Por:

FOTOCRÔNICA: Com mais de trinta

FotoCrônica 29/3/24 | Foto: Carlos Monteiro

O dia amanheceu com um certo ar de mistério, empoderado, maduro, lindo, absolutamente real. Bem capaz de ser uma forma de homenagear Honoré de Balzac. Amanheceu Pasqualizado entre brumas e pássaros.

Alvoreceu balzaquiano, um Le Lys dans la vallée orvalhado. Em busca, quem sabe, das Illusions perdues, ou, talvez, da La Recherche de l'absolu.

O fato é que, para homenageá-lo, a natureza, sutilmente, elegantemente, encantadoramente, tal qual La Femme de trente ans, pediu que viessem as fragatas em seu balé. Já não mais um ensaio, mas a apresentação de estreia. Vieram acompanhadas pelos urubus-rei. Numa coreografia integrativa, bailaram, bailaram, bailaram sobretudo, creio eu, para esquecerem La comédie humaine destes tempos trevosos nos quais vivemos atualmente. Como é cruel bailar assim.

Com açúcar e muito afeto seguiram bailando pela amplidão. Num instante de ilusão voaram, bailaram na fumaça um mundo novo, fazem um novo mundo na fumaça.

Os irmão Valle trautearam na voz de Cláudia: "...Não confie em ninguém com mais de trinta anos / Não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros /O professor - Pasquale - tem mais de trinta conselhos / Mas ele tem mais de trinta, oh mais de trinta / Oh mais de trinta, oh mais de trinta".

Foram retrucados por Miltinho em versos de Luiz Antônio: "...No meu olhar, na minha voz / Um novo mundo, sinta! / É bom sonhar, sonhemos nós / Eu e você, Mulher de Trinta / Amanhã, sempre vem! / E o amanhã pode trazer alguém!"

O sol, saiu tímido através da Cumulus. Ensaiou um breve malabarismo nas encostas das montanhas arariboianas, tingiu o céu em tons magenta-alaranjados-doirados e se recolheu.

Não se sabe ao certo se por tantos descalabros que tem assistido, encimado no éter, ou se envergonhado com a beleza sutil e discreta, um breve sussurrar, tão bom perfume da mulher de trinta, de quarenta, de cinquenta, de sessenta...

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.