Cinema até a última ponta

Por Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

'A Planta', de Beto Brant. destaca os tratamentos medicinais realizados atrávés de óleos extraídos da cannabis


Entre os 49 filmes de 15 países que prometem fumegar reflexão na programação do Festival Internacional de Cinema Canábico (FICC) – agendado da tarde desta segunda-feira (20) até sexta no Rio de Janeiro –, um longa-metragem brasileiro cairá como um colírio em vistas avermelhadas de inquietação sobre o uso social da maconha: “A Planta”, de Beto Brant. Sua sessão será na quinta, às 16h30, no Centro Cultural da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (COART-Uerj).

Responsável por três implacáveis retratos da violência institucionalizada no país que geraram uma convulsão na crítica e no público nos tempos da Retomada, com “Os Matadores” (1997), “Ação Entre Amigos” (1998) e “O Invasor” (2002), Brant volta às telas como um exercício autoral iluminista de não ficção.

Editado com elegância por Manga Campion, “A Planta” é um filme de respiro, e de coragem. Na narrativa, somos bombardeados – com delicadeza – por uma série de depoimentos de múltiplos personagens, de diferentes perspectivas, todas orbitando o fato de que a cannabis medicinal está aliviando os sintomas de doenças e trazendo uma melhor qualidade de vida. A partir desse caleidoscópio, a narrativa do filme demonstra a influência da planta na vida de pacientes e familiares. Ilustra ainda transformações no atendimento médico e na pesquisa científica. Com essa obra, o diretor Beto Brant agora mostra o debate em torno do assunto no Brasil, pois ele já havia abordado essa discussão no Uruguai, com o documentário “La Planta” (2020), projetado na Mostra de São Paulo.

Nesta quarta, o Festival Internacional de Cinema Canábico (FICC) exibe o documentário “Cheech & Chong's Last Movie” (2025), dirigido por David Bushell. A produção marca a despedida da icônica dupla de comediantes Cheech Marin e Tommy Chong, símbolos da cultura canábica mundial. O filme conduz o público a uma jornada reveladora e bem-humorada pelos mais de cinquenta anos de carreira dos artistas, consagrados como os maconheiros mais famosos do planeta. A sessão do longa será no dia 22, às 21h, no Estação NET Rio. Destacam-se ainda na programação do evento “Os Sonhos de Pepe” (Uruguai), de Pablo Trobo, que aborda a filosofia e as reflexões do ex-presidente José “Pepe” Mujica, e “Verano Trippin” (Argentina), de Morena Fernández Quinteros, que inventaria a contracultura de nuestros hermanos.

Para o produtor-executivo do FICC Rio, Francisco Ferraz, a chegada do festival ao Brasil representa um marco para o circuito audiovisual e para o fortalecimento da produção independente. “A primeira edição do FICC tem o objetivo de estabelecer esse evento no calendário de festivais de cinema do Rio de Janeiro, dialogando com cineastas e artistas do Brasil e do mundo”, destaca Ferraz, no release oficial do evento. Ele acumula 15 anos de experiência em eventos como o Green Nation e o Festival do Rio.

Consolidado após cinco edições em Buenos Aires, quatro em Montevidéu e três no Chile, o FICC chega ao Brasil com a missão de fomentar diálogo entre cinema, cultura e transformação social. Para isso, o evento promove uma série de mesas de debate com especialistas, ativistas e produtores culturais, abordando temas como cinema, cultura, ativismo e educação. A programação formativa incluirá oficinas de produção de conteúdo, criação de fanzines e roteiro audiovisual, além de uma masterclass com o cineasta João Amorim.