Acusada ou 'pra não dizer que não falei das flores'

Por Carlos Monteiro - Textos e fotos

Fotocrônica 8/12/24

Virou moda. Acusar sem provas, parece ser a tônica atual para 'se livrar' do indesejável, do que incomoda, do que atrapalha planos.

Sensatez e bom senso passam distantes das 'sentenças' decretadas, quase em tom de veredito, numa condenação sem precedentes. A operação é simples: uma bomba de fumaça rápida para encobrir o véu de tule que, por sua vez, cobre a peneira aparadora de sóis. Não importa se pareça inverossímil, não interessa se está contra a maré, não conta se é uma forma de censura, vidas não importam. Nessa corrida tresloucada pelo poder, pela politização do que não é, nem de longe, muito mais de perto, politizável, nessa leviandade insana em que tudo tem se transformado, o que vale é o êxito, mesmo que ele não exista, mesmo que não haja disputas ou que isso seja absolutamente irrelevante quando existe um bem maior que é a vida.

Nada à justiça dos homens que, determina em seu Artigo 342, do Decreto Lei nº 2.848 do Código Penal Brasileiro que é crime: "Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Nada, também, à justiça divina e sua descrição em Êxodo 20: 1-17 e Deuteronômios 5: 6-21, em relação aos Dez Mandamentos, no oitavo ou nono mandamento, conforme a denominação cristã: "não levantar falso testemunho", "não darás falso testemunho contra alguém", ou ainda "não dirás falso testemunho contra o teu próximo".

Tudo transcrito, claro e bem explicadinho para os puristas. Acusar sem provas, se comprovado, é crime perante os homens e pecado diante do Todo-Poderoso.

Diante de tantas acusações levianas, resolvi listar algumas que, julgo, são muito pertinentes. Acuso as minis formigas, habitantes da minha cozinha, de estarem roubando açúcar e mel fundamentais para o meu crescimento... para os lados. Acuso o garnisé José, do Morro do Cantagalo, de ter saído com o peru para farra e não ter cantado às quatro da manhã. Acuso as fragatas de não terem cumprido o combinado de sobrevoarem o Pão de Açúcar, ao amanhecer, para compor a imagem da 'Alvorada Carioca'. Acuso minha barriga de estar aumentando, injustamente, formando uma espécie de bolha, sem meu consentimento prévio.

Acuso a Chapeuzinho Vermelho de disseminar que o lobo era mau, a Branca de Neve espalhar que a bruxa vende maçãs passadas e o sapo e seu chulé insuportável, estar espalhando uma catinga danada na lagoa. Acuso a dona Baratinha de ter batido asas e deixado seu Barato inconsolável. Acuso a Rapunzel de dizer que suas tranças são naturais, mas, não passam de apliques comprados na rua 7 de Setembro. Acuso a dona porca de se enrabichar com dois parafusos e uma arruela.

Acusar é fácil, difícil é provar, mas, acabam provando, provavelmente, do seu próprio, podre poder de não provar nada 'pra' ninguém.

Seria cômico se não fosse trágico. É trágico!