Bonecas que libertam

Artesanato ancestral das mulheres do Quilombo São José da Serra, de Valença, ganha exposição inédita no Rio

Por Affonso Nunes

O conjunto de bonecas feitas com palha de milho e bucha representa não só um saber ancestral, mas também uma fonte de renda e resistência para as mulheres da comunidade, situada na região do Vale do Café

Pela primeira vez, o Quilombo São José da Serra leva sua produção artesanal ao Rio de Janeiro. Localizado no distrito de Santa Isabel, em Valença, o mais antigo quilombo do estado inaugura nesta quinta-feira (22) a exposição "Bonecas que contam histórias - Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra" na Sala do Artista Popular do Museu de Folclore Edison Carneiro, no Catete.

O conjunto de bonecas feitas com palha de milho e bucha é mais do que um saber ancestral: é fonte de renda e resistência para as mulheres da comunidade situada na região do Vale do Café. A abertura será marcada por uma roda de jongo, tradição que atrai visitantes ao quilombo e reafirma sua identidade cultural. As peças expostas estarão à venda.

A iniciativa celebra os dez anos da titulação da terra pelo Incra ao Quilombo São José da Serra. Com mais de 150 anos de história, a comunidade teve na artesã Terezinha do Nascimento Fernandes, a Tia Tetê (1944-2023), uma de suas maiores referências. Foi ela quem aprendeu e depois transmitiu a técnica de confecção das bonecas. Com o apoio da ONG Artesol e do Ministério do Turismo, Tia Tetê formou outras artesãs, consolidando o saber como bem coletivo.

Tia Tetê também foi uma importante liderança espiritual e política. Dirigiu a Tenda Espírita São Jorge Guerreiro e Caboclo Rompe Mato, fundada por sua mãe, e integrou a luta pelo reconhecimento territorial e contra o racismo estrutural. Para a atual coordenadora das ações, Luciene Valença, o trabalho coletivo com o artesanato fortalece os vínculos comunitários: "As mulheres do quilombo fazem coisas incríveis. Isso ajuda não só financeiramente, mas também nos une, permite trocas de ideias, opiniões sobre as técnicas. É muito bom para a gente".

SERVIÇO

BONECAS DE MEMÓRIA E TRADIÇÃO, DE LUTA E CELEBRAÇÃO, DE RAÍZES E IDENTIDADE

Museu de Folclore Edison Carneiro (Rua do Catete, 179)

22/5, às 17h, de terça a sexta (11h às 18h), sábados, domingos e feriados (15h às 18h) | Entrada franca