CRÍTICA / FILME / A LONGA MARCHA: CAMINHE OU MORRA: A verdadeira marcha são os amigos no caminho
Longa de Francis Lawrence chega aos cinemas unindo o melhor do drama de Stephen King ao toque distópico de 'Jogos Vorazes'
Inspirado no livro "A Longa Marcha", do mestre do terror Stephen King, esse suspense dramático chega aos cinemas do Brasil sem muito alarde, mas tem tudo para conquistar um público muito amplo. Dirigido por Francis Lawrence (franquia 'Jogos Vorazes') e trazendo um elenco extremamente promissor de Hollywood, "A Longa Marcha - Caminhe ou Morra" é um filme distópico excepcional, daqueles que não se via justamente desde o fim da saga principal de "Jogos Vorazes".
Na trama, os Estados Unidos enfrentaram uma guerra devastadora, cujo principal efeito foi a instauração de um regime autoritário que visa o lucro de poucos, enquanto a maioria da população foi relegada a uma vida miserável.
Nesse contexto, o governo entende que a população americana está enfrentando uma grave epidemia de "preguiça". Então, para incentivar os "vagabundos", eles promovem um torneio anual em que jovens de todo o país se inscrevem para uma caminhada sem fim. As reras são simples: eles são escoltados pelo exército e devem manter um ritmo mínimo de caminhada. Eles não podem parar para dormir, comer ou ir ao banheiro. A cada ordem descumprida, eles recebem uma notificação. Aqueles que descumprem três notificações seguidas são executados. Então, quando só restar um participante, ele será declarado vencedor. O prêmio? Uma quantidade assustadora de dinheiro e um pedido exclusivo que será rigorosamente realizado.
É curioso como a trama do filme é simples. São um grupo de jovens, com sonhos e desilusões, que devem andar até morrer. Ou seja, as chances de fazer uma obra maçante eram enormes. Porém, a direção de Francis Lawrence e o roteiro dinâmico de JT Mollner fazem deste filme um dos longas mais instigantes e interessantes do ano.
A trama é contada pela perspectiva de Ray (Cooper Hoffman) e McVries (David Jonsson), dois jovens completamente diferentes que se conhecem na apresentação para a prova. Ambos divergem nos motivos pelos quais se inscreveram, mas também são fisicamente diferentes. Enquanto McVries é mais atlético e sonhador, Ray tem um físico mais sedentário e traz consigo um amargor ideológico. Em meio a essas diferenças, surge uma grande amizade.
Com essa dupla comandando a história, os percalços da estrada fazem com que os outros meninos se aproximem deles. E aí mora o mérito maior da obra. São garotos com diferentes personalidades, mas essencialmente são vítimas de um sistema opressor. Por mais que estejam nessa situação de vida ou morte, ainda são crianças que sonham com um futuro melhor, que sentem falta de suas namoradas ou de suas famílias, como mães, pais e avós. Brilhantemente, a trama faz com que essas ambições e dramas venham à tona de forma orgânica, criando afeição no público a meninos que serão massacrados. Está nas regras. Um por um, eles morrerão. E após se afeiçoar a eles, o público sentirá cada morte.
E o elenco é um espetáculo. O estreante do ano, Ben Wang (estreou em "Karatê Kid: Lendas"), rouba a cena, enquanto Cooper Hoffman ("Licorice Pizza"), filho de Dustin Hoffman, e David Jonsson ("Alien: Romulus") seguem construindo carreiras sólidas nas telonas. É um elenco que é muito jovem, mas certamente será visto em muitas obras daqui para frente. Fica aquela sensação de que, no futuro, "A Longa Marcha" será visto como uma espécie de "Malhação" de Hollywood, justamente por trazer esses rapazes promissores.
Enfim, para quem não aguenta mais as incontáveis adaptações cinematográficas dos contos de terror de Stephen King, "A Longa Marcha - Caminhe ou Morra" é uma gratíssima surpresa. Ao focar numa construção de personagens sensacional, o longa conquista sem fazer esforço. É a mistura perfeita entre suspense e drama. Um filmaço!
