Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Nolan nas alturas...e nas livrarias

Nolan com Cillian Murphy no set de 'Oppenheimer': diretor inspira mercado editorial | Foto: Universal Pictures

Logo que se digita o nome do ganhador do Oscar de Melhor Direção de 2024 no buscador da Amazon, "Christopher Nolan: The Iconic Filmmaker and His Work", de Ian Nathan, lançado em 2022 pela White Lion Publishing, é o primeiro dos muitos (mas são muitos mesmo) livros sobre o realizador de "Oppenheimer".

Aliás, até o roteiro oficial do blockbuster ganhador de sete estatuetas da Academia de Hollywood se encontra à venda no www.amazon.com.br - a autoria é do cineasta. Inclua nesse cardápio "The Nolan Variations: The Movies, Mysteries, and Marvels of Christopher Nolan", uma pataca de 400 páginas editada pela Knopf Publishing Group, sob a autoria de Tom Shone. É uma prova de que o mercado editorial quer saber mais sobre o artista que desafiou convenções do cinemão transformando episódios da História (vide a batalha de Dunkirk, na II Guerra Mundial, e a construção da bomba atômica pelo físico J. Robert Oppenheimer) em espetáculos rentabilíssimo e esteticamente ousados. Essa dimensão espetaculosa dele se estende a sci-fis (como "Inception" e "Interestelar", sua obra-prima), thrillers ("Tenet", "Amnésia") e adaptações de HQs ("Batman - O Cavaleiro das Trevas").

Em 2018, logo que "Dunkirk", uma produção de US$ 100 milhões, tornou-se uma campeã de bilheteria, com um faturamento de US$ 530 milhões, a editora Cátedra, da Espanha, editou "Christopher Nolan", em seu selo Signo e Imagen, sob a autoria de José Arad. Já na França, o legado que ele vem criando desde seu primeiro longa-metragem, "Following" (produção de 1998 hoje acessível na plataforma MUBI), inspirou as páginas de "Les Théorèmes de L'Illusion", de Guillaume Labrude, e "La Possibilité d'un Monde", de Timothée Gérardin.

Já no Brasil, o cineasta, videomaker e produtor musical Pablo Savalla entrou para esse rol de investigações com o precioso "O Poder Esmagador do Cinema - Christopher Nolan e a Tecnologia Imax", editado pela Cinco Gatas. Em suas páginas, num minucioso estudo sobre a depuração imagética do audiovisual a partir de tecnologias de captação de movimentos e de projeção, ele aborda títulos pouco citados do realizador, como "O Grande Truque" (2006), com Hugh Jackman, Scarlet Johansson, Christian Bale e David Bowie.

"Christopher Nolan possui um jeito muito único de escrever e fazer seus filmes", diz Savalla. "Ele é um autor e faz cinema de autor. E assim como outros diretores que seguem essa linha de cinema autoral, acaba dividindo a crítica. Por mais que ele faça grandes blockbusters, é inegável dizer que ele tem um estilo próprio e isso acaba dividindo opiniões e gerando infelizmente até preconceito com sua obra. Para qualquer admirador de Nolan, dia 10 de março de 2024, foi um dia histórico. Com uma filmografia invejável e inegavelmente brilhante, Nolan até então, não tinha levado um Oscar para casa. Tendo apenas sido indicado uma única vez na categoria direção, em 'Dunkirk'. 'Oppenheimer' veio consagrar tardiamente seu total domínio e maestria ao contar uma história visualmente, pois há anos, ele já possuía o respeito entre seus colegas de profissão. Nolan, com ou sem Oscar, mantém-se entre os diretores mais rentáveis de Hollywood e seus filmes são sinônimo de sucesso e qualidade".

Disponível no streaming MAX (ex-HBO), "Tenet" é considerado por muitos o maior enigma do corpus criativo de Nolan, em sua forma de abordar o Tempo num estudo sobre antimatéria. A sequência inicial é um deslumbre, mas muita gente jura não ter entendido a proposta trazida pelo longa, que foi lançado assim que o primeiro lockdown decorrente da covid-19, em 2020, arrefeceu. Savalla traz um olhar refrescante para o debate em torno do filme.

"Por mais que em 'Tenet' a bilheteria tenha ficado a desejar (por conta de seu lançamento em plena pandemia), a IMAX há anos se tornou sinônimo de qualidade e imersão dentro de Hollywood. Já está mais do que consagrado a sua importância qualitativa dentro do meio e inclusive atrativa de público. Por ter sido pioneiro em mesclar o cinema hollywoodiano e a IMAX, Nolan foi o principal diretor que popularizou a tecnologia. Cada vez mais são lançados filmes em salas IMAX e cada vez mais é filmado em IMAX. 'Oppenheimer' comprova o sucesso estrondoso e inegável dos benefícios de saber usar a tecnologia IMAX a seu favor", diz Savalla, um tanto descrente acerca do "sim" que seu objeto de estudo possa dar a família Broccoli, a detentora dos direitos de produção da saga "007" para pilotar o novo James Bond.

Tudo indica a escolha do britânico Aaron Taylor-Johnson como substituto de Daniel Craig. Mas Zavalla duvida de que Nolan aceite dirigir a próxima aventura do espião, apesar do forte apelo da produtora Barbara Broccoli para tê-lo no projeto, depois que "Oppenheimer" faturou US$ 960,7 milhões mundo adentro.

"Não consigo visualizar Nolan preso novamente a uma franquia e seus moldes. Só vejo ele neste cenário, se derem carta branca para ele fazer o que ele bem quiser com 007", diz Savalla. "Não sei se os donos dos direitos de James Bond estão preparados para tal liberdade criativa como podemos ver em 'A Origem' e 'Tenet'".

No mercado internacional, um dos títulos mais primorosos sobre Nolan é "Imagining The Impossible", organizado por Jacqueline Furby e Stuart Joy para a Wallflower Press, no selo Director's Cut. É uma leitura plural, com articulistas de distintas formações.

 

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