Por: Carlos Monteiro | Textos e fotos

Direto da redação

FotoCrônica 16/2/2024 | Foto: Carlos Monteiro

As redações não são mais românticas. Perderam um certo élan. Lembro da minha primeira vez, a gente nunca esquece. Eu tinha 16 anos, cheguei ao prédio, cor-de-rosa, da rua Tenente Possolo, centro do Rio, para me apresentar ao editor-geral do Jornal dos Spots, Duarte Gralheiro. Tinha sido indicado por um tio, vascaíno doente, de quem era amigo e frequentava os fartos almoços na casa do 'Almirante Paiva', na rua da Glória em bairro homônimo.

Era conhecido, o almoço, como 'Pensão do Almirante Paiva' e recebia ilustres convivas, do mundo esportivo, jornalistas, intelectuais e afins — desde que torcessem pelo Cruzmaltino da Colina — todas às quartas. Era um evento disputadíssimo. Passavam à tarde comendo bacalhau, preparado com extrema destreza e carinho, pela Dona Maria e bebendo vinho alentejano. A conversa girava sempre, claro, em torno de futebol. Mais precisamente sobre o Vasco da Gama, aliás, qualquer comentário sobre outro time que não fosse o cruzmaltino, era imediatamente rechaçado pelo dono da casa com veementes "Aqui não!".

Mas esta não é a história.

Pois bem, lá estava eu munido de um texto, que hoje reconheço, estava bem mal escrito, uma prova-contato - espécie de pastinha impressa diretamente dos negativos fotográficos - e minha inseparável Pentax - câmera fotográfica.

Gralheiro olhou tudo atentamente, chamou o editor de futebol dizendo: "pega esse material, que ele trouxe, e ajeita". Chamou o editor de fotografia e disse: "vai dando umas coisas para esse menino fazer". Estava num misto de inebriado e embevecido em meio àquela sinfonia de 'teclares' das 'Remingtons'. Eu, ali diante de tantas feras... olhei para um canto e lá estava ele; Nelson Rodrigues. Assisti, in loco, algumas discussões acaloradas em relação ao Fluminense daquele tricolor inveterado.

Tempos depois, estava na redação de O Cruzeiro. Rua da Lapa, 170, sobreloja. Não era um grande 'galpão', o ritmo era menos acelerado, pois era semanária, mas os personagens eram fantásticos. Saudades da minha incrível parceira, Rosana Dorfman. Fomos contratados pelo Beti, para editoria social. Fizemos matérias incríveis.

Saudades dos longos papos com o fotógrafo Rubens Américo, das molecagens que fazíamos com o, também fotógrafo, Airton Quaresma, contando histórias das fotos que ele não fez. Tudo pura brincadeira. Uma delas dava conta que, numa pauta sobre paraquedismo, indo fazê-la no Campo dos Afonsos, o paraquedas não havia aberto e, o paraquedista, havia se estatelado no chão. Indignado, voltou a redação blasfemando toda sorte de impropérios, pois havia se deslocado, em meio a um verão de quarenta graus carioca, para fazer uma foto de paraquedista, mas, o 'bicho' como dizia, não abriu. Questionado se fez a sequência, se limitou a dizer que a matéria era sobre paraquedismo e não sobre paraquedas que não abriam. Essas e outras histórias inventadas pelo Américo, eram maliciosamente confirmadas pelo Fernando Seixas, editor de fotografia, o que não dava margem para o 'pobre' Quaresma se defender.

Saudades dos sanduíches de presunto com queijo em pão dormido, nas madrugadas de plantão em que ficávamos disputando porrinha, do botequim 24 horas, no térreo do prédio. Tudo isso acompanhado por uma gemada de Caracu.

Saudades das 'investigativas' que passávamos três, quatro meses apurando e fotografando. Saudades do 'seboso' junto à central telefônica de incríveis três ramais, na maioria das vezes ocupados.

Havia um frenesi constante no ar.

Era romântico.

 

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