inclusive o som slide que se ouve na música foi gravado por Lulu Santos. Renato Russo também é autor de, "Química", que trazia uma pegada mais punk, gravada pela Legião Urbana dois anos depois.

"Cinema Mudo" desacelera próximo ao seu final no reggae "Encruzilhada", finalizando em "Volúpia", que já engata o caminho para a sonoridade da banda nos próximos álbuns: metais e latinidade.

 

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