Zootopia: essa cidade ainda é o bicho!
Segunda parte da animação chega aos cinemas nesta quinta com história policial sobre gentrificação para as crianças
Lançado em 2016, "Zootopia: Essa Cidade é o Bicho" foi uma das poucas animações originais da Walt Disney Animation Studios, sem integrar a franquia das princesas, que foi um sucesso absoluto nesses últimos 10 anos. Vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação e tendo arrecadado mais de 1 bilhão de dólares em bilheteria, esse filmaço conquistou crianças e adultos com uma trama social disfarçada de aventura policial.
Na trama do original, uma policial coelha conta com a ajuda de uma raposa das ruas para investigar o desaparecimento de uma lontra em Zootopia, uma cidade habitada apenas por animais antropomórficos. Durante as investigações, eles descobrem um plano que procura vilanizar todos os predadores que coabitam a cidade com os herbívoros.
Com essa trama, a equipe da Disney abordou de forma explícita os problemas dos preconceitos de classe, cor e gênero, que existem até mesmo em cidades consideradas perfeitas. E isso só foi possível porque a coelha Judy Hopps e a raposa Nick Wilde são protagonistas simplesmente apaixonantes.
Nesta quinta (27), quase uma década depois, "Zootopia 2" chega aos cinemas para uma aventura tão grandiosa quanto a original. Dessa vez, Judy e Nick estão de volta à cidade para acompanharem um novo caso, ainda mais misterioso, que envolve o roubo de um documento histórico, a aparição da primeira cobra de Zootopia em 100 anos e um plano obscuro que visa promover o apagamento histórico de toda uma classe animal desse mundo.
O primeiro filme foi dirigido por Jared Bush, Byron Howard e Rich Moore. Dessa trinca, apenas Moore não retornou para a sequência. Ou seja, é uma continuação escrita e dirigida por praticamente todos que ajudaram a criar esse mundo, e isso reflete na manutenção do tom do original neste longa.
Ele preserva aquele senso de humor característico, enquanto aprofunda em temas complexos para a criançada, como especulação imobiliária, gentrificação de centros urbanos, manipulação política e apagamento histórico de etnias. É algo tão profundo, mas abordado de maneira tão simples que até mesmo as crianças mais novinhas vão entender, enquanto os adultos vão se surpreender com as temáticas inseridas aqui.
Claro que o preconceito é outro assunto recorrente aqui. Dessa vez, porém, o foco é mais no preconceito de classe. É um embate de membros da alta sociedade que se acham superiores contra cidadãos comuns que querem apenas aquilo que é de direito.
Junto a isso, Nick e Judy (vividos no Brasil por Rodrigo Lombardi e Monica Iozzi, respectivamente) retornam com sua relação no centro de tudo. Eles são apenas companheiros de trabalho? São amigos? São algo mais que amigos? Eles enfrentam um estágio muito complexo de relacionamento, precisando encontrar formas para se expressarem sem machucarem um ao outro, enquanto investigam o caso mais difícil de sua breve carreira. E mesmo com esses embates, a dupla segue extremamente carismática e encantadora.
Outro ponto sensacional é a expansão desse universo riquíssimo criado em 2016. Parte central da trama são os painéis climáticos que permitem que animais de diferentes habitats convivam na mesma cidade. Com a dupla explorando novos distritos, a equipe criativa pôde trazer e adaptar novos animais para essa realidade antropomórfica, permitindo que eles encontrassem jeitos engraçados para os personagens andarem, se comportarem e até mesmo se locomoverem. Destaque especial para uma sequência ambientada em um bairro portuário, que traz barquinhos e grandes embarcações coexistindo para as diferentes espécies, assim como bares adaptados para golfinhos e tartarugas, por exemplo. São centenas de piadas visuais simplesmente fantásticas acontecendo a cada esquina.
Diante de tantas sequências desnecessárias e adaptações em live-action que a Disney vem lançando, "Zootopia 2" é como um sopro de ar fresco, apostando na originalidade e nas possibilidades infinitas de brincar com essa cidade animal e como nossos problemas de humano se refletem em meio aos bichos. É uma aventura perfeita para crianças e adultos, que vai encantar pelas cores, divertir com o carisma dos protagonistas e emocionar com a profundidade e honestidade deles. Um filme tão espetacular quanto seu antecessor e que promete não ser o último da saga.
