Protagonismo a partir do saber ancestral em livro infantil
Espetáculo teatral que celebra protagonismo negro infantil chega é lançado na Bienal
A trajetória de Super Nagô, menino negro de dez anos que herda poderes ancestrais e se torna youtuber, salta dos palcos para as páginas. O espetáculo "O Pequeno Herói Preto", que percorreu teatros brasileiros e internacionais, agora se transforma em livro pela Editora Malê, marcando a estreia literária da dupla criativa formada por Junior Dantas e Cristina Moura. A obra representa um movimento significativo na literatura infantil nacional ao propor representatividade negra despida de estereótipos.
"É a história de um menino que descobre seus poderes a partir da família e da ancestralidade, um super-herói brasileiro, cheio de alegria e vontade de transformar o mundo. É uma leitura divertida, com ilustrações lindas e uma mensagem poderosa: todos podemos ser heróis e heroínas da nossa própria vida", explica Dantas.
A publicação surge num momento em que o mercado editorial brasileiro ainda carece de títulos infantis com protagonismo negro positivo. Super Nagô navega entre o universo digital contemporâneo e a ancestralidade africana, encontrando personalidades históricas como Tereza de Benguela, Elza Soares e Ruth de Souza. Essa construção narrativa estabelece pontes entre gerações e reafirma a importância de referências negras na formação identitária das crianças.
Junior Dantas, ator e contador de histórias, desenvolveu o projeto ao lado de Cristina Moura, diretora e coreógrafa. As ilustrações ficaram a cargo de Rodrigo Andrade, que traduziu visualmente o universo colorido da narrativa. A parceria resulta numa obra que preserva elementos centrais do espetáculo original: humor, oralidade e cores como ferramentas de engajamento do público infantil.
O conceito de letramento racial permeia toda a construção da história, buscando naturalizar a presença negra em posições de protagonismo. Super Nagô emerge como herói contemporâneo que concilia tecnologia e tradição, oferecendo modelo identificatório positivo para crianças negras.
A decisão de adaptar o espetáculo para o formato literário nasceu da própria recepção do público teatral. Dantas observou que espectadores manifestavam interesse em prolongar o contato com a narrativa além da experiência cênica. O livro surge como resposta a essa lacuna, ampliando o alcance da mensagem para escolas, bibliotecas e lares.