Park Chan-wook não te dá escolha: veja!
Mostra de SP exibe a partir desta quinta 'No Other Choice', filme mais recente do diretor que ajudou a fazer do cinema sul-coreano uma indústria tipo exportação
Mostra de SP exibe a partir desta quinta 'No Other Choice', filme mais recente do diretor que ajudou a fazer do cinema sul-coreano uma indústria tipo exportação
Apelidado com o rótulo de "o 'Parasita' dos anos 2020" em sua passagem pelo Festival de Veneza, o thriller "No Other Choice" ("Eojjeolsuga Eobsda") - escolhido pela Coreia do Sul para ser seu representante oficial na busca por um Oscar - eleva o cacife do diretor Park Chan-wook no Panteão dos cineastas autorais da atualidade. No domingo, o Festival de Sitges, na Espanha, considerado um paraíso para narrativas de suspense e filmes de fantasias, deu a ele o prêmio de Melhor Direção. Nesta quinta-feira, a produção de US$ 12,2 milhões estreia na Mostra de São Paulo e se habilita à láurea de júri popular e à láurea da crítica. Sua sessão inaugural vai ser na Sala Petrobras da Cinemateca, 18h30.
Responsável por redesenhar a relevância de seu país no audiovisual, à força do sucesso de "OldBoy" (cult de 2004, hoje na grade da MUBI), o cineasta regressa ao écran três anos depois do sucesso de "Decisão de Partir", que lhe rendeu a láurea de Melhor Direção em Cannes, e um ano depois do trabalho conjunto com o diretor paulista Fernando Meirelles na minissérie "O Simpatizante", na grade da MAX. A trama de seu novo projeto - desempregado passa a matar seus rivais na disputa por uma vaga de emprego - é derivada do romance "The Ax" (1997), de Donald Edwin Westlake (1922-2008), filmada antes pelo franco-grego Costa-Gravas, em 2005, com o título "O Corte".
O protagonista de "No Other Choice", Man-su (Lee Byung-hun), um especialista em fabricação de papel com 25 anos de experiência, leva uma vida tão plena que pode dizer a si mesmo, com convicção: "Tenho tudo o que preciso". Ao lado da esposa Miri, dos dois filhos e de seus cães, vive dias felizes, até ser surpreendido pela notícia de que foi demitido. O choque é devastador, mas, ainda assim, Man-su promete a si mesmo que encontrará um novo emprego em três meses pelo bem da família. Porém, a realidade se revela bem mais complicada. Apesar da determinação, ele passa mais de um ano pulando de entrevista em entrevista e se sustentando com um trabalho no comércio. Em pouco tempo, começa a correr o risco de perder a casa pela qual tanto lutou. No desespero, aparece de surpresa na Moon Paper para entregar seu currículo, mas acaba humilhado pelo gerente de linha Sun-chul. Convencido de que é mais qualificado do que qualquer candidato para trabalhar na empresa, Man-su toma uma decisão drástica: "Se não existe uma vaga para mim, vou ter que criá-la".
Sucesso de bilheteria em telas sul-coreanas, a produção já faturou US$ 19 milhões em sua pátria, cuja filmografia foi Chan-wook que consagrou. Com raras exceções, como "Shiri - Missão Terrorista" (1999), de Kang Je-kyu, e "A Ilha" (2000), de Kim Ki-Duk (1960-2020), pouco se notava a Coreia do Sul no planisfério das imagens em movimento até "Oldboy" chagar, 21 anos atrás, conquistando o Grande Prêmio do Júri de Cannes, dado por Quentin Tarantino. Ele "chegou chegando", ao rasgar os puderes morais e os preconceitos inerentes à representação do Oriente (por si mesmo) nas telas, consagrando seu realizador, Chan-wook, nascido em 23 de agosto de 1963. Depois, veio "O Hospedeiro" (2006), que catapultou Bong Joon Ho, realizador de "Parasita", ao estrelato.
Muito do que se vê hoje da estética noir dos longas policiais feitos naquela nação (como "Tempo de Matar", hit da Netflix) veio de Chan-wook, que abriu terreno para que narrativas violentas como a série "Round 6" pudessem ser viabilizadas e comercializadas em âmbito global.
"Tenho uma relação muito forte com a palavra, pela literatura e, talvez, ela seja a responsável pelos trilhos narrativos que eu tento oferecer ao cinema: a trilha da imaginação, que se liberta nos livros, mas pode também nos libertar pela imagem", disse Chan-Wook ao Correio da Manhã, na Croisette, quando foi laureado por "Decisão de Partir".
A Mostra de São Paulo, que segue até o dia 30, exibe "No Other Choice" mais duas vezes: tem sessão neste sábado, às 16h30, no Sato Cinema, e no dia 29, às 12h, no Cultura Artística.