Neta de Francis Ford, Gia Coppola seguiu os passos do avô não apenas na profissão, cineasta, mas também na forma de apostar na independência plena na hora de criar. "Perfect", seu novo projeto, está em gestação, em vias de ter a atriz Millie Bobby Brown (de "Stranger Things") na pele da ginasta americana Kerri Strug, em sua tentativa de superar uma lesão para competir pela medalha de ouro nas Olimpíadas de 1996.
Em meio à depuração do roteiro, a cineasta de 38 anos - filha do produtor Gian-Carlo Coppola (1963-1986) - aceitou a tarefa de integrar o time de juradas e jurados da Concha de Ouro do Festival de San Sebastián, que foi galardoada a "Los Domingos", da espanhola Alauda Ruiz de Azúa, no fim de semana.
Há um laço afetivo especial de Gia com a cidade basca. Há um ano ela saiu de lá consagrada com "A Última Showgirl" ("The Last Showgirl"), que pode ser visto hoje na Prime Video da Amazon. Pamela Anderson estrela a produção, ao lado de Jamie Lee Curtis e Dave Bautista, vivendo uma dançarina de um espetáculo de nudez em Las Vegas. O longa recebeu o prêmio especial do júri no evento ibérico de 2024.
Na entrevista a seguir, a artista que dirigiu longas como "Palo Alto" fala do ônus de ser indie.
De que maneira "The Last Showgirl" mantém viva a linhagem indie do audiovisual dos EUA?
Gia Coppola - Eu filmo desde criança e me cansei do esquema hollywoodiano de ter muitas vozes decidindo seu destino e de me submeter a longas esperas para tudo. Preferi criar um espaço criativo de autonomia. Para fazer cinema do seu jeito, faça pequeno. Fazendo tudo de modo pequenino, com pouca gente, as coisas saem. Eu não tinha uma parafernália digital no set. Era eu, a câmera e um monitorzinho. O mais difícil do trabalho independente é o setor da distribuição, é saber o que fazer com o filme para ele ser visto. Mas eu confio na força da história que filmei e ela encontra seu lugar.
De que maneira você conseguiu que um filme sobre a cultura do espetáculo de Las Vegas tivesse tanta quietude?
Eu venho da fotografia. Sou uma pessoa visual. Nem falando eu uso muitas palavras. A narrativa plástica fala por mim. Neste caso, numa história de uma artista que busca se reconectar com a filha, existe um componente de luta feminina forte, ao falar do descarte das mulheres. Há também o descarte de uma tradição de dança em pauta. A questão da beleza da mulher é um tema discutido na trama, numa sociedade que sucateia valores.
O que Pamela Anderson te trouxe de mais potente em sua atuação, que rendeu a ela uma indicação ao Globo de Ouro?
Foi incrível a forma como ela confiou em mim. Eu ganhei uma amiga para a vida.
Qual foi o filme que te fez amar o cinema?
A descoberta de Godard foi excitante, mas eu não esqueço do impacto que tive ao ver "Zodíaco", de David Fincher.
De que maneira seu retorno a San Sebastián reforça seus laços com o festival que te coroou?
Esta cidade é mágica e o festival aqui é marcado por um processo de apreciação, pela plateia, que demonstra uma pureza rara. Todo mundo aplaude e ninguém levanta nos créditos. Um ponto a mais para eu não esquecer: esse foi o primeiro júri de que participei. Em geral, vou ver os filmes em concurso sem saber nada das tramas. Às vezes, não procurava nem saber o que os títulos dos filmes significavam.