Por: Rodrigo Fonseca (Especial para o Correio da Manhã)

Carlos Cardoso: 'Em cada livro há uma nova voz'

Carlos Cardoso lança 'Coragem', seu mais novo livro na terça-feira (17) | Foto: Divulgação

"Nem o ouro ou a memória/ de todas as estátuas esculpidas pelo mundo/ trariam a felicidade nessa vida de desejos" é arqueologia lírica da obra de Carlos Cardoso, encarado como uma das maiores potências da poesia nacional hoje, sobretudo depois da consagração do livro "Melancolia", de 2019, com o Prêmio APCA. Ele regressa às livrarias esta semana com "Coragem". O lançamento será na próxima terça-feira (17), às 18h, na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572), com sessão de autógrafos do autor e uma mesa com dois imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antônio Carlos Secchin e Geraldo Carneiro.

Na entrevista a seguir, Cardoso compartilha seu olhar sobre o coeficiente afetivo da poesia.

De que maneira o amor ainda se mantém - e se renova - como objeto de uma poesia capaz de falar para tempos tão bélicos, e tão despojados de consenso? Poesia é consenso ou dissonância no Presente?

Carlos Cardoso: Penso que a poesia traz o sublime diante do caos. O consenso e a dissonância percorrem a mesma estrada na poesia. O amor, enquanto acontecimento do sublime, deve se manter e se renovar apesar da dissonância e, talvez, junto à dissonância de nosso tempo. A poesia se mantém como um ato de amor, um grito de esperança.

Seu livro anterior, "Melancolia", era um processo ontológico, de uma indelével e umbilical conexão com a angústia de ser e de estar, numa linha investigativa com forte verve filosófico. Já "Coragem" parece seguir uma linha mais telúrica e mesmo sanguínea sobre a alma e os vazios. O que essa mudança, se é que é consciente, revela sobre seu processo de escrita e sobre sua reflexão sobre a vida?

Cada obra revelou singularidades de períodos distintos de minha vida. Acredito que a escrita acompanha a experiência subjetiva do mundo a partir de quem somos naquele momento. Isto mostra que os livros são únicos. Em cada livro há uma nova voz.

O que mar e pedra - os signos naturais que tanto cicatrizam seus poemas - trazem como símbolo da sua relação tátil com a poesia?

Os elementos da natureza - o mar e a pedra - trazem símbolos da interioridade do poema. As imagens nos poemas buscam modos de lidar com o humano; tentativas de fusão do humano com o cenário da natureza, para então encontrar a linguagem do mar, a linguagem das pedras.