'Heat 2', um best-seller cinéfilo

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Envolvido neste momento na preparação de "Ferrari", com Gabriel Leone em seu elenco, o diretor Michael Mann virou o atual darling das livrarias - e da Amazon - nos EUA, atraindo para a literatura um público mais interessado em cenas de ação vertiginosas do que em metáforas impressas com tinta. Duas semanas atrás, ele e a escritora Meg Gardiner lançaram "Heat 2: A Novel" (editora William Morrow & Company), uma retomada do universo retratado num dos maiores cults do cineasta: "Fogo Contra Fogo" (1995). Instantaneamente um fenômeno se abateu sobre o mercado editorial dos EUA. É um tal de gente comprando o romance para Kindle e encomendando sua versão com capa dura. Há quem defenda que ele leve alguma das principais honrarias das Letras na América em 2022. E tudo isso acontece em volta de um enredo de polícia e ladrão que surpreendeu espectadores por sua ousadia gráfica e pelo impacto de sua montagem. E o mesmo acontece agora com a incursão do realizador de sucessos como "O Informante" (1999) e "Colateral" (2004) pela escrita, a julgar pelos elogios recebidos de bambas da prosa como James Patterson. Este escreveu: "Já estou a citar linhas de 'Heat 2' aos meus amigos escritores, sem vergonha, dizendo que as linhas são minhas".

Em junho deste ano, em Nova York, uma cópia restaurada em 4K do longa foi projetada no Festival de Tribeca. Essa versão ainda não chegou por aqui, mas, ainda assim, é possível conferir a produção de US$ 60 milhões na Amazon Prime brasileira. Suas sequências de tiro e perseguição marcaram época. Sua bilheteria beirou US$ 187 milhões. Em sua estreia, há 27 anos, o filme marcou o primeiro encontro de Pacino e De Niro EM CENA, uma vez que os dois estiveram em "O Poderoso Chefão II", mas sem contracenarem, visto que seus personagens aparecem em épocas distintas. Em 2008, eles fizeram, juntos, "As Duas Faces da Lei", e, em 2019, "O Irlandês".

Sob a direção de Mann, De Niro é o ladrão de carros-fortes Neil McCauley, que lidera uma gangue especializada em assaltos mirabolantes, com armamento pesado, usando máscaras de hóquei. Pacino é Vincent Hanna, um dedicado policial, cuja vida pessoal está em frangalhos, empenhado em capturar McCauley. Mas um código de honra inusitado vai nascer entre eles, no momento em que Hanna tenta ajudar sua enteada (Natalie Portman) e que Neil engata um romance com uma especialista em artes plásticas, Eady (Ay Brenneman).

Ao longo de 480 páginas, "Heat 2 devassa as estruturas criminosas de Los Angeles. O livro começa do ponto em que "Fogo Contra Fogo" termina nas telas. Vai e volta no tempo, até os anos 1980, retratando a origem de seus dois protagonistas. Um dia após a resolução da trama do longa, o ladrão Chris (interpretado por Val Kilmer no filme) está escondido em Koreatown, ferido, delirante, a tentar desesperadamente fugir de LA. A caçá-lo está o detective da LAPD Vincent Hanna (Al Pacino). Horas antes, Hanna deteve McCauley. Agora, Hanna está determinada a capturar (ou matar) Chris, que é o último sobrevivente da tripulação de McCauley, antes de ele sair da cidade.

Ao retratar o passado, indo até 1988, McCauley, Chris e a sua gangue estão na fronteira entre os EUA e o México, emplacando um roubo atrás do outro. Por outro lado, Hanna segue sua vocação de homem da lei, em perseguição a criminosos violentos. O que lemos é uma trama que se candidata a clássico na literatura, numa intertextualidade com o cinema. Estima-se já uma versão do romance pro cinema.