Por:

Dalal Achcar: 'O coreógrafo precisa ser conhecido além da própria companhia'

Dalal Achcar destaca que o intercâmbio entre companhias é muito comum na Europa | Foto: Divulgação

O Theatro Municipal de Niterói vai receber de quinta a sábado (28 a 30) dois espetáculos de dança: "Macabéa", da coreógrafa e primeira bailarina do Ballet do Theatro Municipal, Marcia Jaqueline; e "Sem Você", do coreógrafo e maitre ballet Eric Frederic. Os dois espetáceulos foram montados sob encomenda para a Companhia de Ballet Dalal Achcar.

Focando na parceria com novos coreógrafos, Dalal Achcar, grande dama da dança no Brasil, pretende trazer frescor e um ar mais plural para o mercado do ballet no Brasil.

A verterana ressalta ainda a relevância do intercâmbio entre as companhias, muito comum na Europa. "É importante para firmar a força da dança. O coreógrafo precisa ser conhecido além da própria companhia. O processo de criação é uma troca", pontua Dalal.

Dalal destaca ainda a importância de se apresentar na cidade sorriso. "Niterói é a cidade berço do balé no Estado do Rio. A cidade com mais escolas de balé no Brasil é Niterói, que tem uma tradição cultural. E o Theatro Municipal de Niterói é uma jóia. E ir para Niterói é um marco para todas as companhias de dança e para a nossa também", explica.

Com mais de meio século de trajetória artística, Dalal é a responsável pelo lançamento dos maiores bailarinos brasileiros no mercado nacional e internacional, como Marcelo Gomes (American Ballet Theatre New York), Ana Botafogo (primeira bailarina do Theatro Municipal), entre muitos outros.

Dalal tem o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro marcado em sua carreira: foi diretora do Ballet e duas vezes presidente da Fundação Theatro Municipal. Além disso, conviveu e trabalhou com os maiores nomes da cultura brasileira, dentre eles, Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira que escreveram um balé especialmente para a coreógrafa. Di Cavalcanti e Burle Marx fizeram cenários e figurinos de alguns de seus espetáculos. Tom Jobim compôs uma canção para ela, que continua inédita. "O Tom fez uma música orquestrada pelo maestro Radamés Gnatalli, que guardo em meus arquivos", revela. Margot Fonteyn, falecida em 1991 e principal estrela do Royal Ballet, foi madrinha profissional de Dalal, que começou a dançar aos 15 anos.

Dalal coreografou o ballet "O Quebra Nozes", considerado pela revista NewsWeek a mais bela produção entre centenas de outras, e uma tradição anual de mais de 30 anos no Municipal, além de "A Floresta Amazônica", um marco brasileiro criado para Margot Fonteyn, o ballet "Dom Quixote", com o qual recebeu vários prêmios.

Continua na página seguinte

 

Duas novas obras para o repertório de ballet

'Sem Você' tem coreografia assinada por Éric Frédéric | Foto: Pedro Ivo de Oliveira/Divulgação

Em "Macabéa", Márcia Jaqueline, que atua como coreógrafa em um espetáculo da Cia de Ballet Dalal Achcar pela primeira vez, preferiu contar uma história que já existia nos livros, mas qu nunca tinha sido traduzida para o ballet. Ao ler a obra de Clarice Lispector, começou a imaginar os passos de dança para caracterizar cada personagem. E na seleção de músicas para o repertório, encontrou identificação imediata com as músicas de Heitor Villa-Lobos.

"Queria representar nossa gente e dar destaque à empatia, ao olhar para o próximo. Macabéa é uma nordestina que passa por situações de indiferença na vida", explica a estreante coreógrafa.

Márcia se tornou a primeira bailarina do Theatro Municipal em 2007 e, após trilhar uma carreira internacional, ingressou em 2021 na companhia de Dalal Achcar. Foi a própria diretora que lançou o desafio para Márcia começar a "nova profissão". "Nunca havia cogitado coreografar um espetáculo, mas estou adorando fazer e já tenho vontade de criar novos trabalhos. É gratificante ver o que era uma ideia indo para o corpo dos bailarinos", revela.

"A obra de Clarisse Lispector marcou a minha vida e dela tirei a inspiração para realizar o meu primeiro trabalho coreográfico. Através dele quero falar de algo que chama muito a minha atenção em nossa sociedade: a indiferença", comenta Márcia, que ingressou ao corpo de baile do Theatro Municipal aos 14 anos, e em 2007 foi promovida a Primeira Bailarina, passando a dançar os papéis principais em todos os espetáculos apresentados pela companhia. Devido a sua versatilidade e capacidade artística, recebeu convites para dançar nos mais importantes teatros da América Latina. Dançou também como convidada em importantes Galas como Festival de Miami (EUA) e Gala das Estrelas em Creta (Grécia).

As maneiras de amar

O coreógrafo belga Éric Frédéric, responsável por "Sem Você", ressalta que a intenção com o espetáculo é a de mostrar as muitas maneiras de se amar e os diferentes amores na vida. "Este ballet fala muito do amor, de todos os tipos: amor por alguém com quem você divide a vida, amor pelos amigos, amor em viver, amor pelo que já se foi, amor nos encontros e desencontros e de todas as cores, sem preconceito. Se você não ama, não vive. Em toda a coreografia, percebemos esse sentimento forte em cena", conta.

Ele ressalta ainda que a intenção com o espetáculo é a de mostrar as muitas maneiras de se amar e os diferentes amores na vida. "Este ballet fala muito do amor, de todos os tipos: amor por alguém com quem você divide a vida, amor pelos amigos, amor em viver, amor pelo que já se foi, amor nos encontros e desencontros e de todas as cores, sem preconceito. Se você não ama, não vive. Em toda a coreografia, percebemos esse sentimento forte em cena", adianta.

Ao escolher fazer um espetáculo de ballet, ele costuma observar as pessoas ao redor e com quem encontra no dia-a-dia, como no metrô, por exemplo. "Cada um de nós traz uma história e para mim é muito inspirador. Quase todos os meus ballets com a companhia da Dalal foram feitos de uma maneira simples, valorizando as coisas da vida, o que nos traz felicidade, justiça e até os desastres. A trilha musical para mim também é sempre muito importante, ela me faz vibrar, me faz viver, sentir que estou vivo. A escolha do repertório de 'Sem Você' foi assim, uma emoção", afirma Éric, que já criou mais de 25 obras para a companhia, desde 2009.

Éric Frédéric recebeu sua formação como bailarino principal na escola da Ópera Real da Valônia, na Bélgica, e simultaneamente estudou percussão na Gretry Academy, em Liège.

Em seus 22 anos de carreira, passando por 3 companhias de prestígio e excelência na Europa, ele dançou as obras, clássicas e contemporâneas, de grandes coreógrafos. Como bailarino, Eric recebeu o prémio Maurice Desteney, e foi finalista do concurso internacional de Varna na Bulgária.

Como coreógrafo, Éric criou três peças para o Ballet do Theatro Municipal, 21 para a Cia Jovem de Ballet do RJ e Cia de Ballet Dalal Achcar e a convite do Ballet do Teatro Colón, de Buenos Aires, cria duas coreografias para o seu repertório.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.