O Cine Odeon é a principal sala de exibição do Festival do Rio | Foto: Divulgação
Julia Roberts, Ayo Edebiri, Andrew Garfield, Chloë Sevigny e Michael Stuhlbarg integram a constelação que transforma o filme de abertura do 27° Festival do Rio, o drama "Depois da Caçada" ("After the Hunt"), do italiano Luca Guadagnino (de "Me Chame Pelo Seu Nome") num ímã de aplausos e Oscars numa trama sobre quebra de decoro e meias verdades no ambiente acadêmico. Sua sessão esta noite no Odeon, numa cerimônia apresentada pelo ator Fabrício Boliveira, inaugura uma maratona de projeções, debates, competições e renovações do olhar que trará 298 filmes, de 74 países, para o Brasil. Desse montante, 112 são produções nacionais, incluindo "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, que será representado por seu astro rei: o baiano de Rodelas Wagner Moura. No pacotão nacional, merecem destaque "Sexa", filme de estreia de Gloria Pires na direção; "O Homem de Ouro", de Mauro Lima, sobre o Esquadrão da Morte; "Para Vigo me Voy", comovente documentário de Karen Harley e Lírio Ferreira sobre Cacá Diegues (1940-20125); "Perto do Sol é Mais Claro", que traz Reginaldo Faria em estado de graça; e o longa com tom de vitrola "Anos 90: A Explosão do Pagode", de Emílio Domingos e Rafael Boucinha. As demais 186 atrações vieram de terras estrangeiras e vão mobilizar 25 salas de projeção por todo o nosso território.
Uma Legião estrangeira em telas cariocas
Logo Festival do Rio | Foto: Divulgação
O Correio da Manhã faz a seguir uma lista da safra gringa que vai mexer com o coração de nossa cinefilia.
O Lago da Perdição | Foto: Divulgação
O LAGO DA PERDIÇÃO ("La Virgen De La Tosquera"), de Laura Casabé (Argentina): Num casamento preciso entre crítica social e dispositivos pop das cartilhas do terror, este thriller sobre o clamor do sexo na adolescência foi laureado com o Grande Prêmio da competição nacional do Bafici. Na trama, Natalia, Mariela e Josefina são amigas inseparáveis, loucamente apaixonadas por um amigo de infância. No verão de 2001, em meio a crises econômicas em terras portenhas (e arredores), Silvia, uma moça já adulta, junta-se ao grupo e cativa o rapaz. Desolada, Natalia põe em prática heranças místicas de sua avó, envolvendo feitiços... e cães ferozes. O realizador Benjamín Naishtat (de "Vermelho Sol" e "Puan") colaborou com Laura no roteiro.
Não Mais Sozinha | Foto: Divulgação
MARLEE MATLIN: NÃO MAIS SOZINHA ("Marlee Matlin: Not Alone Anymore"), de Shoshannah Stern (EUA): Radiografia de uma estrela que redefiniu o escopo profissional de PCDs no cinema dos EUA. Em 1987, com apenas 21 anos, Marlee tornou-se a primeira atriz diagnosticada com surdez a ganhar um Oscar. Venceu por sua atuação em "Filhos do Silêncio", de Randa Haines. Catapultada ao centro das atenções, aproveitou o momento para desafiar uma indústria despreparada para lidar com diferenças. Estrelou outro ganhador de Oscars faz pouco: "Coda - No Ritmo do Coração", de 2021.
Vida Privada | Foto: Divulgação
VIDA PRIVADA ("Vie Privée"), de Rebecca Zlotowski (França): Promessa de bilheterias milionária e indicações ao Oscar, este thriller com um sagaz bom humor arranca atuação luminosa de Jodie Foster e apresenta o ex-casal (ou quiçá futuro) mais fofo deste festival, formado por ela e por Daniel Auteuil. A estrela vive uma psiquiatra que suspeita de um possível assassinato envolvendo a morte de uma paciente. Auteuil vive um oftalmologista com quem ela foi casada e os dois têm um benquerer e um tesão ativos. É ele quem vai apoiá-la numa abilolada investigação.
O Olhar Misterioso do Flamingo | Foto: Divulgação
O OLHAR MISTERIOSO DO FLAMINGO ("La Misteriosa Mirada Del Flamenco"), de Diego Céspedes (Chile): Filas gigantes se formaram nas projeções em Cannes e em San Sebastián dessa reconstituição histórica da vida no norte chileno no início dos anos 1980, numa área de mineração na qual um cabaré de mulheres trans e travestis enfrenta o boom da Aids. Tudo é visto pelos olhos de uma menina, Lidia (Tamara Cortes), tratada como filha pela performer Flamenco (Matías Catalán), alvo de transfobia. Na trama, o contágio do HIV é tratado com misticismo, numa crença de que a "peste" se espalha pela troca de olhares. Sua passagem pela Croisette foi recompensada com o Prix Un Certain Regard.
O Riso e a Faca | Foto: Divulgação
O RISO E A FACA, de Pedro Pinho (Portugal): Paisagens da Guiné-Bissau fotografadas pelo cearense Ivo Lopes Araújo se agigantaram poeticamente nesta espécie de "O Céu Que Nos Protege" luso-brasileiro do diretor de "A Fábrica de Nada" (2017). Tem ecos d'África(s), do Brasil e da "terrinha" numa jornada que fala de origens e de futuros possíveis para povos que, unidos por uma língua, precisam superar os ranços do pacto colonial. A trama segue o périplo de um engenheiro europeu (vivido por Sergio Coragem) que caça lastros identitários de uma cultura branca ocidental que se manchou de sangue ao longo de séculos. A atriz cabo-verdiana Cleo Diára foi premiada em Cannes por sua atuação.
A Voz de Hind Rajab | Foto: Divulgação
A VOZ DE HIND RAJAB ("The Voice Of Hind Rajab"), de Kaouther Ben Hania (Tunísia): Apesar da torcida por "O Agente Secreto", as maiores chances de Oscar para um filme de língua não inglesa de 2026 parecem estar com esta produção da cineasta responsável por "As 4 Filhas de Olfa". A partir do áudio original de uma menina palestina que ficou num tiroteio na Faixa de Gaza, em janeiro de 2024, a diretora reconstitui a luta de um grupo de voluntários para tentar resgatá-la. A produção ganhou o Grande Prêmio do Júri em Veneza e o Troféu Cidade de Donostia em San Sebastián.
Couture | Foto: Divulgação
COUTURE, de Alice Winocour (França): Imperfeito, mas imperdível, este painel do mundo da moda, e sua efemeridade, arranca de Angelina Jolie sua interpretação mais comovente. Ela vive uma cineasta que, contratada para filmar a Paris Fashion Week, descobre ter um câncer de mama. Seu conflito pessoal é contatado numa narrativa de painel, centrada em mulheres que buscam sua voz na indústria dos desfiles, entre elas uma jovem modelo de Nairóbi.
Nawi - Querida Eu no Futuro | Foto: Divulgação
NAWI - QUERIDA EU NO FUTURO ("Nawi"), de Vallentine Chelluget, Apuu Mourine e Kevin Schmutzler (Quênia): Festivais na China, na Suécia e nos EUA aplaudiram esta saga antissexista de recusa das tradições patriarcais, com foco num concurso de redação. Sua protagonista pode se tornar um talento das Letras, mas corre o risco de não cursar o ensino médio pois seu pai, Eree, planeja casá-la com um estranho, Shadrack. Nawi se recusa... e reage.
Paraíso Prometido | Foto: Divulgação
PARAÍSO PROMETIDO ("Promis Le Ciel"), de Erige Sehiri (França/ Tunísia): A cineasta franco-tunisiana que deu ao audiovisual uma joia chamada "Debaixo das Figueiras" (2021) volta a encantar plateias com um conto sobre sororidade. Na trama, uma ex-jornalista e pastora da Costa do Marfim transforma sua casa num abrigo informal para mulheres que encaram as asperezas do cotidiano. Uma órfã vai mudar a rotina delas.
Belén | Foto: Divulgação
BELÉN, de Dolores Fonzi (Argentina): Filme mais festejado dos concorrentes à Concha de Ouro de San Sebastián, de onde saiu com a láurea de Melhor Interpretação Coadjuvante para Camila Plaate. A trama decorre em Tucumán, na Argentina, em 2014. Numa noite, uma jovem (Plaate) dá entrada num hospital com fortes dores abdominais, sem saber que está grávida. Acorda algemada à maca e cercada por polícias. É acusada de ter provocado um aborto e, após 24 meses em prisão preventiva, é condenada a oito anos de prisão por homicídio qualificado devido ao vínculo familiar. Uma advogada de Tucumán (interpretada com ardor por Fonzi) lutará pela sua liberdade com o apoio de milhares de mulheres e organizações.
La Grazia | Foto: Divulgação
LA GRAZIA, de Paolo Sorrentino (Itália): Toni Servillo flechou o coração da cinefilia brasileira ao tietar Fernanda Torres, elogiando seu desempenho em "Ainda Estou Aqui", quando recebeu da mão dela a Copa Volpi de Melhor Ator em Veneza por mais uma parceria com o diretor de "A Grande Beleza" (ganhador do Oscar em 2014). Sua atuação aqui transcende sua excelência já habitual. Ele vive um presidente viúvo em fim mandato que precisa decidir sobre a legalização da eutanásia enquanto passa suas angústias em revista.
Justa | Foto: Divulgação
JUSTA, de Teresa Villaverde (Portugal): A diretora de "Colo" (indicada ao Urso de Ouro de 2017) e "Transe" (sensação de Cannes de 2006) volta às telas numa trama ambientada em 2017, em meio a grandes incêndios que destruíram florestas e mataram crianças e adultos, na região das aldeias lusas. A trama acompanha um núcleo pequeno de pessoas que perderam os familiares mais próximos e que agora estão no processo de aprender a viver depois de tudo o que aconteceu. Betty Faria integra seu elenco.
A Ilusão de Yakushima | Foto: Divulgação
A ILUSÃO DE YAKUSHIMA ("Yakushima's Illusion"), de Naomi Kawase (Japão): Um show de atuação da luxemburguesa Vicky Krieps ilumina este longa da diretora de "Esplendor" (2017). Na trama, a francesa Corry, coordenadora de transplantes cardíacos pediátricos, é enviada ao Japão, onde a doação de órgãos continua sendo um tabu. Enquanto luta para salvar um menino, seu parceiro Jin, um fotógrafo de Yakushima, desaparece repentinamente. Ele se torna um "Johatsu", como os japoneses chamam as 80 mil pessoas que desaparecem da noite para o dia a cada ano. Corry enfrenta uma dupla provação: salvar uma criança enquanto lida com a perda do homem que ama.
Fernão de Magalhães | Foto: Divulgação
FERNÃO DE MAGALHÃES ("Magallanes"), de Lav Diaz (Filipinas): O realizador de "A Mulher Que Se Foi" (Leão de Ouro em 2016) recria os últimos meses da vida do explorador português Fernand de Magellan, que morreu nas Filipinas em 1521. O resultado é um retrato íntimo e assustador de um homem confrontado com suas trevas internas. A entrega do ator Gael García Bernal ao papel é um primor.
As Meninas | Foto: Divulgação
AS MENINAS ("Le Bambine"), das irmãs Valentina e Nicole Bertani (Itália): Um dos roteiros mais festejados entre os concorrentes ao Leopardo de Ouro de Locarno. É uma volta a um tempo de crise para a população italiana: 1997. Naquele momento, Linda, de oito anos, foge de uma vila na Suíça pertencente à sua avó rica, onde vive com sua mãe, Eva. Na fuga, ela conhece Azzurra e Marta. Um vínculo de verão une as três meninas em uma gangue formada para proteger umas às outras, sua juventude e sua liberdade. Ao redor delas, pairos pais egoístas perseguindo sonhos frágeis, vizinhos fofoqueiros e uma babá queer em busca de pertencimento em um mundo homofóbico.
O Que A Natureza Te Conta | Foto: Divulgação
O QUE A NATUREZA TE CONTA ("What Does That Nature Say to You"), de Hong Sangsoo (Coreia do Sul): Não se faz um festival de cinema que rastreia autoralidades sem a inclusão do mais prolífico diretor da atualidade. Nesta produção indicada ao Urso de Ouro, o arredio poeta Donghwa leva a namorada, Junhee, para uma viagem de carro de Seul até a casa dos pais dela, nos arredores da localidade de Icheon. Lá, engata-se uma ciranda de conversas regada a álcool, o que joga as máscaras hipócritas de muita gente no chão.