Linhas de Fuga: Existe matemática negra?

Por ALDO TAVARES

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Na primeira aula, sempre pergunto "o que é a liberdade" e, sem exceção, alunos respondem que "liberdade é fazer o que se quer". Durante anos, só ouvi essa resposta na primeira aula de Filosofia. Liberdade é conceito, não cabendo ou à literatura, ou à sociologia, ou à história, pensar o conceito para dar a ele consistência filosófica. Só, e tão somente, cabe à filosofia criar o conceito para que a ideia de liberdade não seja opinião pessoal.

Certa vez, na escola pública, uma aluna perguntou se eu não lecionaria "filosofia africana", e disse-lhe que "não existe filosofia africana como não existe filosofia europeia". Perguntei: "existe matemática negra e existe matemática branca? Assim como a matemática, não há filosofia do negro e não há filosofia do branco".

Filosofia não é opinião. Nela, uma ciência em que a palavra recebe o mesmo raciocínio lógico que o número matemático recebe, e essa ciência é a metafísica, é onde a filosofia se serve do cálculo feito com palavras; é onde, assim como a matemática, não há opinião pessoal, porque a palavra, por meio da metafísica, adquire a condição de conceito. Conceituar é não opinar.

Tal como a liberdade, a luta é conceito e, em 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemora-se a imagem de um modelo de luta, o mesmo modelo que aparece nas cenas do filme "Malês", do diretor Antônio Pitanga. Por outro lado, a luta de Luiz Gama se opõe a esse modelo, o mesmo de Zumbi, havendo, portanto, outra forma de combate em relação à injustiça étnica. Mas por que o modelo de Zumbi prevalece acima ao de Luiz Gama? Em que sentido as lutas de Zumbi e de Luiz Gama se diferem?

Na escola, jamais ouvi o nome Luiz Gama, quem considero herói nacional, exemplo de vida, cuja inteligência é incomum. Há muitos anos, tenho Luiz Gama como referência de quem expressa ideia de luta oposta à de sua mãe negra, Luiza Mahin, tendo sido presa por suspeita de envolver-se em planos de insurreição de escravos, por isso tenha talvez participado do Levante dos Malês. Luiza desapareceu.

Quando se trata de luta, o movimento negro nem cita Luiz Gonzaga Pinto da Gama, nascido em 21 de junho de 1830 e falecido em 24 de agosto de 1882. Bruno Rodrigues de Lima recebeu o prêmio de melhor tese de doutorado na Alemanha por ter publicado "Luiz Gama contra o Império". Conhecer seu conceito de luta passa pela filosofia, além de ser obrigação cívica.