Por: Carlos Monteiro | Textos e fotos

FOTOCRÔNICA: Contas um conto?

FotoCrônica 19/4/2023 | Foto: Carlos Monteiro

Conto tantos, vários engraçados já vividos que eu não esqueci. Quem nunca passou por situações inusitadas, algumas sem pé nem cabeça? Algumas curiosas, outras engraçadas. Aquelas constrangedoras em que o buraco da ema é pequeno para esconder a cara envergonhada.

Ficam os vexames, as histórias para os netos e as gargalhadas para as mesas de bares.

No apartamento, oitavo andar... gritei: "Entrei na casa do vizinho! Entrei de gaiato no apê!".

Uma amiga querida comprou uma nova moradia na planta. Obra programada com entrega garantida.

Tudo certinho, planejado, pensado, calculado... só que deu errado. Ela devolveu a humilde residência em que, até então, morava, calculando transferir-se diretamente para a nova. Assim economizaria uns trocados com o aluguel. Por sua vez, o proprietário do imóvel aproveitou para acomodar a filha que vinha morar no Rio para realizar um doutorado. Tudo encaixado perfeitamente como num quebra-cabeças, em tempos e movimentos sequenciados milimetricamente. Planilhas complexas e completas, tipo uma sai pela manhã e a mudança, que vem de fora, da outra chega à tarde! A completude estava perfeita apenas com um pequeno detalhe: a construtora não cumpriu a data aprazada.

Encontro-a, dias antes, no Centro do Rio, já em um clima de 'o que eu faço amanhã...'. Era um misto de assustada, com olhos em brasa e respingos da chuva do relógio que atrasa. Clipe sem nexo, pierrot retrocesso, que nexo tem, que nexo faz? Havia acabado de me separar, indo viver em um apartamento de dois quartos com cinco utensílios básicos: um colchão, uma arara para as roupas, uma TV mínima, suavemente pousada sobre um caixote de maçãs Red Indians, catado na feira-livre da rua paralela, fogão e geladeira. Me compadeci com a situação e ofereci o quarto 'às moscas' para que ficasse até a entrega das chaves. Ali mesmo fiz uma cópia da chave, entreguei e apresentei meu novo endereço. Simplesmente esqueci a história.

Vários dias depois chego tarde da noite, momento exaustivo de trabalho, abro a porta e me deparo com um Frajola me olhando sério, cara de quem caiu do caminhão de mudança, em volta vejo uma sala com sofá, poltronas, mesa e cadeiras, luminárias e quadros. Até tapete e cortina tinha.

Assustado, fecho vagarosamente a porta para não dar sinal que havia 'invadido' o apartamento alheio. Estaria ficando louco? Olhei o número na porta. Conferia com o meu; estava lá: '802', mas 'peraí' eu não tenho móveis, muito menos gato. Teriam invadido meu imóvel? Me enchi de coragem, chave na porta e, novamente, o Frajola agora com cara de poucos amigos, tinha alguma coisa de cão de guarda ali, não sei se era poliglota, mas que ele rosnou, ah, ele rosnou e alto. Resolvi não encarar. (continua...)