Park Chan-wook não te dá escolha: veja!

Mostra de SP exibe a partir desta quinta 'No Other Choice', filme mais recente do diretor que ajudou a fazer do cinema sul-coreano uma indústria tipo exportação

Por Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

'No Other Choice', de Park Chan-wook, será exibido nesta quinta, às 18h30, na Cinemateca Brasileira

Mostra de SP exibe a partir desta quinta 'No Other Choice', filme mais recente do diretor que ajudou a fazer do cinema sul-coreano uma indústria tipo exportação

Apelidado com o rótulo de "o 'Parasita' dos anos 2020" em sua passagem pelo Festival de Veneza, o thriller "No Other Choice" ("Eojjeolsuga Eobsda") - escolhido pela Coreia do Sul para ser seu representante oficial na busca por um Oscar - eleva o cacife do diretor Park Chan-wook no Panteão dos cineastas autorais da atualidade. No domingo, o Festival de Sitges, na Espanha, considerado um paraíso para narrativas de suspense e filmes de fantasias, deu a ele o prêmio de Melhor Direção. Nesta quinta-feira, a produção de US$ 12,2 milhões estreia na Mostra de São Paulo e se habilita à láurea de júri popular e à láurea da crítica. Sua sessão inaugural vai ser na Sala Petrobras da Cinemateca, 18h30.

Responsável por redesenhar a relevância de seu país no audiovisual, à força do sucesso de "OldBoy" (cult de 2004, hoje na grade da MUBI), o cineasta regressa ao écran três anos depois do sucesso de "Decisão de Partir", que lhe rendeu a láurea de Melhor Direção em Cannes, e um ano depois do trabalho conjunto com o diretor paulista Fernando Meirelles na minissérie "O Simpatizante", na grade da MAX. A trama de seu novo projeto - desempregado passa a matar seus rivais na disputa por uma vaga de emprego - é derivada do romance "The Ax" (1997), de Donald Edwin Westlake (1922-2008), filmada antes pelo franco-grego Costa-Gravas, em 2005, com o título "O Corte".

O protagonista de "No Other Choice", Man-su (Lee Byung-hun), um especialista em fabricação de papel com 25 anos de experiência, leva uma vida tão plena que pode dizer a si mesmo, com convicção: "Tenho tudo o que preciso". Ao lado da esposa Miri, dos dois filhos e de seus cães, vive dias felizes, até ser surpreendido pela notícia de que foi demitido. O choque é devastador, mas, ainda assim, Man-su promete a si mesmo que encontrará um novo emprego em três meses pelo bem da família. Porém, a realidade se revela bem mais complicada. Apesar da determinação, ele passa mais de um ano pulando de entrevista em entrevista e se sustentando com um trabalho no comércio. Em pouco tempo, começa a correr o risco de perder a casa pela qual tanto lutou. No desespero, aparece de surpresa na Moon Paper para entregar seu currículo, mas acaba humilhado pelo gerente de linha Sun-chul. Convencido de que é mais qualificado do que qualquer candidato para trabalhar na empresa, Man-su toma uma decisão drástica: "Se não existe uma vaga para mim, vou ter que criá-la".

Sucesso de bilheteria em telas sul-coreanas, a produção já faturou US$ 19 milhões em sua pátria, cuja filmografia foi Chan-wook que consagrou. Com raras exceções, como "Shiri - Missão Terrorista" (1999), de Kang Je-kyu, e "A Ilha" (2000), de Kim Ki-Duk (1960-2020), pouco se notava a Coreia do Sul no planisfério das imagens em movimento até "Oldboy" chagar, 21 anos atrás, conquistando o Grande Prêmio do Júri de Cannes, dado por Quentin Tarantino. Ele "chegou chegando", ao rasgar os puderes morais e os preconceitos inerentes à representação do Oriente (por si mesmo) nas telas, consagrando seu realizador, Chan-wook, nascido em 23 de agosto de 1963. Depois, veio "O Hospedeiro" (2006), que catapultou Bong Joon Ho, realizador de "Parasita", ao estrelato.

Divulgação - Park-Chan-wook, cineasta sul-coreano

Muito do que se vê hoje da estética noir dos longas policiais feitos naquela nação (como "Tempo de Matar", hit da Netflix) veio de Chan-wook, que abriu terreno para que narrativas violentas como a série "Round 6" pudessem ser viabilizadas e comercializadas em âmbito global.

"Tenho uma relação muito forte com a palavra, pela literatura e, talvez, ela seja a responsável pelos trilhos narrativos que eu tento oferecer ao cinema: a trilha da imaginação, que se liberta nos livros, mas pode também nos libertar pela imagem", disse Chan-Wook ao Correio da Manhã, na Croisette, quando foi laureado por "Decisão de Partir".

A Mostra de São Paulo, que segue até o dia 30, exibe "No Other Choice" mais duas vezes: tem sessão neste sábado, às 16h30, no Sato Cinema, e no dia 29, às 12h, no Cultura Artística.