Os bastidores de um mimo saboroso

Conheça os queijos que Lula deu a Macron e veja como comprá-los

Por Flávia G. Pinho (Folhapress)

Lula e Macron exibem a cesta com as amostras de queijos premium brasileiros e outras delícias

Foi uma correria. Na quarta-feira pela manhã, um funcionário do Ministério das Relações Exteriores telefonou esbaforido para a queijista Rosanna Tarcitano, que mora em Brasília. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele precisava organizar uma cesta de produtos brasileiros, com destaque para queijos nacionais, para que fossem dados de presente ao presidente francês, Emmanuel Macron. O problema era o prazo: o regalo deveria ser entregue na manhã seguinte.

Com uma década de experiência no ramo e uma das fundadoras da Associação de Queijistas do Brasil, a ComerQueijo, Tarcitano não se apertou. Acionou uma colega do Distrito Federal, Sandra Moser, e pediu socorro. "Como ela vende queijos em feiras, costuma ter algum estoque", conta.

A produção do presente ainda passou por uma negociação digna de diplomatas. A expectativa do Itamaraty era juntar apenas queijos mineiros na caixa, mas Tarcitano foi contra. "Sugeri uma diversidade maior de sabores, porque várias regiões do Brasil têm queijos maravilhosos e premiados", diz. O argumento colou.

Da lista inicial, com dez queijos, já ficaram de fora os produtos que demandavam refrigeração - era impossível saber como o presente chegaria às mãos de Macron, e se o presidente francês provaria os queijos aqui mesmo, em solo brasileiro, ou se os levaria para casa.

Outra demanda do Itamaraty ajudou a reduzir a lista: que os queijos tivessem conquistado medalhas no Le Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, uma das mais importantes competições internacionais, realizada na França.

A ideia era que o presente funcionasse como uma divertida provocação a Macron.

Daqueles dez queijos da primeira seleção, quatro se enquadravam. Mas Tarcitano apelou para a diplomacia mais uma vez e convenceu o funcionário do ministério a incluir outros dois produtos que, na sua opinião, retratavam melhor a diversidade queijeira do país. Bingo de novo.

"Às 14 horas, a lista já estava fechada e aprovada e começamos a formar o presente. Como alguns queijos são enormes, optamos por entregar frações embaladas. Às 17h, o presente estava pronto, para ser entregue na manhã seguinte", lembra a queijista.

A caixa de papelão dada a Macron, com serragem no fundo, não continha apenas queijos. Entraram no kit um pacote de café e o espumante 130 Brut Blanc de Blanc, produzido com uvas Chardonnay de safras especiais pela gaúcha Casa Valduga.

Na véspera do feriado de Sexta-Feira Santa, a foto dos dois presidentes, sorridentes com o presente nas mãos, circulou rapidamente nas redes sociais e portais de notícias.

Se o gesto vai se refletir em aumento de vendas, é cedo para saber. Mas o queijeiro Bento Mineiro, produtor paulista do queijo Pardinho, está otimista. "Não há dúvida da relevância do gesto. Esse trabalho de relações públicas pode, sim, ter efeito comercial."

Proprietário da loja Galeria do Queijo, na zona sul de São Paulo, o comerciante Falco Bonfadini não chegou a notar um aumento imediato na procura pelos queijos do presidente. Mas se incomodou com o debate político que tomou conta de seu perfil do Instagram.

"Fiz um post para celebrar a visibilidade dos queijos nacionais, nada a ver com política, mas começaram a brigar no meu post", lamenta.

Todos os queijos que Macron ganhou de presente estão à venda em lojas especializadas e podem ser adquiridos diretamente dos produtores.