Por: Leida Reis | Especial para o Correio da Manhã

Fliti: Encontros marcados em Tiradentes

Valeria Motta e Mary Del Priori em uma das mesas de debate | Foto: Fotos/Carlos Monteiro

Uma programação mais abrangente, com nomes de destaque da literatura brasileira, contribui para consagrar a Festa Literária de Tiradentes (Fliti), que em sua quarta edição homenageia o centenário de nascimento do escritor mineiro, ganhador dos prêmios Jabuti e Machado de Assis, Fernando Sabino. A ideia surgiu de um "Encontro Marcado" - alusão a um dos livros mais conhecidos do autor - da produtora da Fliti, Cristina Figueiredo, com o filho de Fernando, Bernardo Sabino.

Os escritores Ruy Castro, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), e Heloisa Seixas dividem a mesa "Corações e mentes" neste sábado, às 17h, com mediação de Cristiane Costa, para falar da convivência e da dualidade ficção e não ficção. "Ruy Castro e eu temos uma convivência de 33 anos, o que, sendo ambos escritores, permite uma troca muito rica. Ainda mais porque ele é um homem da informação que escreve principalmente não ficção, e eu, ao contrário, sou romancista". Ruy retorna domingo pela manhã para falar de "A Vida por Escrito", com Tom Cardoso e Karla Monteiro.

Sobre a importância dos eventos literários, Ruy Castro considera que o contato direto de autores com os leitores humaniza a produção literária. "Mas de nada adiantará se não houver investimento maciço na educação, pagando melhor os professores e lhes permitindo tornar a literatura interessante para os alunos. Do jeito que tem sido, eles próprios, os professores, têm pouco acesso a livros. Os livros no Brasil não são caros, o Brasil é que é pobre. Quando se cuida da educação, a cultura cuida de si mesma", afirmou. Heloisa lembra que desde a criação da Flip (Festa Literária de Paraty), no Rio, eventos em cidades pequenas, "turísticas e charmosas", como Tiradentes, atraem pessoas que antes talvez não estivessem expostas ao livro e à leitura.

Um dos destaques do primeiro dia da Fliti foi a historiadora e escritora Mary Del Priore, com a palestra "De Xica da Silva a Tarsila: mulheres de uma nação". Mary contou a história da artista plástica Tarsila do Amaral, sua criação católica rigorosa, a ida para a Europa, sua relação com Oswald de Andrade, uma vida "doce-amarga", como está no título do seu livro. Mary também tem divulgado seu curso sobre sexualidade feminina, que para ela é social e culturalmente construída. "Vemos que a palavra 'orgasmo' só apareceu na imprensa na década de 80, depois da segunda revolução feminista", afirma. Uma sexualidade plena e feliz, para ela, pode ser vivida tanto por uma mulher emancipada num círculo urbano, como por uma que vive no pudor e no recato. "O importante é que todas elas o façam com respeito a si próprias, isso é fundamental", defende.

A Fliti acontece em quatro espaços. As tendas dos debates principais e a feira de livros, com 35 estandes, estão na Praça da Rodoviária, e há programação complementar em outros três espaços, incluindo um ônibus-biblioteca no Largo das Mercês. Um dos expositores, Bruno Thys, da Editora Máquina de Livros, avalia que as feiras já estão entre os principais canais de venda. "Para mim, o mais legal, como editor, é estar com o leitor". A editora Rosana Mont'Alverne, da Aletria, diretora da Liga Brasileira de Editoras, participou de todas as edições da Fliti e acredita num público expressivo no final de semana. E este é o primeiro evento da Literíssima Editora, novo nome da Páginas Editora, que já participou de edições da Flip, da Fliti e outras feiras.

 

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