A reta final de um sucesso dos palcos

'A Descoberta das Américs', solo de Julio Adrião, que percorreu quatro continentes e conquistou mais de 700 apresentações, faz temporada de despedida no Rio antes de seguir para São Paulo

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Julio Adrião no mónologo 'A Descoberta das Américas'

Duas décadas depois de sua estreia, o solo "A Descoberta das Américas" prepara-se para encerrar uma das trajetórias mais longevas do teatro brasileiro contemporâneo. O espetáculo estrelado por Julio Adrião e dirigido por Alessandra Vannucci realiza sua última temporada carioca no Teatro do Centro Cultural Justiça Federal, até o dia 28 de setembro, antes de seguir para São Paulo em outubro para o encerramento definitivo. A montagem, que estreou em 2005 baseada no texto de Dario Fo, conquistou o Prêmio Shell de Melhor Ator no ano de lançamento.

Os vinte anos de trajetória acumularam mais de 700 apresentações distribuídas por 26 estados brasileiros e dez países em quatro continentes, levando a história do anti-herói Johan Padan desde pequenas cidades do interior até grandes centros cosmopolitas. Para a diretora Alessandra Vannucci, "essa longevidade radicaliza uma ideia que repito para explicar minha concepção desta montagem: o espetáculo está na cabeça do espectador", explica a diretora, destacando como a participação ativa do público se tornou elemento fundamental da dramaturgia.

Adrião reflete sobre a responsabilidade de manter uma obra teatral ativa por tanto tempo. "Um espetáculo teatral completar 20 anos não é algo tão esperado, muito menos planejado, pois não basta uma decisão da produção se, antes disso, o espetáculo não tiver estabelecido uma identificação com o público que, de certo modo, se apropria da obra, como que exigindo essa continuidade", analisa o ator.

O segredo dessa durabilidade, segundo ele, reside na recusa à repetição mecânica e na busca constante por renovação criativa. "Mais do que repeti-la a cada dia, é preciso então buscar sempre refazê-la, por respeito a quem ainda irá ver, mas também a quem já viu e decide retornar para rever e fazer reviver o espetáculo. Para tanto, o ator tem que manter vivo o processo de criação e continuar a revisitar a sala de trabalho, ouvir a direção, discutir, ensaiar, refletir, experimentar, tornando-se um guardião da obra", explica

A narrativa acompanha Johan Padan, anti-herói rústico e carismático que foge da Inquisição espanhola e embarca em uma das caravelas de Cristóvão Colombo rumo ao Novo Mundo. Sobrevivendo a naufrágios, massacres e tentativas de escravização, o protagonista acaba reverenciado como líder por povos indígenas, conduzindo-os em batalha contra os invasores europeus. A montagem aposta em recursos cênicos reduzidos para valorizar a força interpretativa de Adrião, que dá vida a dezenas de personagens, de indígenas e colonizadores a animais e figuras religiosas.

"São muitas histórias, que começaram muito antes de serem contadas e que precisam continuar a ser contadas, em todas as suas formas e versões, para que possamos seguir construindo as histórias de hoje, que um dia ainda serão contadas. Essa descoberta já tem 20 anos, mas também só tem 20 anos, já que o espetáculo sempre termina, mas a história continua", reflete Adrião.

SERVIÇO

A DESCOBERTA DAS AMÉRICAS

Teatro do CCJF (Av. Rio Branco, 241 - Centro)

Até 28/9, sextas a domingos (19h) | R$ 60 e R$ 30 (meia)