Diretor diz que 'Springsteen: Salve-me do Desconhecido' foi "a experiência criativa mais profunda" de sua vida

Scott Cooper fala ao Correio sobre a jornada emocional do longa sobre The Boss

Por Pedro Sobreiro

Jeremy Allen White recebe orientações do diretor Scott Cooper para dar vida a Bruce Springsteen

A vida de Bruce Springsteen teria capítulos demais para ser completamente adaptada para os cinemas. Em entrevista ao Correio da Manhã, o diretor do filme, Scott Cooper, revelou que a ideia do longa não era tentar resumir alguém em duas horas, mas tentar contar de forma honrosa um capítulo marcante e fundamental para a trajetória do artista enquanto ser humano.

"Na verdade, o filme fala sobre um jovem músico que está prestes a se tornar um astro internacional, que luta para conciliar as pressões do sucesso com os fantasmas de sua infância. Foi nesse recorte específico que 'Nebraska' foi produzido, marcando um momento crucial na vida de Bruce e sendo considerado um de seus trabalhos mais pessoais e intensos. Focar nesse momento específico da vida de Bruce foi o que me atraiu. Não sei se duas horas são tempo suficiente para retratar a vida inteira de alguém, certamente não a de Bruce Springsteen. Então, desde o início, vi este filme como algo mais sereno e introspectivo", explicou.

"Então, para mim, [o filme] nunca foi sobre contar toda a história de Bruce Springsteen. Tratava-se de homenagear um momento específico e a quietude, a busca e a honestidade emocional que aquele disco e aquela época significaram para mim muito antes deste projeto sequer existir. Poder focar apenas nisso foi incrivelmente libertador e emocionante para mim. Eu sabia que precisava buscar o máximo de autenticidade possível, e foi por isso que filmamos em Nova Jersey, em todos esses lugares onde Bruce viveu, tanto que é lá que ele mora até hoje. Autenticidade sempre foi minha estrela-guia nesse filme", completou Scott.

E quem dá vida a Bruce Springsteen é Jeremy Allen White, astro de 'O Urso', uma das séries mais assistidas do momento. Para Scott, a escolha pelo ator se deu por ele estar vivendo um momento de vida similar ao de Bruce no recorte do filme.

"Curiosamente, Jeremy Allen White está nesse mesmo estágio de carreira que Bruce Springsteen estava em 1981/82. Ou seja, ele está virando um astro mundial. 'O Urso' levou Jeremy a patamares que eu acho que nem ele mesmo esperava. E, para mim, Jeremy é um dos melhores atores de sua geração. Ele incorpora uma mistura convincente de intensidade, vulnerabilidade e autenticidade que achei que combinaria perfeitamente com este papel. Sem contar que ele é muito parecido fisicamente com o Bruce daquela época, tanto que a esposa de Bruce até disse: 'Nossa, ele se parece muito com o Bruce quando o conheci'", revelou.

Outro ponto interessante dos bastidores da produção é que, como os personagens principais ainda estão vivos, suas versões reais participaram do projeto criativo e ajudaram o elenco a entendê-los naquele momento específico da vida.

"As visitas de Bruce [Springsteen] e Jon [Landau] eram incríveis. Ver Jeremy Allen White e Bruce Springsteen e Jeremy Strong e Jon Landau juntos era um daqueles momento de 'me belisca para ver se estou sonhando', sabe? Ver esses atores interpretando tão lindamente esses dois homens tão complexos, com carreiras tão longas e históricas foi fantástico! E todos se deram muito bem. Bruce e Jeremy tiveram sua relação fora do filme, permitindo que Jeremy perguntasse a Bruce sobre todos esses momentos específicos. E tanto Jon Landau quanto Jeremy Strong tiveram um relacionamento muito próximo durante a preparação e as filmagens", disse.

"Ter Bruce e Jon, duas lendas da música, tão abertos e emocionalmente generosos e vulneráveis conosco... Eu não poderia ter pedido uma experiência melhor. Foi de uma riqueza indescritível", refletiu.

E apesar de ser um filme que dialoga com a música de forma tão profunda, "Springsteen: Salve-me do Desconhecido" traz mais momentos de criação do que de cantoria dos hits finalizados. Para o diretor, isso se deve à troca sincera que esses momentos renderam, fazendo com que a emoção fosse sempre real.

"Este é um filme de contrastes musicais. Temos a vida interna, tranquila e intensa de "Nebraska", gravada no quarto de Bruce com violão, glockenspiel e gaita, em contraste com as apresentações de Bruce no The Stone Pony, para onde ele vai quando precisa de um alívio 'do expediente', dos holofotes. Eu queria que essa música, em contraste com a tranquilidade de 'Nebraska', soasse crua e intransigente. Eu queria que a música soasse estimulante e perigosa ao longo do filme", disse.

Ele também contou qual sua sequência favorita, revelando que ela envolveu uma tragédia pessoal traumatizante.

"Jeremy Allen White cantando 'Born to Run' no final da River Tour, em 1981, em Cincinnati, foi de arrepiar. Quando estávamos gravando essa sequência do show, descobri que minha casa havia sido destruída nos incêndios de Los Angeles. Assim que soube que minha família estava segura — Bruce os havia levado para sua casa em Los Angeles —, precisei desligar o celular e me concentrar na cena. E então ver Jeremy cantar 'Born in the USA' pela primeira vez na Power Station, no exato lugar em que Bruce cantou em 1982... Quer dizer, foi a experiência criativa mais profunda da minha vida. Foi essa mistura única de perder tudo na minha vida, mas ganhar tanto em troca", afirmou.

Springsteen: Salve-me do Desconhecido estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas brasileiros.