Eu, Cler e Xuru

Por

Domingo, mais ou menos às três da tarde, desci de casa - raramente - e peguei o Uber para Copacabana. Fui encontrar meu amigo Cler para tomarmos um chope dourado da felicidade. Onze de setembro, 11/09. Para todo mundo, um dia triste desde 2001. Para nós dois e alguns amigos, 17 anos da morte do grande amigo Xuru, um ícone de Copacabana que teve outros codinomes como Russ ou Russinho da Atlântica, em alusão à famosa e misteriosa avenida.

Marcamos no Parada de Copa, legítimo herdeiro do Cervantes, que em breve voltará com tudo. Só Copacabana pra encher nosso coração de esperanças, com exceção dos momentos expo gado.

A corrida foi rápida e tranquila, sempre bonita quando você vai pelo Aterro do Flamengo com aquela visão maravilhosa do Rio de Janeiro. Tem muita coisa bonita na cidade e é uma pena que a maioria não aproveite, já que o povo carioca é massacrado e humilhado o tempo inteiro.

Tudo vazio, frio e gris na tardinha dominical, mal chego ao bar e Cler já tinha matado um sanduíche. Então, pedimos algumas batidinhas de coco e pacíficos chopes dourados da felicidade. E disparando nossa conversa fiada, o melhor esporte do carioca típico pelo mundo afora. No fundo, no fundo, a gente tava bem triste pelo nosso amigo, mas conversamos à base de risos durante duas ou três horas sem parar. Cler é muito divertido, fala um monte de besteiras maravilhoso. Nunca o vi triste, nunca - mesmo quando estava, ele disfarçou bem.

Duas belas jovens ocupam a mesa ao lado, precisam de uma sobressalente, então cedemos a nossa e ficamos apertados. Generosamente, o maitre nos trocou de lugar mais tarde.

E aí veio o futebol. A gente lembra da querida Dona Luzia, mãe de Cler, com quem eu sempre conversava no telefone, zoava o Flamengo e ela retrucava. Rolava até trote com choro, tudo isso por telefone fixo, algo hoje quase inimaginável. Vinte e cinco ou vinte anos passam muito rápido para a gente. O tempo escorre implacavelmente, tudo é efêmero.

Na tela da TV, joguinho mais ou menos de Vasco e Grêmio, enquanto a gente falava do Coldplay. É uma farofa que quase todo mundo gosta, lotou o Rock in Rio, tem gente que detesta, enfim, é o rock até quando roda a baiana e se emaranha pelo pop. Nada como uma porção alucinante de torresminho para aliviar a alma. Bem ao lado fica a rua Figueiredo Magalhães. Morei ali entre 1977 e 1993. É meu aquário natal. Na esquina tinha o Sumol, outra relevante lanchonete do bairro. Grandes tempos.

Seis e pouca da noite, fechamos a mesa. O que é bom acaba rápido. No imaginário, abraçamos Xuru. Rimos de nós mesmos e celebramos alguns dos melhores momentos de nossas vidas. Então Cler segue a Barata Ribeiro, eu viro na Figueiredo e vou até meu shopping predileto, só pra me sentir mais local. Mais vinte minutos e estou em casa, louco de saudade de Copacabana e do meu velho camarada Russinho da Atlântica.