Por: Paulo-Roberto Andel

Paulo-Roberto Andel: Figueiredo Magalhães, 1989

A praia está vazia e silenciosa, algo incomum para a madrugada do fim de semana. Geralmente vem o pessoal de outros bairros e, claro, os turistas. Não tem mais ninguém na rede de vôlei. Futevôlei. No campo de areia, nem pensar. Estranho.

Na esquina de Figueiredo com Domingos Ferreira tem sempre uma galera dormindo na rua. São uns dez. Não mexem com morador, mas se sacarem outra procedência vai dar zebra. Na quadra seguinte, do outro lado da rua, tem as duas drogarias e, numa delas, o letreiro tem o Pepe Corta-Zeros. Um pequeno símbolo da rua. No prédio da esquina moram Marcelo e Hermínio. Talvez no quarto andar. Bem, não é uma esquina qualquer, mas a mais barulhenta do mundo. Até entrou no Guiness.

Se você atravessar a Avenida Copacabana e utilizar a primeira entrada, perto da mitológica Galeria Ritz, cujo terreno já abrigou a fantástica faquiresa Suzy King - que o poeta e cineasta Luiz Carlos Lacerda, menor de idade, espiava pela fresta da porta -, vai adentrar as Lojas Americanas, paraíso das crianças com suas balas e brinquedos. A loja tem formato de L e você pode sair pela Figueiredo Magalhães, onde não encontrará mais vestígios da lanchonete de rua - que vendia cachorro quente e refresco de côco no copo de cone -, apenas a sorveteria Akay do outro lado da rua, bem em frente, que tem um misto quente imperdível: pão crocante, queijo derretendo e fatias finas de bom presunto.

Cine Condor, dentro da galeria. Minha amiga Katia morava ali. São mais de 800 lugares no ótimo cinema refrigerado. Tenho visto muitos filmes, exceto "Psicose" - dormi e depois explico o motivo.

Ainda poderia voltar à esquina anterior, a mais barulhenta do planeta, bem na diagonal do prédio do Hermínio. Casa Nelson, roupas finas para senhores exigentes - especialmente para quem não quer sair do armário, se é me entendem.

Figueiredo e Barata Ribeiro é Varese, loja esportiva. Lindos e caros botões, tênis fascinantes, artigos de primeira. A vitrine é uma beleza. E é também Sumol, lanchonete querida do bairro que aguenta o tranco até três da manhã. Salada de frango, belo bife de hamburger da casa, grandes sucos e a maravilhosa fatia de pizza muçarela, verdadeira salvação depois dos jogos noturnos no Maracanã. Ai, Jesus!

Ainda o futebol. Passando pelo Sumol (alguns chamam por a Sumol), tem a Kayat Esportes, outra loja de artigos esportivos que faz a festa da garotada: vende escudos bordados, números de camisa que se prende com ferro de passar e bolas, bolas, maravilhosas bolas de futebol.

Na esquina da Edmundo Lins incrivelmente não tem ninguém. É um dos alvoroços de Copacabana por causa da turma que ali convive, pessoal da praia, das lutas e da noite. Uns trinta garotos ou mais. Eles são a GEL e a sigla é óbvia: Galera da Edmundo Lins.

Esquina de Figueiredo com Tonelero, resta o único estabelecimento aberto da quadra, o velho botequim pé-sujo sem letreiro, onde os últimos boêmios tomam goles de cerveja e cachaça, afogando mágoas e melancolias. Mas não por muito tempo: uma das portas já foi baixada e em pouco tempo só restará um único bem, raro em Copacabana e na rua Figueiredo Magalhães mesmo de madrugada - o silêncio.