Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Laroyê, Flup!

A força feminina das populações pretas com divas literárias, como Conceição Evaristo, é um dos focos da Flup | Foto: Divulgação

Mãe Janayna Lázaro, matriarca da Casa da Palha, em São Cristóvão, abriu os caminhos de Julio Ludemir, romancista pernambucano respeitado por livros como "O Bandido da Chacrete", em seu projeto de realizar a edição de 14 anos da Festa Literária das Periferias, a Flup, na Lapa, sob os auspícios de Seu Zé Pilintra.

Antes de tirar a ideia do papel, ele bateu cabeça no terreiro dela, em busca de bênção, e saiu de lá com apoio de pombajira para seu projeto de inclusão pela arte, que se materializa a partir desta segunda-feira, quando o evento começa no coração do Centro carioca.

Sua micareta estética (e geopolítica) se espalha pelo Circo Voador, pela Casa de Luzia e pelo Santuário de Seu Zé, ali coladinho aos Arcos, onde tudo será inaugurado com uma revoada de balões, às 12h desta segunda-feira (11). Entre as boas deste primeiro dia, destaque: a) a conversação "O Que Queremos Pra Ontem?", às 17h30, com Jurema Werneck, Anielle Franco, Neon Cunha e Maria Eduarda Nascimento; b) o papo entre Mc Andrea Bak, Conceição Evaristo e Esmeralda Ribeiro, às 19h40; e c) o show de Lia de Itamaracá, às 21h50. Nesta terça, às 19h30, Cidinha da Silva e Teresa Cárdenas conversam, sob mediação de Angélica Ferrarez, a fim de refletir sobre literaturas das encruzilhadas.


 

Um evento multilinguagens

A Flup chega à 14ª edição mobilizando multidões em sua programação multicultural | Foto: Divulgação

No cardápio arquitetado por Ludemir, que segue até domingo, rolam atrações imperdíveis como o show "Pérolas Negras", com Alaíde Costa, Zezé Motta e Eliana Pittman, nesta quinta, às 21h30. No sábado, às 17h, o ator e diretor francês Jacques Martial vai passar pela Festa para uma ação performática inspirada no mítico poema "Diário Do Retorno Ao País Natal", escrito pelo martinicano Aimé Césaire (1913-2008) cujos versos são considerados um monumento lírico da cultura da diáspora das Áfricas e ganham carga sinestética eletrizante no filtro da voz e da movimentação de Martial, que se identifica com a crise migratória cantado por Césaire.

"É importante apresentar Aimé Cesaire no Brasil porque ele promove o orgulho negro, algo fundamental nos dias de hoje", disse Martial ao Correio da Manhã.

Além dele, vai ter gente do mundo todo se expressando nessa maratona cultural, que reúne prosa, poesia, música, ensaio teórico e manifestações religiosas de matrizes africanas em reflexões sobre ancestralidades e combates ao ranço do colonialismo. A anglo-nigeriana Bernardine Evaristo, que vem lançar "Sr. Loverman", é uma das estrelas estrangeiras da deleção estrangeira da Festa em 2024. Outra sensação vinda do exterior é a equatoriana Yuliana Ortiz Ruano, que traz o romance "Febre de Carnaval" ao Rio.

Ao longo de 12 anos de Flup, 200 mil pessoas já prestigiaram suas bossas, curtindo palestras, rodas de samba, saraus, apresentações de passinho, embates de slam, shows de hip-hop, performances teatrais e jiras, que já mobilizaram poetas de 60 países. Por suas fileiras passaram 1.350 escritoras/es de renome e delas foram gerados 30 livros, entre eles "Laroyê; Cartas Para Exu", que será lançado no dia 16, às 17h, na Casa de Luzia. Como incubadora de talentos, a Festa formou cerca de 200 roteiristas em seu Laboratório de Narrativas Negras, que recebeu gigantes do cinema como Laurent Cantet, ganhador da Palma de Ouro de 2008 por "Entre os Muros da Escola".

Já teve Flup no Morro dos Prazeres, em Vigário Geral, na Mangueira, na Babilônia, no Vidigal, na Cidade de Deus, na Maré, na Biblioteca Parque, no MAR e na Providência. Agora, é a vez da turma lapeira ouvir, falar, cantar, ler e celebrar com seu Povo de Rua.

Confira, abaixo, a programação completa da 14ª Flup:

 

PROGRAMAÇÃO DA 14ª FLUP 

 

Segunda-feira, 11 de novembro

12h - Abertura nos Arcos da Lapa e Tambor de Crioula no Palco Atlântica.

13h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Atletas, Atrizes e Cantoras". Com Geralda Ferraz, Simony Anjos, Maria Ribeiro, Joanice Conceição, Fabiana Sousa, Liana Porto, Antonildes Pires. Palco Ori Debate.

15h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Mães de Santo". Com Sandra Schwarzstein, Janine Cunha, Míriam Cristiane, Lúcia Helena, Maria Moreira, Heridan Ferreira, Lilian Toyota, Joanice Conceição, Suzete Kourliandsky, Gláucia Péclat, e Elane Albuquerque. Palco Ori Debate.

17h - Abertura Institucional. Palco Atlântica.

18h - Ciclo Aquilombamentos "O que Queremos Para Ontem?". Com Jurema Werneck, Anielle Franco, Neon Cunha. Mediação: Maria Eduarda Nascimento. Palco Ori Debate.

19h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Mc Andrea Bak, Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro. Palco Atlântica.

20h - CCR apresenta mesa literária "Mulheres Transatlânticas". Com Oyeronke Oyewumi, Gloria Wekker e Mame-Fatou Niang. Palco Ori Debate.

21h40 - Show de Lia de Itamaracá. Palco Ori Música.

23h - DJ Anais B. Palco Ori Música.

Terça-feira, 12 de novembro

13h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Escritoras e Escrevivências". Com Maricel Lopes, Renata Falleti, Ádria Cerqueira, Jhenifer dos Santos, Iraneide Silva, Marley Silva, Maria Lima. Palco Ori Debate.

15h - Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas (militantes e políticos). Com Decleoma Pereira, Sandra Mônica, Valdenice Raimundo, Luciana Dias, Rosinalda Simoni, Maria das Dores, Lúcia Pereira, Sonia Cleide Silva, Vania Maria Soares, Janaize Neves. Palco Ori Debate.

17h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Marcia Kambeba e Cristiane Sobral. Palco Atlântica.

17h30 - Mesa literária "O Ori e as Periferias". Com Jaqueline Jesus, Lúcia Xavier e Ana Paula Oliveira. Mediação: Semayat OIiveira. Palco Ori Debate.

19h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Ryane Leão e Natasha Félix. Palco Atlântica.

19h30 - Mesa literária "Literatura nas Encruzilhadas". Com Cidinha da Silva e Teresa Cárdenas. Mediação: Angélica Ferrarez. Palco Ori Debate.

21h - Show de Dona Onete. Palco Ori Música

22h10 - Tambor de Crioula. Palco Atlântica

22h50 - Roda de Samba Poeira Pura. Palco Ori Música.


Quarta-feira, 13 de novembro

13h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Cientistas e Poetisas". Com Tânia Rezende, Letícia Rocha, Anna Maria Benite, Amanda Castro, Janira Miranda, Maria de Deus, Kamila Sousa. Palco Ori Debate

15h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Maternagem - Mulheres que Cuidam e Ensinam". Com Ludmila de Almeida, Nubia Moreira, Andreia Coelho, Marcilene Gomes, Mayara Santos, Clara Sousa, Isis Santos, Sacha Gama, Aurineide Moura, Marta Ferreira, Monique Silveira. Palco Ori Debate.

17h - Ciclo Aquilombamentos "Ngola Djanga". Com Ventura Profana, Joyce Prado e Napê. Mediação: Janaína Damasceno. Palco Ori Debate.

18h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Midria e Mel Duarte. Palco Atlântica.

19h - Prêmio Goncourt. Palco Ori Debate.

19h20 - Chico Regueira – entrevista a plateia. Palco Ori Debate.

19h50 - Mesa literária "Tão inseridas/ Tão excluídas". Com Conceição Evaristo e Bernardine Evaristo. Mediação: Daiane Rosário. Palco Ori Debate.

21h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Luz Roteiro e Luna Vitrolira. Palco Atlântica.

22h – Chico Regueira – entrevista a plateia. Palco Ori Debate

22h30 - Show de Ile Aiyê. Palco Ori Música.

00h - Samba da Serrinha. Palco Ori Música.


Quinta-feira, 14 de novembro

13h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas – Quilombolas e Trabalhadoras no pós-abolição". Com Rosinalda Simoni, Kalyna Faria, Patrícia Carvalho, Irislane Moraes, Lucilene Athaide, Gláucia Péclat, Maria Leite, Cristina Assunção, Rosana Lessa, Kenia Medeiros. Palco Ori Debate.

15h - Mesa literária "Quilombo Acadêmico: Histórias de Mulheres Afrodiaspóricas - Quem Somos: o Dicionário". Com Thais, Rosinalda, Tania, Ludmila, Claudia, Núbia, Joanice, Heridan, Maricel e Janira. Palco Ori Debate.

17h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Ana Mumbuca e Jocélia. Palco Atlântica.

17h30 - Ciclo Aquilombamentos "Bem-Viver, Teko Porã e Territórios". Com Mãe Índia, Nilma Bentes e Jama Wapichama. Mediação: Ana Mumbuca. Palco Ori Debate.

19h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Anajara e Genesis. Palco Atlântica.

19h30 - Mesa literária "No Conforto da Minha Concha". Com Eliana Alves Cruz, Marie NDiaye e Luciany Aparecida. Palco Ori Debate.

21h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Bianca Gonçalves e Aline Motta. Palco Atlântica.
21h30 - Show de Pérolas Negras. Palco Ori Música.

22h30 - Tambor de Crioula. Palco Atlântica.

22h50 - Roda de Samba PedeTeresa. Palco Ori Música.

00h30 - Baile da Chefona - 10 anos de Afrofunk. MC Marcelly, Jessica do Escadão, DJ Glaus, DJ Vicks. Palco Ori Música

 

Sexta-feira, 15 de novembro

11h30 - Mesa literária "Nós Podemos Tudo". Com Gaby de Pretas e Tiamá. Mediação: Andrea Borges. Palco Ori Debate.

14h – Mesa "O que não Mata Engorda". Com Audrey Pulvar e Bela Gil. Mediação: Rokhaya Diallo. Palco Ori Debate.

15h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Bell Puã e Stephanie Borges. Palco Atlântica.
16h - Mesa literária "Améfrica - Quando nos Protegemos, nós Protegemos Toda a Humanidade". Com Elisa Loncón e Christiane Taubirà. Mediação: Luciana Diogo. Palco Ori Debate.

17h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Elisa Lucinda e Roberta Estrela D'Alva. Palco Atlântica.

18h - Podcast Angu de Grilo ao vivo na Flup. Bela Reis e Flavia Oliveira entrevistam Luanda Carneiro e Sueli Carneiro. Palco Ori Debate.

20h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Eugenio Lima, Luiza Romão e Yuliana Ortiz. Palco Ori Música.

20h30 - Mesa literária "Dissolvendo as Fronteiras". Com Afua Hirsch e Rokhaya Diallo. Mediação: Mame-Fatou Niang. Palco Ori Debate.

22h - Dani Nega e convidadas Ellen Oleria e Bia Ferreira. Palco Ori Música.

23h30 – DJ

00h - Roda de Samba Azula. Palco Ori Música.

01h20 Irmãs de Pau. Palco Ori Música

01h50 - Batalha Vogue. Palco Ori Música

 

Sábado, 16 de novembro

11h - Mesa literária “Uma história que nos negaram”. Com Siyabulela Mandela, Tiago Rogero, Candinho e Benedita da Silva e Joel Luiz da Costa. Palco Ori Debate

13h30 - Mesa literária "É Preciso uma Aldeia Inteira para Educar uma Criança". Com Vanda Machado, Socorro Baniwa e Givania Silva. Mediação: Dandara Suburbana. Palco Ori Debate.
15h - Mesa literária "Deus também precisa ser Descolonizado". Com Abena Busia e Nadia Yala Kisukidi. Mediação: Olivette Otele. Palco Ori Debate.

16h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Menino Jezz e Pi Eta Poeta. Palco Atlântica.

17h - Monólogo/performance: "Diário do Retorno ao País Natal". Com Jacques Martial. Palco Ori Música.

18h30 - Ciclo Aquilombamentos "Quilombismo". Com Molefi Asante, Kabengele Munanga e Vilma Reis. Mediação: Katiúscia Ribeiro. Palco Ori Debate.

20h - Sarau Beatriz Nascimento. Com Tom Grito e Xiatitia. Palco Atlântica.

20h30 - Mesa literária “Notícias Poéticas entre Brasil e Angola”. Com Tiganá Santana, Leda Maria Martins e Kalaf Epalanga. Mediação: Ana Paula Lisboa. Palco Ori Debate

22h30 - Show de Fabiana Cozza. Palco Ori Música.

23h45 - DJ. Palco Ori Música.

00h15 - Roda de Samba Moça Prosa. Palco Ori Música.


Domingo, 17 de novembro

14h - Mesa literária "O mundo que as mulheres inventaram". Com Mãe Flávia Pinto e Yemojazz. Mediação: Ryane Leão. Palco Ori Debate.

15h30 - Sarau Beatriz Nascimento. Com Renata Tupinambá e Auritha Tabajara. Palco Atlântica.

16h - Mesa literária "Se eu não contasse a minha história, ninguém o faria por mim". Com Olivette Otele e Aminata Traoré. Mediação: Nadia Yala. Palco Ori Debate

17h30 - Mesa literária "Roda a saia, Gira a Vida”. Com Marithea, Yuliana Ortiz Ruano e Ana Paula Lisboa. Mediação: Luiza Romão. Palco Ori Debate.

19h – Sarau Beatriz Nascimento. Com Eliane Potiguara e Priscila de Jesus. Palco Atlântica.
19h30 - Mesa "Artesãs de nós mesmas – as imagens que criamos para nosso quilombo”. Com Ayoko Mensah e Josephine Apraku. Mediação: Jesse Oliveira. Palco Ori Música

21h - Show de Amaro Freitas e Zé Manuel tocam Clube da Esquina. Com participação de Bethânia Nascimento - filha de Beatriz Nascimento. Palco Atlântica

22h - Batalha do Passinho. Palco Ori Música.

23h30 - Baile do Ademar. Com El Chojin, rapper espanhol, e Ramonzinho. Palco Ori Música.

 

Julio Ludemir: 'A gente quer redesenhar a palavra 'periferia' em toda a sua potência'

| Foto: Divulgação

Uma das vozes de maior impacto na literatura de investigação do crime no Brasil dos 2000, catapultado ao estrelato com "No Coração do Comando", o olindense radicado no Rio Julio Ludemir reinventou-se como um produtor de eventos ao criar a FLUP em duo com Écio Salles (1969-2019). Não abandonou as reflexões da escrita, a partir das quais gerou livros preciosos como "Rim Por Rim", mas passou a se debruçar mais e mais à triagem e ao estudo das ações de decolonização. Na entrevista a seguir, ele explica o que muda em seu festival com a ida para a coração geográfico do Povo de Rua na cidade.

O que a Lapa simboliza culturalmente para a FLUP 2024?

Julio Ludemir: Foi uma escolha territorial em função das ações do G20, no Museu de Arte Moderna, a fim de fazer com que os líderes mundiais todos lá presentes prestem atenção às vozes que estamos reunindo. Se eles não reconhecerem a relevância das mulheres pretas, das populações indígenas e da comunidade queer, nada do que vão dizer há de atender o mundo contemporâneo e suas urgências. A Lapa é um lugar que recebe todo mundo.

Você morou na Lapa?

Vivi lá na década de 1990, numa Lapa que era dos malandros, das travestias, de casas abandonadas, bem diferente da cena de hoje. Era uma época em eu que ligava para a família, em Pernambuco, de um orelhão de fichas e, quando demorava muito, alguém na fila me ameaçava, dizendo: "Vou chamar um malandro para te tirar daí".

Essa Lapa "noventista" ou a Lapa de hoje, ou mesmo a mais ancestral, estão na literatura?

O grande livro sobre ela é "Lábios Que Beijei", do Aguinaldo Silva, um autor nordestino queer que pensou a cidade. Fora isso, a Lapa ganhou o samba, que a devolveu a seu lugar e origem, mas ela não ganhou a literatura contemporânea como deveria. Não há um "Cidade de Deus" da Lapa. Nem a Lapa da classe média foi para a literatura.

Em 12 anos, o que mais mudou na Flup?

Quando a Festa Literária das Periferias nasceu, ela foi entendida como projeto social, como um gesto que, no máximo, identificava quem eram as vozes autorais periféricas. A gente era visto pela classe média como "ação social que dava oportunidade aos ferrados do mundo". Pouco a pouco, com muito empenho e com escuta, viramos um festival multimídia e multiplataforma. Nossa musculatura foi torneada para ocupar outro imaginário na cidade, no país e do mundo, criando para si um lugar de fala para os combates decoloniais. A FLUP é das mulheres, é das populações pretas, de indígenas, da macumba. É com essas representações que a gente quer redesenhar a palavra "periferia" em toda a sua potência.

Você tem origem judia, ou seja, é ligado ao povo de uma das maiores diásporas da História. O que existe de diaspórico na Flup?

Seguimos o conceito de Atlântico da (ativista e pesquisadora) Beatriz Nascimento, segundo o qual o mundo ganhou identidade a partir das águas, sem fronteira. É um mundo Oxum.