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Tokaji e outros vinhos húngaros

Para os brasileiros, mesmo os apaixonados por vinhos (não me refiro aos profissionais), quando se fala em vinho húngaro, o primeiro registro que vem à cabeça é o vinho de sobremesa Tokay (Aszú), dourado e doce. No entanto, hoje isso é apenas uma janela sobre a realidade, embora - claro - ele seja o vinho-embaixador.

Produzido em uma região situada a 200 km a leste de Budapeste, estende-se por uma zona de produção de cerca de 6.000 hectares.

A região, aliás, é tão tradicional e histórica (existe há cerca de mil anos) e se manteve de tal forma intacta, que a sua paisagem cultural faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco, desde Junho de 2002.

É uma área banhada pelos rio Tisza e Bodrog, o que confere ao Tokay uma semelhança com o seu similar maior (rival?), o Château d`Yquem, também ele fruto das terras em torno dos rios Gironde e Garonne, donde a região se chamar Bordeaux, sendo que para alguns etimologistas franceses o nome é uma apocope de "auborddeseaux").

As principais castas utilizadas nesta região da Hungria, principalmente para a elaboração do Tokaji, são as Furmint, casta com um elevado potencial aromático; a Hárslevelü, que proporciona a formação de um elegante bouquet nos vinhos obtidos, e a Muscat. As suas caves são cavadas nas rochas das montanhas vulcânicas da região, formando labirintos que chegam a ultrapassar os 30 quilômetros.

Contudo, a Hungria planta a vinha atualmente em outras 22 regiões. E, de novo, ao contrário do pensa a maioria das pessoas de outros países, há vários tipos de Tokay: este, que descrevi acima, um clássico como vinho de sobremesa, é essencialmente produzido com uvas botritizadas — dentre elas a Tokay Aszu - uvas que apresentam grande concentração de açúcares porque os bagos se rompem pela ação do fungo "botrys cinerea" e a água evapora por esses furos.

Mas além desse, emblemático, também produzem um vinho Tokay seco, branco, muito apreciado (provei e gostei), cultivado por um produtor de sucesso, o Szepsy. E há, também, outros, inclusive tintos, muito bons. Até porque é bom não esquecer que o país é considerado umas das maiores regiões produtoras do leste europeu, e o décimo endereço vinícola do mundo. As castas tintas mais utilizadas são a Kadarka e o Bikavér, da região de Villány, de grande complexidade e elegância.

O único problema é… ler os rótulos. Mas como não se bebe a garrafa, nem os rótulos, "egészség"!

*Colunista de vinhos e embaixador do Turismo

do Rio

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