Por: Folhapress

Potência da literatura diante do nefasto

| Foto: Divulgação

No verão de 2020, a escritora norueguesa Hanne Orstavik perdeu o marido, que tinha câncer. Estavam juntos há quatro anos: dois anos sem a doença e dois com ela. Ele era seu editor italiano, e os dois viviam juntos em Milão. "Ti Amo", primeiro livro da autora lançado no Brasil, foi escrito no final desse processo. A história é narrada por uma escritora com as mesmas características de Orstavik, incluindo sua nacionalidade, o que convida a uma rápida identificação biográfica e ao equívoco de tratar-se de um experimento autoficcional.

Mas a autora não brinca com as fronteiras entre ficção e realidade; para ela, escrever o romance é descobrir algo na relação com o outro e investigar a experiência de se estar próximo da morte. "Ti Amo" é, assim, um romance que questiona de que maneira a literatura consegue se relacionar com a vida, cristalizar aquilo que na vivência cotidiana desaparece e se torna um rumor irreal, sob o peso da dor e da perda. Ressalta a potência da poesia e da beleza que só a literatura pode conferir aos fatos mais cruéis e nefastos da vida.

Escrito no limiar da existência, o relato é estruturado como um diário ou uma carta dirigida a um "tu", num diálogo com o marido que vai morrer. A história se compõe à medida que se desenrolam as peripécias de exames médicos, tratamentos, refeições, encontros com amigos e a aparição de sintomas, tudo num período de dez dias. 

 

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