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Paraty respira literatura

A 23ª edição da Flip começa nesta quarta-feira e vai até domingo | Foto: Fotos Divulgação Flip

Em 2023, uma importante tradição da Festa Literária Internacional de Paraty será restabelecida. Nesta quarta-feira (22), ao fim da primeira mesa do programa principal com os autores Adriana Armony e David Jackson, às 21h, Adriana Calcanhotto se apresenta no Auditório da Praça. A cantora convida Cid Campos, seu parceiro musical de longa data, para uma apresentação que celebra a autora Patrícia Galvão, a Pagu (1910-1962) e também Augusto de Campos (1931-1994). O show terá projeção de imagens e vídeos concebidos por Omar Salomão e Emílio Rangel.

Filho de Augusto, Cid Campos é responsável por musicar diversos de seus poemas e traduções, alguns deles contidos na nova antologia "Viva Vaia" que a Ateliê Editorial publica durante a festa.

A ideia é conectar o espírito de diversas mulheres que simbolizaram rupturas inconformadas e indóceis com sua época - entre elas, até mesmo a americana Emily Dickinson, traduzida por Augusto de Campos em poemas musicados por Cid. "São interligações entre diversas mulheres que me formaram, das quais eu sou uma espécie de elo", afirma Calcanhotto.

A cantora, que tem um lado acadêmico aflorado e vem de uma temporada como professora na Universidade de Coimbra, em Portugal, foi convidada pela curadoria da Flip para pensar um repertório especial para o show.

Calcanhotto lembra que entrou em contato com a obra de Pagu e Campos ao mesmo tempo - ele realizou uma espécie de biografia bastante aclamada da autora há cerca de duas décadas. Foi um desdobramento do interesse pelo modernismo que caracteriza boa parte de sua obra como compositora. "Era como se um homem tivesse dado luz a ela para mim."

Daí a conexão com um show que, de forma similar, usará palavras de Pagu para exaltar e invocar sua presença - Cid Campos também musicou alguns dos poemas da ativista, que se aproximam do estilo de Augusto em sua forma compacta. "Ela hoje está numa posição protagonista, não mais como musa, mas como como a criadora revolucionária que foi", afirma ele.

Era uma artista tão multifacetada, nas palavras de Calcanhotto, a ponto de "cada um ter a sua própria Pagu". A música escrita por Rita Lee e Zélia Duncan, que a cantora incorpora no repertório da abertura, espelha como Patrícia Galvão era mesmo um prisma de personalidades e manifestações artísticas - basta ver com quantos nomes diferentes ela assinava seus textos.

A apresentação de Calcanhotto, segundo a professora e pesquisadora Milena Britto, evidencia a razão de ser da proposta curatorial desse ano - uma demonstração de como Pagu deixou suas digitais na cultura como um todo e numa postura própria diante do mundo.

Além do show de abertura e das 20 mesas literárias, a programação principal será composta por oito performances artísticas, cada uma delas concebida ou adaptada para criar um diálogo vivo com o conceito e as discussões da 21ª edição da Festa.

Nesta quinta-feira, a cantora e compositora Juliana Perdigão apresenta Folhuda, show composto por canções autorais, feitas a partir de textos de poetas brasileiros. No fim do dia, às 22h, o Auditório da Praça será palco de O céu em meu eco, da poeta-palindromista e compositora Marina Wisnik.

Na sexta-feira, às 13h15, acontece Aquenda - o amor às vezes é isso, de Luna Vitrolira, performance do livro homônimo, finalista do Prêmio Jabuti em 2019, e que alçou a multiartista como uma importante voz da poesia pernambucana. Às 22h, a poeta e performer Natasha Felix convida o DJ Joss Dee para Apupú - onde os corpos vibram, uma apresentação na qual o poema falado habita a pista e passa a fazer parte do set musical, trazendo versos que investigam a noção de fuga criativa e a vitalidade.

Às 13h15 do sábado, 25 de novembro, Cid Campos apresenta o show Poesia é risco, composto por parcerias de Cid Campos com seu pai. Às 20h30, A guerra do absurdo não tem fim, de Débora Arruda, ocupa o Auditório com seus poemas-rituais que jogam luz sobre a construção da identidade indígena. Logo em seguida, às 21h30, Nelson Maca apresenta Tamborismo: poesia & tambor, uma vívida investigação sobre o ritmo da língua e do corpo, acompanhada pelo couro dos tambores e pelos efeitos da percussão afro-diaspórica.

No domingo, 26 de novembro, o último dia da Flip, Iara Rennó apresenta, às 13h15, a performance Rio sangue, em versão especialmente adaptada à Flip, baseada em textos de Pagu e alguns de seus contemporâneos.

SERVIÇO

FLIP - FESTA LITERÁRIA DE PARATY

De 22 a 26/11

Programação completa: https://www.flip.org.br/programacao-flip-2023

 

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