Eternizado como voz crítica dos processos nacionais de exclusão em livros como "Triste Fim de Policarpo Quaresma" (1911), Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) volta a mobilizar debates em diferentes frentes da literatura preocupadas na construção de novos olhares. Às 17h30 desta quarta-feira, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz (recém-eleita imortal da Academia Brasileiras de Letras) e a ensaísta, crítica e professora da UFRJ Beatriz Resende vão debater a obra do escritor no Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ).
No sábado, a Festa Literária das Periferias (Flup) põe à venda o livro o livro "Quilombo do Lima" (ed. Malê), uma antologia de contos produzidos por 22 expoentes da prosa, negras e negros, inspirados na obra de Lima. São novas interpretações de seus escritos.
"Lima Barreto, no seu próprio contexto, definiu a literatura que ele fazia como uma literatura militante", explica Lilia, ao Correio da Manhã.
"O sentido que ele dava a esse conceito é que era uma literatura muito vinculada ao seu momento e aos problemas do seu contexto. Lima Barreto era um homem negro que vivia no subúrbio do carioca, tomava o trem da Central do Brasil todos os dias, e é fato que a questão racial aflora como uma espécie de nervo. Um nervo tenso, forte e pulsante da obra desse escritor. Nesse sentido, a obra dele vai sendo revisitada por conta de uma modernidade revivescida. Ela vai sendo revisitada por conta de questões que são estruturais da nossa sociedade".
Nesta tarde, no CCBB, Lilia e Beatriz prometem mobilizar o CCBB com uma análise sobre o livro "Contos Completos de Lima Barreto", concentrando-se nas narrativas curtas criadas pelo autor de "Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) e resgatadas por meio de pesquisa em edições originais, jornais e revistas da época, e mais dezenas de inéditos, retirados de seus manuscritos.
"Nas discussões identitárias de hoje, um romance que a mim encanta enormemente, que é o 'Clara dos Anjos', vem sendo relido de maneira muito proveitosa. É um romance que bate fundo principalmente nas jovens mulheres negras, que passaram a dar à leitura do Lima um novo viés", explica Beatriz Resende. "Só neste século estamos em condição de entender tudo o que era importante em Lima Barreto, uma voz inaugural que só agora é devidamente compreendida e encontra a repercussão devida. Há novas edições críticas de sua obra e, felizmente, novos leitores".
O colóquio de Lilia e Beatriz, mediado pela poeta, professora e produtora Suzana Vargas, promete um balanço do olhar moderno trazido por Lima para a prosa nacional. "Na biografia, que eu escrevi sobre ele ("Lima Barreto - Triste isionário") e nos textos que venho escrevendo, defendo a ideia de que é preciso pensar em modernismos no plural, em outros modernismos, e que Lima era muito moderno. Na linguagem das ruas que utilizava, nos temas que abordava, da maneira como abordava, na inclusão dos diálogos".