A cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras está vaga desde a morte de Cacá Diegues, na sexta-feira (14), em decorrência das complicações de uma cirurgia. Um fim de semana se passou e alguns nomes já vêm sendo apontados por outros imortais como prováveis candidatos à sucessão do cineasta.
Benquista na casa presidida por Merval Pereira, seu companheiro de Grupo Globo, a jornalista Miriam Leitão surge como uma possibilidade "muito interessante", segundo um dos acadêmicos ouvidos pela reportagem.
Marido de Miriam, o cientista político Sérgio Abranches também tem bom trânsito na ABL, onde costuma dar palestras, e é outro nome a ser considerado. A expectativa entre os imortais é que um dos dois se candidate. Procurada pela reportagem para comentar, a jornalista não respondeu aos contatos.
Romancista, contista e ensaísta carioca, Alberto Mussa é um desejo antigo da Academia, e já declinou duas vezes do convite para tentar uma vaga. Ele continua sendo bem-vindo a ingressar na casa, que o considera um bom nome para tê-lo entre seus confrades.
Mussa diz que, caso volte a ser estimulado, "ficaria honrado" com mais essa lembrança, mas não tem interesse em fazer parte do grupo.
"Tenho muitos projetos, um filho de 11 anos que quero levar à escola, não tenho tempo nem roupa para frequentar a Academia", diz, não sem ressaltar o seu apreço por vários acadêmicos. "Sou muito amigo de alguns deles". Sobre sua não candidatura, Mussa toca em outro ponto: "Sou branco, hétero, de classe média alta. Creio que não acrescento nada em relação à questão da diversidade", afirma.
A falta de diversidade é mesmo uma questão para a ABL. A instituição fundada por Machado de Assis em 1897 sofre críticas pela falta de representatividade e de pluralidade, com um grupo de imortais formado majoritariamente por homens brancos. Um influente integrante da casa diz que a instituição é sensível às questões sociais, mas não tem obrigação de cumprir cotas.
Uma mulher negra e com produção literária de respeito, no entanto, seria uma boa alternativa, afirma o acadêmico. Conceição Evaristo é elogiada por suas obras, mas está fora do jogo desde sua malfadada campanha em 2018, quando não bajulou ninguém e acabou sendo derrotada na disputa pela cadeira que pertencera ao cineasta Nelson Pereira dos Santos. Perdeu, de lavada, justamente para Cacá Diegues.
Apesar de a casa "não cumprir cotas", Ana Maria Gonçalves - mulher, negra, e autora do best-seller "Um Defeito de Cor" - é citada por alguns imortais como alguém que teria boas chances de ocupar a vaga.
Caetano Veloso, sonho dourado há anos, também volta a ser lembrado. É consenso entre os acadêmicos que uma candidatura do cantor seria muito bem-vinda, mas Caetano já recusou sondagens no passado. Ele disse que não conseguia se ver "lá dentro", apesar de admirar a instituição. A sensação na ABL, segundo um de seus intelectuais, é a de um "amor unilateral".
Quem se anima com a possibilidade de vir a disputar a vaga é a pneumologista Margareth Dalcolmo. Onipresente nos telejornais da Globo durante a pandemia do coronavírus, ela é viúva do acadêmico Candido Mendes (1928-2022), frequenta os eventos da instituição e conta com a simpatia de grande parte dos imortais. "Fico muito honrada, como escritora, em ver meu nome cogitado à ABL", diz à reportagem.
Ter pelo menos um livro publicado em português é uma condição para a candidatura ser validada.
Dois outros nomes são vistos com bons olhos pela Academia: o músico, compositor, ensaísta e professor José Miguel Wisnik, e o escritor, jornalista Sérgio Rodrigues. Wisnik não foi encontrado para falar sobre o assunto, e Rodrigues se diz lisonjeado por ser citado. "Mas não sou candidato", afirma.
As inscrições para a candidatura à vaga de Cacá Diegues serão abertas em meados de março, e a eleição acontece em maio.