Por Gustavo Zeitel (Folhapress)
O Coro Lírico Municipal está vivendo em pé de guerra com a organização social Sustenidos, que administra o Theatro Municipal de São Paulo, na última semana. Os coristas afirmaram que pode haver uma onda de demissões e o sucateamento do atual corpo artístico, num contexto de má gestão dos recursos orçamentários.
A organização social anunciou no início da semana passada que realizaria uma avaliação interna obrigatória dos coristas, entre os dias 23 e 26 de fevereiro, indicando uma nota de corte para a permanência dos artistas no coro.
Em nota, a Sustenidos admitiu as falhas orçamentárias e voltou atrás em relação às provas internas com nota de corte, que foram suspensas.
"O processo de avaliação interna é saudável e preza pela excelência técnica, artística e eficiência no uso dos recursos públicos", diz a nota. "No momento, vamos suspender a avaliação interna e focar na negociação com a Fundação Theatro Municipal e Secretaria Municipal de Cultural acerca do necessário ajuste orçamentário, relativo à inflação."
Consta no documento divulgado na semana passada que o teste teria o objetivo de analisar as qualidades "tecnico-vocais e interpretativas" dos cantores, além de "suas habilidades de leitura musical". Para tanto, seria formada uma comissão julgadora com cinco profissionais que não fazem parte da equipe do Municipal.
Cada corista teria de executar uma ária de ópera ou opereta no idioma alemão, uma ária de ópera no idioma francês e "dois trechos de leitura à primeira vista". As avaliações seriam gravadas, realizadas às cegas, com utilização de biombos, e os jurados não teriam acesso aos nomes dos cantores.
Só seria apto a permanecer no coro quem obtivesse média final maior ou igual a 7,5 pontos. O teste foi concebido à revelia do regente titular do coro, Mário Zaccaro, que está afastado para tratar uma doença cardíaca.
Logo que receberam a convocatória, os funcionários do Municipal iniciaram uma mobilização contra a realização dos testes, vistos por eles como desmonte. Na noite de domingo, os músicos da Orquestra Sinfônica Municipal escreveram um "apelo à sociedade", intitulado "SOS Artistas do Municipal". "A organização social Sustenidos, gestora do Theatro Municipal de São Paulo, tornou-se sinônimo de descaso com os artistas", diz a nota, publicada nas redes sociais.
O texto afirma que há um processo de "uberização" do teatro e que o teste tinha caráter demissionário. "Uma banca com caráter inquisidor foi contratada, não se sabe com quais critérios, para o que nos parece a demissão em massa de artistas. Isso fica evidente, pois, no mesmo dia da convocação desse teste, foi aberto um edital de seleção de cantores, que, caso aprovados, irão trabalhar sem nenhum direito trabalhista."
Também no domingo, o Sindicato dos Músicos Profissionais no Estado de São Paulo, publicou uma nota nas redes, manifestando apoio aos corpos artísticos do Municipal.
De momento, os artistas só devem atuar em março, na ópera "Così Fan Tutte", de Mozart, que não requer coro numeroso. O coro não vai atuar nem nos concertos comemorativos do aniversário de São Paulo, marcados para esta quarta-feira.