CRÍTICA / FILME / O RETORNO: O 'Game of Thrones' dos mitos
Corações RPGistas hão de acelerar com "O Retorno" ("The Return"), diante da expectativa por batalhas mais grandiosas do que as esboçadas nas partidas de "Dungeons & Dragons" (o mais famoso jogo de personificação). Esses mesmos miocárdios tendem a se frustrar se esperarem mais adrenalina do que conflito existencialista dessa produção derivada das narrativas gregas milenares, via escritos de Homero. O timbre de aventura (e de ação) que costuma existir em abundância nos épicos é servido em doses homeopáticas na dramaturgia filmada por Uberto Pasolini Dall'Onda, sobrinho de Luchino Visconti. Seu maior tesouro é Ralph Fiennes, gigante em cena.
Com o astro em devir aríete, o realizador opta por um estudo (dos mais profundos) de personagem. Um personagem quase sempre limitado ao arquétipo de senhor da guerra: Odisseu, dublado com brilhantismo por Márcio Simões. Fiennes encontra nele camadas que o cinema (e talvez nem a literatura ensaística das universidades) jamais viu. Vemos uma imersão em angústias e vulnerabilidades que verso algum antes valorizou, visto que o cineasta não se encanta pelos feitos heroicos do protagonista, mas, sim, por suas cicatrizes.
A trama começa depois de Odisseu ter ficado distante de seu lar durante 20 anos. Ele volta para Ítaca abatido e irreconhecível. Encontra o reino em desordem plena. Sua esposa Penélope (Juliette Binoche) está cercada por pretendentes gananciosos, que ambicionam tomar o poder. Seu filho Telêmaco enfrenta igualmente ameaças de morte de quem também busca assumir o comando. É hora do troco, mas, nesse momento, os deuses parecem estar alheios à sina da Humanidade. É esse fado, o abandono, que Uberto Pasolini debate, e bem.
