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A estética da lama sobrevive

Jorge du Peixe (de barba), Toca Ogan e Dengue, membros da formação original do grupo, participaram da gravação | Foto: Olívia Leite/Divulgação

Banda criada em 1991 e que recolucionou a música popular brasileira, a Nação Zumbi lançou nas plataformas digitais uma nova versão da canção que se tornou o manifesto sonoro do Manguebeat, a clássica "Da Lama ao Caos" (Chico Science), através do Manguefonia, um dos projetos do grupo que celebra o movimento musical recifense que ganhou o Brasil e o mundo.

Participaram da gravação realizada este ano no Fábrica Estúdios, na capital pernambucana, Jorge Du Peixe (vocal), Dengue (baixo), Toca Ogan (percussão), Marcos Matias e Da Lua (alfaias), Vicente Machado (bateria) e Neilton Carvalho (guitarra).

Nesta canção, o saudoso Chico Science (1966-1997) mesclou o maracatu pernambucano a guitarras distorcidas e batidas eletrônicas. Versos como "Da lama ao caos, do caos à lama / Um homem roubado nunca se engana" ou "E com o bucho mais cheio começei a pensar / Que eu me organizando posso desorganizar" revelam as contradições sociais de uma Recife desordenada.

A faixa "Da Lama ao Caos" foi produzida exclusivamente para "Cangaço Novo", nova série original Amazon, que ganhou trilha sonora composta por artistas da cena musical contemporânea assinada por Beto Villares, Érico Theobaldo & Submarino Fantástico (coletivo formado pelos músicos Otavio Carvalho, Kezo Nogueira, Ingo André e Cauê Gas), com participação de Siba e Allen Alencar. Todas as 16 faixas são originais da série e foram compostas, ou tem novas versões gravadas exclusivamente para a produção da Amazon.

Uma das bandas mais importantes e revolucionárias da música brasileira, a Nação Zumbi marcou uma geração de jovens com sua sonoridade única e marcante. Criada na capital pernambucana, a Nação Zumbi (ainda sob a alcunha de 'Chico Science & Nação Zumbi'), lançou seu primeiro álbum, "Da Lama ao Caos", em 1994. O trabalho tornou-se um dos marcos do manguebeat, movimento que, ao lado da Bossa Nova e do Tropicalismo, é reconhecido como um dos mais importantes na contribuição da modernização da música brasileira. "Da Lama Ao Caos" foi eleito o melhor disco feito no Brasil nos últimos 40 anos em uma enquete do jornal O Globo com 25 especialistas.

Com Chico Science, a Nação Zumbi lançou também "Afrociberdelia (1996). Depois da morte precoce de Chico, já com Jorge Du Peixe no vocal, a banda acumulou mais seis álbuns de estúdio - "CSNZ" (1998), "Rádio S.Amb.A" (2000), "Nação Zumbi" (2002), "Futura" (2005), "Fome de Tudo" (2007) e "Nação Zumbi" (2014), dois álbuns ao vivo que também viraram vídeos em DVD - "Propagando ao Vivo" (2006) e "Ao Vivo no Recife" (2012), além do CD "Mundo Livre S.A vs Nação Zumbi" (2012).

Nas três décadas de estrada em festivais importantes pelo país e exterior, houve várias formações da Nação Zumbi. A banda conseguiu se reestruturar e soube se reinventar ano após ano, disco após disco, até chegar aqui. Remanescentes da formação original e fundadores da banda, junto de Chico Science, Jorge Du Peixe, Dengue e Toca Ogan seguem também em carreira solo com novos trabalhos.

O Manguefonia, projeto da Nação Zumbi para festejar o movimento manguebeat, idealizado e capitaneado pelos agentes da Afrociberdelia, Jorge Du Peixe e Dengue, conta com vários expoentes da cena Mangue, como Siba Veloso (Mestre Ambrósio), Fred 04 (Mundo Livre), Cannibal (Devotos do Ódio) e Fábio Trummer (Eddie), além de Louise (filha de Chico Science), com a finalidade de executar os clássicos que marcaram a história de seus grupos e apresentar novas canções de seus últimos trabalhos.