Esta semana retornei no tempo lendo o artigo do arquiteto mineiro Eduardo Affonso, no site da Lu Lacerda (Galerias), sobre esse programa - Você Sabia?- que era acompanhado por nós com disfarçado interesse, no dial AM 580 Khz, da Rádio Relógio, de 1956 a 2006.
Primeiro, se ouvia um toc-toc dos segundos esperando bater o minuto e, a seguir, a pergunta: "você sabia"? E, imediatamente depois da interrogação vocalizada, vinha um exemplo ("que uma formiga consegue carregar 70 vezes o seu peso", ou que "se chama de ano bissexto àqueles em que fevereiro de 29 dias, porque são anos em que se repete o sexto dia antes do 1°de março"). E por aí afora. Tinha um locutor homem, Tavares Borba e uma mulher, Iris Lettieri, que se alternavam no microfone.
Bom, mas o Eduardo Affonso levanta a questão da chamada cultura inútil o que ele (e eu) questionamos "in limine". Ou seja, quem pode garantir que uma informação aparentemente banal não possa vir a ser de extrema utilidade em uma situação-limite e... quem sabe... mudar a sua vida? Dois amigos meus, por exemplo, ganharam muito dinheiro (**) e fama, por saberem detalhes da biografia de personagens históricos, que muito pesquisador-historiador passaria batido por cima.
São eles a Micheline Christophe, que está jovial e ativa, e o Jean Boghici, que morreu em 2015, aos 87 anos. Ambos responderam às perguntas que o Brasil acompanhou de respiração suspensa, sobre o Egito Antigo e até o Egito Moderno, e sobre Van Gogh, respectivamente, no programa "O Céu é o Limite", da TV Tupi, pilotado com disciplinada emoção pelo J. Silvestre.
E reza a lenda que um candidato passou no exame prévio do exame para o Itamaraty, lá nos primórdios do Instituto Rio Branco, porque acertou a pergunta: "para que lado estava o bico do pelicano na capa da segunda edição de os Lusíadas" (***)?
Epílogo. Ou seja, certas aparentes "banalidades", podem fornecer "ganchos de oportunidades" que servirão para o êxito de uma pesquisa ou para novas perspectivas do estudo de códigos genéticos que ajudarão a compreender a História. Exemplos: o mês de agosto tem os mesmos 31 dias do que o de julho, porque o imperador Augustus, que sucedeu a César, exigiu que "o seu mês" tivesse o mesmo número de dias do que o do seu antecessor (donde fevereiro capenga); Juscelino Kubitschek foi o primeiro, e até agora único, presidente do Brasil de origem cigana: será que esse DNA explica(ria) a compulsão de movimento do JK? Será que no futuro vai-se examinar a árvore genealógica de um candidato antes de votar nele/a?
Com a palavra os sociólogos e cientistas políticos.
** A Micheline não ganhou nenhuma mega-sena, porque perdeu a resposta final. Acertou que existia uma múmia egípcia viva, isto é, com células vivas no corpo, mas se esqueceu do nome dela. Assim mesmo, ganhou uma viagem (com a mãe) pela Agência Abreu para toda a Europa, com esticada para todo o Egito, uma bolsa de História na PUC e - ela me autorizou a contar -, um marido: o Carlos Leonam, embora hoje não estejam mais juntos.
*** No alto da capa dessa edição, está um pelicano com o bico voltado para o sudeste, representando a rota das navegações portuguesas. E, por sua vez, o pelicano representa metaforicamente o animal (o povo) capaz de arrancar do peito a sua própria carne para alimentar os seus filhos.
*Colunista de vinhos e embaixador do Turismo do Rio