Por: Carlos Monteiro | Textos e fotos

Fotocrônica: Um novo ano Sol

Fotocrônica 3/1/2025 | Foto: Carlos Monteiro

Que os dias amanheçam lupicinianos, com doses filosóficas de Hegel. Que nos ares, em quantidades certas e equilibradas, exista sempre um certo romantismo cristalino, entremeado de uma porção de 'Fenomenologia do Espírito', ou seria uma poção de encantamentos?

Sempre penso que o Rio recebe doses reforçadas de fluidos mágicos, oriundos da Pedra da Gávea, vindos de uma dimensão paralela onde só existem o amor e a felicidade. Essa fórmula indelével paira sobre nós, emanada por um Merlin carioca que habita aquela esfera dimensional. Um Merlin, cujo chapéu 'bruxesco' é um boné, a túnica uma camiseta acompanhada de uma bermuda e o cajado uma prancha de surf; 'mermão' puro. Ostenta o tal 'dragão tatuado no braço' caetaneando.

O Rio clareará, sob as bençãos de Santa Clara, emanadas do alto da Gávea, vindas de um convento. Clareará meio 'moleque', meio malandro, meio mandrião. Não no sentido exato das palavras, mas naquela deliciosa maledicência tupiniquim-riodejaneirense em chiste, um certo desgabo, somado a uma malemolência, um quê de Zé Pelintra. Romperá os 365 próximos dias lentamente, vagarosamente, o firmamento carioca, assim como desvirginando a madrugada, doce manhã.

O Sol, viva o Sol! - consciência, ao abrir caminho rumo à sua verdadeira existência, atingirá pontos onde se despojará de sua aparência fluídica e se tornará sólido, erguendo, entre quatro paredes mágicas do firmamento, telúricas, pedras auriverdes e pélago. Bola ou bolha de fogo incandescente, tal bolha de sabão etérea do menino das bolas de gude. Talvez à espera da chegada do segundo sol, puramente Laranjeiras e seu 'All Star', realinhando a órbita planetária.

Acordoará Lupicínio, este sol nosso de cada dia, em tanta luz que teremos a leve impressão que cantarolará: "...A minha casa fica lá detrás do mundo / Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar / O pensamento parece uma coisa à toa / Mas como a gente voa quando começa a (brilhar)...".

A cidade enamorada logo lhe responderá, languidamente, acabadiça diante de tanto brilho e intensa luz, desde os primeiros raios, que anunciarão o amanhecer, o céu, costumeiramente em fogo, irá doiar-se exprimindo sua maior vocação: ser Rio! Rio de alegria e festa, de feli(z)cidade e de natureza esplendorosa, de imenso amor à Cidade Maravilhosamente Maravilhosa! O Rio é a libélula Aureliana.

As fragatas escolherão o melhor cenário para o ensaio de seu sensual balé. As montanhas, solares em brilho, exaltarão a nobreza desse espaço nomeado, por Monteiro Lobato, de "Almoxarifado de Deus". O Sol, por sua vez, em malabares mil, irá se apoiar na "Parabólica Camará", no seu exercício diário de se equilibrar no topo do prédio, no topo da cidade, no topo do mundo. Tudo aos pés do Redentor.

Amanhecerá diariamente Prometheus nos 365 dias de 2025!