'Nunca fui tão abordado nas ruas por causa de um trabalho', diz Rodrigo Santoro

Rodrigo Santoro em entrevista exclusiva para o Correio da Manhã afirma que '2025 foi um ano emblemático em sua carreira e que teve sua confirmação de uma longa relação com o cinema independente brasileiro. Confira a entrevista

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O pescador Crisóstomo, de 'O Filho de Mil Homens', é um dos personagens de maior destaque da carreira de Rodrigo Santoro

Rodrigo Fonseca Especial para o Correio da Manhã

A caminho de novas telas com o longa-metragem inédito de Fernando Meirelles, chamado "A Corrida dos Bichos", e também com o thriller anglo-saxônico "3 Horas para Viver", ao lado de Alan Ritchson, o petropolitano Rodrigo Santoro atravessou águas consagradoras no curso deste 2025 que chega ao fim.

Começou a brilhar em fevereiro, à luz das vitórias de "O Último Azul", de Gabriel Mascaro, na Berlinale, onde essa distopia pelas matas amazônicas conquistou o Grande Prêmio do Júri. Na sequência, em agosto, a produção foi projetada na abertura do Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul, de onde Santoro saiu com um troféu honorário, o Kikito de Cristal. A honraria coincidiu com a comemoração de seus 50 anos. Aí, na reta final de outubro, a Mostra de São Paulo projetou "O Filho De Mil Homens", lançado em seguida na Netflix, onde é êxito de audiência. É um dos trabalhos mais elogiados dele, segundo o que o astro contou ao Correio da Manhã, numa troca de e-mails. Primeira adaptação de um livro do escritor luso Valter Hugo Mãe, o filme segue a isca e o anzol que Crisóstomo (Santoro), um pescador solitário, joga ao mar, dia após dia, em sua fome de peixe bom e em seu sonho de ter um filho. Sua vida muda quando ele encontra Camilo (Miguel Martines), um menino órfão que decide acolher. Em uma tentativa de fugir de sua própria dor, Isaura (Rebeca Jamir) cruza o caminho dos dois, e, em seguida, Antonino (Johnny Massaro), um jovem incompreendido, também se conecta com eles. Juntos, esses quatro vão aprender qual é o significado da palavra "família" e qual é o propósito de compartilhar a vida. A direção é de Daniel Rezende, o montador de "Cidade de Deus" (2002).

Nesta conversa, Santoro faz um balanço de sua maturidade, vetorizada pelo prestígio em tela grande, que começou em 2000, com "Bicho de Sete Cabeças", e cresceu mundo afora depois de seu desempenho como o imperador persa Xerxes em "300" (2007).

Marcos Serra Lima/Netflix - O pescador Crisóstomo, de 'O Filho de Mil Homens', é um dos personagens de maior destaque da carreira de Rodrigo Santoro

O que o texto do Valter Hugo Mãe traz de fascinante e de que forma o Daniel Rezende ampliou as belezas que estão no livro?

Rodrigo Santoro - A escrita de Valter Hugo mãe é fascinante, pois além de toda a poesia que permeia a obra, as personagens envolvem o leitor à medida que vão se revelando. Adaptar este livro para o cinema parecia uma tarefa impossível. Acho que o Daniel fez um grande trabalho incorporando a essência do livro, das personagens e traduzindo a poesia do Walter pra tela.

Como foi o processo com Daniel?

Já tínhamos trabalhado juntos, em "Turma da Mônica - Laços" e, desde então, nós procurávamos algo pra trabalhar juntos novamente. Daniel foi um grande parceiro, desde o processo de preparação quando trabalhamos juntos no roteiro até o último dia de filmagem. Sempre é sensível, generoso e aberto. Foi um grande prazer mergulhar com ele nessa história.

De que maneira esse filme ajuda o Brasil a repensar o aspecto da paternidade? Como você define seu personagem à luz da afetividade?

Em primeiro lugar, o Crisóstomo é uma expressão do masculino completamente diferente do que estamos acostumados a ver nos filmes e na vida. Um homem que não tem medo de expressar suas fragilidades e emoções. Ele aprende a ser pai a partir do afeto e respeito profundo que tem em relação ao seu filho. Crisóstomo é feito de afeto, de empatia genuína, é um homem que olha com olhos de quem realmente quer ver o outro.

Edison Vara/Ag.Pressphoto - Festival de Cinema de Gramado - Homenageado Kikito de Cristal, ator Rodrigo Santoro

2025 foi mágico para você, com o êxito de "O Último Azul" pelo mundo, com o Kikito de Cristal, com "O Filho de Mil Homens". Que saldo você tira do ano e o que esperar para 2026?

Sem dúvida 2025 é um ano emblemático pra mim. Além disso, completei 50 anos. Não deixa de ser muito simbólico tudo isso. Teve a confirmação da minha longa relação com o cinema independente brasileiro. Teve o reconhecimento em Gramado por uma longa estrada, marcada por muito suor e trabalho. E teve "O Filho de Mil Homens", que eu considero um filme que desafia os algoritmos, que atravessa o espectador de uma forma absolutamente singular. Nunca fui tão abordado nas ruas por causa de um trabalho. Quanto a 2026... que o ano novo venha! Meu desejo é ter a saúde forte e seguir amadurecendo com coragem, para ir encontrando a melhor versão que eu posso ser em todos os sentidos.