Por Taciana Oliveira*
Para Carlos Monteiro fotografar é uma dádiva poderosa. Seu mais recente trabalho vai muito além da preservação e exploração da memória. Ele transcende o tempo e permite criar uma conexão emocional com o passado, tornando-se fonte para percepções artísticas e sensoriais.
"São Francisco Xavier — Necrópole do Rio" apresenta-se como um ensaio poético fotográfico sobre a arte tumular, gênero com uma ampla variedade de estilos que refletem a pluralidade cultural e histórica de diferentes sociedades ao longo dos anos. A obra "resgata" beleza a um espaço dedicado à ausência e à dor.
A fotografia preto e branco de Carlos se caracteriza pela beleza da composição cinematográfica, onde o equilíbrio do contraste se revela na delicadeza da concepção final da cena. O fotógrafo desafia suas lentes e nos oferece uma seleção de imagens que ressignificam a morte. São fotografias de uma intensidade dolorosamente pungente que não abandonam, mas sim potencializam a estética do artista tumular ao criar laços entre o cenário e o espectador/leitor.
Ao abolir as cores, ele captura a essência do que vê e nos brinda com uma narrativa visual harmônica e desafiadora. A fotógrafa americana Dorothea Lange, afirmava: "A câmara é um instrumento que ensina a gente a ver sem câmara". Tenho certeza de que Carlos Monteiro sabe bem disso, ele enxerga longe. E a nós, profissionais e amantes da fotografia, só nos resta agradecer e aplaudir.
*Cineasta e comunicóloga. Dirigiu o documentário Clarice Lispector
— A Descoberta do Mundo e foi
convidada pelo cronista